Perder peso é um desafio. Mantê-lo, então, pode ser uma missão mais difícil ainda. Muitas pessoas passam por ciclos repetitivos de emagrecimento seguidos pelo reganho de peso, o famoso “efeito sanfona”. Mais do que um problema estético, essas oscilações constantes trazem consequências para a saúde física e mental, aumentando o risco de doenças metabólicas e a frustração com o próprio corpo.

“É um vai-e-vem que desgasta não só o organismo, mas também a mente. A pessoa se sente fracassada por não conseguir manter o peso, e isso pode gerar ansiedade, compulsão alimentar e até depressão”, explica a endocrinologista Sabryna Lucena. Segundo ela, a obesidade é uma doença crônica e precisa ser tratada como tal. “Ela não tem cura, mas pode ser controlada. O problema é que muita gente encara a perda de peso como uma fase, não como uma mudança permanente”, completa.

O impacto do efeito sanfona no corpo

As consequências do “emagrece-engorda” vão muito além das aparências. Uma pesquisa publicada no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, revista científica da Endocrine Society, uma das principais organizações internacionais da área de endocrinologia, revelou que o ciclo de perder e ganhar peso aumenta significativamente o risco de desenvolver doenças renais em pessoas com diabetes tipo 1. “Cada vez que o peso sobe, o corpo reage como se estivesse em estado de alerta, criando uma inflamação crônica. Isso sobrecarrega órgãos como pâncreas e fígado e pode levar a complicações sérias”, alerta a especialista.

Outro fator preocupante é o impacto nas articulações e músculos. A personal trainer Shaiane Oliveira explica que o corpo se adapta ao peso que carregamos e que mudanças constantes podem causar lesões. “Imagine um elástico que ora está frouxo, ora esticado ao máximo. Uma hora ele pode arrebentar. É assim com nosso corpo. As articulações, principalmente joelhos e tornozelos, sofrem muito com essas variações bruscas”, afirma.

O desafio de manter hábitos saudáveis

A resposta está, em parte, no funcionamento do cérebro. Segundo Shaiane, o corpo humano é programado para buscar conforto e evitar mudanças. “Nosso cérebro gosta de padrões já conhecidos. Hábitos antigos são como trilhas bem marcadas, enquanto os novos precisam ser percorridos muitas vezes para se firmarem. É por isso que é tão fácil voltar a velhos costumes”, pontua.

Além disso, a rotina corrida e o imediatismo dificultam a constância. “As pessoas querem resultados rápidos e, quando não veem mudanças na balança, desanimam. Só que criar hábitos saudáveis é como aprender a andar de bicicleta: no começo, a gente desequilibra, mas o segredo é não desistir ao primeiro tombo”, explica a personal a partir de uma analogia.

Dicas para evitar o efeito sanfona

A chave para uma mudança duradoura não está em dietas milagrosas nem em treinos intensos por um curto período. Para os especialistas, o segredo está na regularidade e no equilíbrio. “Não adianta se jogar na academia por duas semanas e depois parar por um mês. O importante é a constância”, alerta Shaiane.

Confira algumas estratégias para evitar o efeito sanfona:

• Regularidade antes da intensidade: um treino moderado todos os dias é mais eficiente do que picos de esforço seguidos de longas pausas.
• Metas realistas: mudanças pequenas e consistentes fazem mais diferença do que dietas restritivas e pouco sustentáveis.
• Alimentação equilibrada: evitar extremos é fundamental. Restrições exageradas podem levar a episódios de compulsão.
• Sono e estresse sob controle: dormir bem e reduzir o estresse são essenciais para evitar oscilações hormonais e metabólicas.
• Acompanhamento profissional: endocrinologistas, nutricionistas e personal trainers ajudam a traçar um plano ajustado às necessidades de cada pessoa.

“O mais importante é entender que saúde não tem prazo de validade. Quem encara mudanças de hábito como algo temporário está fadado a voltar ao ponto de partida. Para fugir do efeito sanfona, o foco deve estar no bem-estar e na qualidade de vida, e não apenas no peso na balança”, reforça a endocrinologista Sabryna. Com paciência, planejamento e o suporte certo, é possível escapar do ciclo do efeito sanfona e conquistar uma rotina mais equilibrada e saudável.