Das salas de aula à Câmara Legislativa: a trajetória do deputado e professor Leandro Grass

Entrada na vida pública tem relação com sua história de vida, sempre associada ao envolvimento e ao ativismo nas causas sociais, em especial na educação

Giovana Daniela Ribeiro Alves

Postado em 06/05/2022

Eleito em 2018 pela Rede Sustentabilidade, e agora pré-candidato a governador pelo Partido Verde, o deputado explica suas motivações para o ingresso na vida pública e como suas experiências contribuíram para o seu mandato e feitos no Distrito Federal. “A experiência como professor me ajudou muito, porque hoje antes de eu tomar qualquer decisão eu estudo, eu avalio, vejo as diferentes posições e aí eu coloco a minha posição”.

O que te motivou a entrar na política? O senhor considera que o fato de ter cursado Sociologia te deu uma boa base para o desempenho desse seu primeiro mandato?

A minha entrada na vida pública, na política, na disputa eleitoral e hoje estar ocupando um cargo eletivo tem muito a ver com a minha história de vida, primeiramente na educação. Desde a minha adolescência eu sempre me envolvi muito com a educação; ainda quando estudante, aos treze anos de idade, passei a participar da pastoral da juventude estudantil e através dela me inseri em projetos de voluntariado. Também participei de projetos de missão educativa no semiárido nordestino e essa trajetória como ativista começou a despertar em mim o desejo de envolvimento político, com as causas e com esse espaço político institucional. Depois, na universidade foi só aumentando como pesquisador, como participante também do movimento estudantil e do movimento de juniores. Posteriormente como professor sempre pude atuar e experimentar a minha docência atrelada a esse engajamento nos lugares em que eu trabalhei, tentando colaborar pra que os jovens protagonizassem a sua política, através dos grêmios estudantis. Eu fiquei um tempo no exterior, na Espanha, trabalhando com participação social e políticas públicas, assim fui direcionando a minha formação para isso, para trabalhar com gestão pública, e aos poucos fui percebendo que de fato era importante ocupar este lugar e disputar uma eleição, como uma forma de  tentar colocar a serviço da sociedade aquilo que eu acreditava.

Quais eram seus objetivos ao ser eleito deputado distrital em 2018? O senhor considera que eles foram cumpridos?

Meu objetivo primeiramente era fazer algo pela educação e pela agenda ambiental, elas eram as duas causas prioritárias do início do meu mandato e eu vejo que consegui cumprir. Muita gente acha que o deputado só faz lei, mas uma premissa da minha atuação era fiscalizar o governo, tanto na ponta quanto na entrega do serviço público, então estive em dezenas de hospitais, escolas, unidades da assistência social. Estive de perto observando, constatando problemas e levando isso aos órgãos de controle. Fazendo o possível pra cobrar do governo o que tinha que ser cobrado e também direcionar o orçamento público pra aquilo que eu considero mais importante. Foram mais de R$ 23 milhões executados na educação, muitos recursos executados na cultura, nos projetos ambientais e também nas políticas para mulheres. Então o meu propósito era fazer um mandato digno mandato focado nas causas que eu sempre defendi.

Quais foram suas inspirações?

Primeiro eu sempre me inspirei muito nos meus professores, nas pessoas com que eu trabalhei ao longo da minha vida e nos projetos sociais. Mas politicamente eu vejo figuras importantes da nossa história como Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Leonel Brizola e o próprio João Goulart, que foi uma vítima da ditadura militar. Foram pessoas que sempre lutaram pelas causas e pela própria democracia. Essas eram e continuam sendo as minhas referências. Me inspiro bastante também em Paulo Freire no campo da educação. Essas são pessoas que deram o seu testemunho e deram o seu exemplo para uma verdadeira política.

Antes de ser eleito, o senhor atuou por 15 anos como professor de Sociologia. O senhor acredita que a experiência em sala de aula contribuiu na política?

Sem dúvida, ajudaram muito. Primeiro porque a docência já te exige a capacidade de escutar, é muito importante aprender a se comunicar e observar. O professor também é um pesquisador então a gente precisa estar sempre em atenção com tudo que está acontecendo e com as pessoas a nossa volta, principalmente em sala de aula, observar o estudante e o seu comportamento, é também um exercício de empatia. Na política a gente também tem que exercitar a escuta, o diálogo e aprender a lidar com as diferenças. Tem que saber lidar com o conflito e não transformá-lo em guerra, assim como lidar com o pluralismo e com as divergências. Então, sim, a experiência como professor me ajudou muito, porque hoje antes de eu tomar qualquer decisão eu estudo, avalio, vejo as diferentes posições e aí eu coloco a minha posição.

Após esses últimos quatro anos atuando como parlamentar, o que te motiva a continuar na política?

O que me motiva é primeiro saber que os desafios são muito grandes e muita coisa ainda tem que ser feita. Uma boa parte das transformações sociais que a gente precisa fazer, só acontecerão no espaço político. Só acontecerão nos espaços de poder institucional da política, no governo, no Legislativo e também no Judiciário. Então é preciso ocupá-los pra que as pessoas que realmente tem compromisso com as causas sociais estejam ali representadas. E eu me motivo apesar de muitas vezes sofrer derrotas na política porque ainda creio que a maioria daqueles que estão no poder não tem compromisso com a sociedade. O que me motiva é fazer essa mudança por dentro e trazer gente que realmente tem vontade de trabalhar, e tenho inclusive me dedicado muito a isso, tentando convencer pessoas a entrarem na política. Fazer as coisas acontecerem virou um propósito de vida, ver a educação melhorar, promover oportunidades de emprego, de trabalho e reduzir a desigualdade.

Ao se tornar uma pessoa pública, fatalmente as pessoas passam a ter mais contato com ataques cibernéticos. Como o senhor lida com esses ataques?

 Essa questão ela é infelizmente um dado, uma realidade e um fato. O ambiente virtual deu voz a pessoas que tinham muita coisa boa para dizer, mas também deu voz à estupidez. Deu voz ao radicalismo, à violência e também à mentira. Está aí o fenômeno das fake news. E é importante a gente separar o joio do trigo. O importante é a gente separar muitas vezes o que é uma crítica construtiva daquilo que é um comentário ofensivo, eu lido de maneira tranquila e é claro que isso não é de uma hora pra outra. Já fui muito atacado, violentado, e ameaçado inclusive pelas redes sociais quando me posicionei de maneira firme, de acordo com os meus princípios. É importante a gente saber aquilo que deve ser ouvido e filtrar aquilo que não precisa ser ouvido, lido ou contemplado. Tem muito ódio hoje na sociedade e as redes sociais viraram o lugar de expressão desse ódio. Portanto nosso o nosso papel é não dar vazão pra esse ódio. A crítica, a compensação e o contraditório fazem parte da democracia, mas a violência, a mentira e o extremismo não.