Dor na hora do sexo? Entenda o que é vaginismo

Disfunção complica e pode até impossibilitar a penetração vaginal

Ana Luisa Souza

Postado em 27/03/2024

Apesar dos avanços na conversa sobre a sexualidade feminina, muitos aspectos ainda são tratados como tabu e não recebem a devida visibilidade. O vaginismo é um dos problemas que permanece nas sombras, deixando mulheres em todo o mundo sofrendo em silêncio e prejudicando sua própria saúde sexual. A condição se caracteriza pela contração involuntária do assoalho pélvico durante a penetração vaginal, como na relação sexual ou na simples inserção de um absorvente interno, causando dor e desconfortos extremos e até impossibilitando o ato.

Ao mesmo tempo que o vaginismo pode indicar uma disfunção física dentro da própria vagina, ele normalmente tem origens psicoemocionais. “Chamamos isso de ciclo da dor. A mulher tem alguma experiência sexual que é processada como traumática, seja um episódio de abuso ou uma primeira vez desagradável, e o cérebro entende a penetração como um sinal de perigo”, explica a fisioterapeuta pélvica Déborah Loren. “Os músculos do períneo se contraem, então, como uma forma de proteção e dificultam a penetração. Isso causa ansiedade e desconforto na mulher, que passa a associar o ato a sensações de dor e medo.”

Laura Schwengber, especialista em inteligência emocional e sexualidade feminina/Foto: Ana Luísa Souza

Esse ciclo vicioso pode impactar não apenas a vida sexual, mas também a saúde mental e a autoestima das mulheres afetadas, que muitas vezes optam pelo silêncio por sentimentos de vergonha e frustração com a condição, ou pela falta de conhecimento que vem com o preconceito relacionado ao tópico. “Nossa sociedade tem todo um manual de performance sexual que precisamos seguir”, ressalta a especialista em inteligência emocional e sexualidade feminina Laura Schwengber. “Muitas vezes a mulher cresce com um estigma de como ela deve se comportar durante o ato sexual, e quando ela não consegue cumprir suas próprias expectativas, isso gera uma grande desconexão emocional.”

Ao encontro da hora H

Apesar de toda a vergonha e insegurança causada pelo vaginismo, a disfunção pode ser facilmente tratada por meio de métodos fisioterapêuticos ou simplesmente terapêuticos, adequados ao grau de dor e às experiências de cada mulher. A fisioterapeuta Priscila Pschiski destaca esse tratamento personalizado e minucioso, visando o bem-estar sexual, físico e psicológico. “Primeiro a gente faz uma análise do seu corpo, de seu funcionamento e como ele está se comunicando, porque não necessariamente o trauma começou na vagina. A partir disso, o tratamento ocorre por uma série de exercícios que vão soltando a tensão e equilibrando o corpo.”, a especialista explica. “Muitas vezes o problema já foi resolvido quando a gente chega dentro da região pélvica.”

Pelvic, clínica de fisioterapia de Priscila Pschinski/Foto: Ana Luísa Souza


O primeiro passo para a cura é reconhecer que o vaginismo não precisa ser uma sentença perpétua. Com os recursos e a assistência adequados, as mulheres podem superar os desafios impostos por essa condição e recuperar uma vida sexual saudável e satisfatória. Entretanto, a quebra do estigma com essa disfunção se demonstra como indispensável para alcançar a meta, garantindo que todas tenham acesso ao apoio que precisam para enfrentar o vaginismo com confiança e dignidade. Ao promover uma conversa aberta e inclusiva sobre a sexualidade feminina e suas complexidades, surge a oportunidade de dissipar as sombras que obscurecem o entendimento e o tratamento da questão, permitindo que as mulheres se libertem do silêncio e alcancem uma vida sexual plena e realizada.