Estudo medicina veterinária na UnB e moro na rua

A reportagem encontrou William no Centro Pop, que atende população em situação de rua

André Luiz Antunes Andrade

Postado em 11/05/2022

William Silvério, 32, era estudante de medicina veterinária na Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) e chegou ao Distrito Federal em abril através de uma transferência para a Universidade de Brasília (UnB). “Já estava inviável estudar no Espírito Santo, a situação era precária e não me planejei; vim, com a cara e a com coragem”, diz.

Sem planejamento e sem dinheiro, William passou a engrossar a lista de pessoas que se encontram em situação de rua no Distrito Federal. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), existem 2.252 moradores de rua em Brasília. Taguatinga, Ceilândia, Planaltina e Plano Piloto são as regiões de maiores índices. O Centro POP, vinculado à Secretaria de Assistência Social, recebe pessoas como William, que vão em busca de acolhimento, comida, banho, emissão de documentos e atendimento psicossocial.

William é órfão, nunca teve uma família por perto, porém nunca se encontrou nessa situação. Tinha uma vida estabilizada no ES, morava em república, tinha um estágio e contava com auxílios da universidade. “A Ufes tem mais ou menos cinco auxílios, um deles é o aluguel, que não é o valor total, mas já me ajudava muito. Fazia também atendimentos com tutoria de médicos”, explica William. 

O rapaz está no 9º semestre do curso e conclui seus estudos em novembro deste ano. Antes de ir para a rua ele chegou a morar em uma pensão na Asa Norte, pensando na facilidade para se deslocar até a UnB. Porém, lá William dividia o quarto com outra pessoa, que segundo ele tinha problemas com drogas. “Esse cara usa crack, e um dia ele pirou e quis me atacar, me dar facadas. No final das contas o dono mandou embora eu, esse rapaz e um outro colega que também se defendeu”, esclarece.

William deixou todo seu material de trabalho na rodoviária, pois estava com muitas malas e isso estava gerando peso. O rapaz agora tem apenas a mala vermelha da imagem e a mochila preta. Créditos: André Luiz

Após o ocorrido, William foi parar na rua, mais precisamente na rodoviária do Plano Piloto. Ele imaginou que conseguiria algum tipo de ajuda por conta das várias pessoas que passam por lá todos os dias. “Eu conheci um policial civil aposentado, fiz amizade com o cara ontem e hoje ele pagou meu café e me deu dinheiro para chegar até aqui (Centro POP), pois nem dinheiro tenho”, conta.

William procurou o Centro POP em busca de uma solução provisória que o tirasse da rua. E conseguiu ser encaminhado para uma casa de acolhimento. “Estou até feliz com isso, daqui a pouco estou indo para lá, um lugar chamado Itapoã”, fala William, que não conhece o local.

A expectativa dele é que logo consiga um emprego com ajuda do POP e se forme para sair dessa situação. “Isso aqui, o POP, parece muito simples, mas para quem precisa é um negócio fenomenal. Já entro nessa casa de acolhimento querendo sair e melhorar de vida”, diz.