Embora não existam dados oficiais para o mercado brasileiro, a venda de discos de vinil tem crescido em todo o mundo ao longo dos últimos anos. Em 2023, pela primeira vez desde que o CD começou a vender mais que o vinil em 1987, o formato retomou a posição de liderança. Entretanto, o consumo de música por meio de formatos físicos, nos tempos atuais, se trata de um comportamento de nicho.

Em 2022, de acordo com dados globais da IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica), o consumo de música por meio de plataformas de streaming representou 67% da renda da indústria fonográfica, enquanto os formatos físicos totalizaram 16% da renda. Apesar disso, uma grande parcela do público que consome música, o faz de maneira gratuita; seja por plataformas de vídeo (como Youtube), pelo rádio ou por plataformas de streaming com propagandas, por exemplo.

Fora do radar de todas essas pesquisas e dados, existe o mercado de discos usados. Em Brasília, somente no Plano Piloto, existem ao menos 9 lojas que comercializam discos de vinil usados. Nessas lojas, encontra-se de tudo: MPB, Rock nacional e internacional, música clássica, samba e trilhas sonoras. Pode-se encontrar aquilo que está disponível no Spotify, mas também raridades que nunca chegaram às plataformas de streaming ou versões diferentes que ficaram no passado.

Duas lojas históricas

No começo dos anos 2000 o cenário mundial e local era muito diferente. O CD estava em todo canto e o streaming era uma realidade distante. Os microsystems e CD players ainda ocupavam um espaço na casa dos brasileiros, estavam dentro de quase todos os carros, e, além das lojas especializadas, como a Discoteca 2001, encontrava-se CDs nas livrarias, nas Lojas Americanas e até nos hipermercados.

Foi nesse contexto que Ewaldo e Roseane decidiram abrir o Acervo, em 2004. Ewaldo frequentava o supermercado Extra, onde frequentemente comprava CDs. Lá conheceu Elvis, responsável pela seção musical, e tornaram-se amigos. Quando ele e Roseane decidiram abrir sua loja, convidaram Elvis para vir trabalhar com eles, e, hoje, 20 anos depois, não importa o dia ou a hora, Elvis está lá, atrás do balcão, sempre colocando algo para tocar no som da loja e disposto a bater um bom papo sobre música.

Ainda mais antiga é a Musical Center, que existe desde 1989. Fundada pelos irmãos Josiel e Milton Moreira, hoje é administrada pelos filhos de Josiel: Paulo e Josiele. Ambos recordam que desde que eram adolescentes frequentavam a loja e que o pai pedia que fossem até às estantes de vinil e ficassem navegando pelo acervo da loja.

Nesse período, o CD ainda era uma grande novidade. Tanto os aparelhos como a mídia ainda eram caros, especialmente no mercado brasileiro. Nesse momento, o sebo teve um papel importante na vida de muitos amantes da música. Clóvis Santos, cliente da loja nessa época de transição do vinil para o CD recorda: “O CD era muito caro e nesse momento não me convenceu, mas muita gente se deslumbrou com essa nova tecnologia e se desfez de coleções impecáveis em vinil. Foi na Musical que eu comprei dezenas de discos importados de música clássica que não se encontrava em lugar nenhum e eram muito melhores que os nacionais; os discos eram mais grossos, os encartes cheios de informação.”

Convivendo com a internet e o streaming

Ao longo desses 24 anos do século atual, a maneira como se consome e se acessa a música mudou completamente. Clóvis recorda que, quando era adolescente nos anos 70, as novidades estrangeiras demoravam para chegar ao Brasil então, quando alguém trazia um disco do exterior, os amigos se reuniam em sua casa, onde tinha 2 aparelhos de fita cassete, para escutar e fazer cópias das novidades. Uma dinâmica impensável na realidade atual.

Apesar do fato de que hoje pode-se encontrar virtualmente qualquer música nas plataformas de streaming, os formatos físicos resistem. Josiele, da Musical Center, diz que o mercado de vinil e de formatos físicos “é um nicho e nichos permanecem”. A experiência de navegar pelos nichos da loja, separados por gêneros musicais e com seções especiais para novidades para discos com desconto, com preços que vão de 1 real até 300 reais, similar à experiência que Josiele e Paulo tinham quando adolescentes, proporciona uma maneira de explorar música que os meios digitais ainda não conseguiram traduzir.

Tanto na Musical Center quanto no Acervo, o público abrange crianças e idosos, homens e mulheres. Elvis, do Acervo, afirma com bom humor que o público da loja vai “da criança ao velhão”. Nas visitas às lojas ao longo da reportagem viu-se crianças comprando CDs de rock dos anos 80, adolescentes discutindo sobre a música dos anos 70, idosos fãs de Beatles. Os gêneros musicais mais buscados são o rock e a música brasileira. Josiele afirma que ter um bom acervo é o grande diferencial: “Mesmo que fique encalhado, é legal ter. Um cliente chega, navega pela loja e compra um disco da Xuxa e outro do Interpol. Se não vende, abaixamos o preço. É importante não ficar muito tempo com a mercadoria, fazer girar e, no final das contas, o que é bom sempre sai rápido.”

Recomendações Musicais

Não importa o dia da semana ou a hora, sempre que se entra no Acervo ou na Musical Center sempre há algo rodando no toca-discos ou no CD player. Elvis, Josiele e Paulo vivem da música e cercados por ela em um sentido bem literal. Conhecem de tudo um pouco. Preparamos aqui uma pequena lista de recomendações de cada um deles, para expandir os horizontes músicas, por streaming ou vinil.