Em busca do cinéfilo perdido

Redes de cinema apostam em programas de benefícios para atrair público

Clara Montenegro

Postado em 08/04/2024

Quem nunca pensou em ir ao shopping ver um filme e desistiu pelo preço? Amantes do cinema agora possuem uma opção: os programas de benefícios. Redes de cinema pensaram em uma forma de fidelizar os clientes e ainda fazer as pessoas voltarem às telonas no Brasil pós pandêmico, quando o “streaming” assumiu a preferência.

Pagar em um ingresso R$ 20 no fim de semana se tornou comum para quem quer apreciar um bom filme. E as inteiras chegam a mais de R$ 40, um valor caro para todos. Por isso, franquias como Cinemark e Kinoplex desenvolveram programas para não pesar tanto no bolso dos cinéfilos e ainda garantindo descontos, ingressos mais baratos e prêmios.

Programas de benefícios

No Kinoplex, o cadastro no Kinoplex+ é gratuito, e na compra de produtos dentro do cinema você adquire prontos que podem ser trocados por brindes especiais de algum filme, ingressos gratuitos e descontos.

Já no Cinemark, você realiza a adesão de um plano mensal ou anual e garante benefícios por mês dependendo do “Club” que você escolher. No mais caro, de R$38,90, Cinemark Club Black, você garante 2 ingressos em qualquer sessão podendo ser até 3D ou XD, descontos de até 25% na bomboniere, 50% de desconto em ingressos todos os dias da semana, e ainda, acumula pontos. O que acaba sendo mais em conta, visto que nos fins de semana a inteira chega a ser mais cara que a mensalidade do plano.

Para Lucas Teixeira, estudante que sempre vai assistir estreias no cinema, foi um grande benefício adquirir o clube. “Como já ia ao cinema com muita frequência, ter dois ingressos por mês pelo preço que oferecem, ainda tendo outros benefícios, acaba sendo muito vantajoso.”

Marcos Santana, auxiliar de departamento pessoal, enxerga da mesma forma. Para ele, as vantagens que os programas ofertam fazem você querer ir mais ao cinema. “Quando você ganha pontos para fazer o que gosta, e poder trocar por brindes e outras coisas, acaba dando mais vontade de gastar.”, brinca o auxiliar.

No ano passado, o público nos cinemas do Brasil foi de 114,183 milhões de acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine). A quantidade de pessoas que entraram no cinema chega a ser mais da metade da população brasileira, um número alto em relação a 2019 antes da pandemia, que os frequentadores chegaram a 172,530 milhões.

Com os cinemas fechados depois março de 2020, apenas 39 milhões de pessoas foram aos cinema. Isso fez com que cinéfilos migrassem para os streamings e não voltassem ao cinema. Como uma parcela do clube é igual a uma mensalidade de um “streaming”, que possui opções variadas de diferentes gêneros, as pessoas optaram por assistirem filmes em casa. Ir até o cinema, pagar gasolina, estacionamento e a comida tornou-se um empecilho. Mas ainda existem aqueles que não largam o cinema por nada.

Aumento do consumo de streaming acabará com o cinema?

A professora de cinema da UnB, Rose May Carneiro, diz que a experiência do streaming não se compara a uma sala de cinema. A professora enxerga a sétima arte como um templo sagrado, onde você realiza uma imersão completa. Da compra do ingresso até a saída do filme, todos os momentos são únicos para ela. “A sala de cinema podia estar lotada, mas o silêncio era sepulcral. Afinal, todos estavam ali com o mesmo propósito: assistir um filme de cinema, na tela de cinema, com um som dolby surround de cinema. Perdão pela redundância, mas ela se fez necessária. Como explicar para uma geração que nunca viveu esse prazer incomensurável, sem repetir, no mínimo três vezes, o quanto isso é bom e incomparável ao hábito de ver filmes em telas pequenas, abduzidos por uma cartela de filmes oferecidos por um canal de streaming”.

Para a estudante Mariana Valença, o streaming é uma alternativa, mas ela não trocaria pela experiência do cine. “Por mais que ver filme em casa tenha seu valor, eu adoro o ato de ir ao cinema. A sequência de chegar no cinema, comprar o ingresso enquanto sente o cheiro de pipoca, ver outras pessoas que foram ali pelo mesmo motivo e poder compartilhar e absorver dos outros diferentes reações do mesmo filme é algo muito único”

E não só ela pensa assim, Lucas Teixeira acredita que a ida ao cinema traz sentimentos especiais. “No cinema a imersão acaba sendo bem maior, por ter uma tela grande e um bom som, algumas emoções do cinema não seriam possíveis assistindo no streaming em casa.”

O crescimento do “streaming” é algo perceptível para quem consome esse serviço. Tudo se iniciou com a Netflix chegando em 2011, e aos poucos, conquistando milhares de assinantes. Com essa entrada no mercado, outras plataformas foram nascendo e hoje chegam a mais de 60, como a Prime Video, Disney Plus e Globoplay. Entretanto como Rose May aponta “o cinema é um ritual, que merece respeito” e com essas plataformas nossa atenção fica dispersa e não damos a devido valor e tempo que o filme merece, por isso o “streaming” nunca tomará o lugar das telonas.