Etarismo prejudica recolocação no mercado de trabalho
Combate ao preconceito passa por políticas públicas, defende advogado especialista em direito da pessoa idosa
Postado em 09/05/2024
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 57% da população brasileira em 2040 será constituída por pessoas com mais de 45 anos. Um desafio para o país, considerando a dificuldade que, atualmente, as pessoas mais velhas encontram para conseguir uma recolocação no mercado de trabalho.
Um estudo feito em 2022 pela Ernst & Young e a agência Maturi, em quase 200 empresas no Brasil, constatou que 78% delas se qualificam como etaristas e possuem empecilhos na hora da contratação de pessoas nessa faixa de idade.
O jornalista Paulo Cabral, de 59 anos, tem percebido o preconceito, mesmo que velado. “Já sofri, mas nunca de forma direta do tipo ‘você está velho e não serve para o trabalho’. Isso se evidencia mais quando se procura uma vaga de trabalho e recebe desculpas como: ‘seu currículo é muito bom e acima do que estamos procurando’ ou ‘seu perfil não se encaixa no que estamos procurando’, são quase um padrão”.
Esse tipo de discriminação afeta os trabalhadores diversas formas, inclusive provocando um sentimento de descrença. “Isso me faz concluir que não adianta enviar currículo para concorrer a vagas de trabalho, pois minha idade vai automaticamente me descredenciar”, complementa.
De acordo com Paulo, existem algumas barreiras para quem quer retornar ao mercado. “Vejo alguns desafios e acho que o maior deles é encontrar pessoas mais jovens ocupando posições de liderança que naturalmente se sentem desconfortáveis com pessoas mais velhas como subalternas. Outra questão é que profissionais mais jovens ‘custam’ menos para o empregador”.
O etarismo pode prejudicar a saúde de pessoas mais velhas, como os sentimentos de exclusão, depressão e ansiedade. É o que explica a psicóloga especializada em atendimento a idosos, Raíssa Silveira. “O preconceito afeta a saúde mental a partir do momento que coloca em cena um sentimento de exclusão e rejeição social. Isso pode causar efeitos de reclusão, baixa autoestima, tristeza, pessimismo diante da vida, solidão, entre outros fatores que levam a desenvolver depressão e ansiedade”.
E alerta: “outro impacto que pouco se fala, mas que também é importante, é a questão cognitiva. O isolamento e o afastamento do social e das atividades laborais associados ao sentimento de menos-valia, por exemplo, pode trazer prejuízos na memória, na atenção e na velocidade de processamento desses assuntos”.
E de que forma pode se combater o etarismo? O advogado especializado em direitos da pessoa idosa, Eduardo Felype Moraes, destaca. “É preciso realizar a conscientização no combate ao etarismo e a igualdade de oportunidade dentro das escolas e das instituições públicas e privadas”. Além disso, segundo ele, cabe aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário desenvolverem políticas públicas voltadas ao combate a esse crime. ” E promoverem o acolhimento da vítima como, por exemplo, a fiscalização nas instituições e um apoio psicológico”, acrescenta.
O advogado recomenda que a vítima procure a sua rede de apoio, reúna provas, denuncie às autoridades competentes ou instituições responsáveis e, por fim, procure um advogado de sua confiança para buscar aconselhamento jurídico.
“A Lei 10.741/2003, popularmente conhecida como Estatuto da Pessoa Idosa, em seu artigo 93, classifica a conduta de discriminação contra a pessoa idosa, como crime e, ainda, prevê uma pena de reclusão de 6 meses a 1 ano e multa”, ressalta.