Ferramenta inovadora no campo jurídico propõe atendimento mais humanizado e rápido

A constelação sistêmica é uma prática criada pelo psicoterapeuta alemão Bert Hellinger na década de 1970

Priscilla Burmann

Postado em 07/04/2022

A constelação sistêmica é uma prática criada pelo psicoterapeuta alemão Bert Hellinger na década de 1970. De forma resumida, consiste em um método psicoterápico que visa a resolução de conflitos, muitas vezes internos, relacionados à energia herdada em diferentes áreas da vida: pessoal, familiar, empresarial.

Sessão de reconciliação através da constelação sistêmica – Imagem: Unplash

De acordo com o seu criador, ao nascermos, herdamos de nossos antepassados além de traços genéticos, sistemas de crenças e comportamentos que, se não “tratados”, podem guiar toda a nossa existência de forma inconsciente.

Embora ainda não tenha um embasamento científico que a qualifique como ciência, a prática no Brasil está presente no SUS (Sistema Único de Saúde) e é usada como ferramenta, regulamentada pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), desde 2012, na dissolução de conflitos.

A constelação visa tornar o atendimento mais humanizado ao proporcionar uma melhor percepção das partes envolvidas no conflito.

Andrea Costa é advogada especialista em direito da família, sócia do Loureiro, Costa e Sousa Advogados e conta: “As pessoas precisam entender que ela é uma ferramenta e não a resolução de todos os conflitos e de todos os problemas.”

Andrea Costa é advogada especialista em direito da família – Foto: Arquivo pessoal

A advogada faz ressalvas quanto a complexidade da ferramenta e as possíveis consequências negativas que ela pode gerar. Como exemplo, cita a questão da constelação sistêmica culpabilizar a vítima que sofreu agressão:

“Uma mulher violentada, dentro da teoria da constelação familiar, 50% (da culpa) é dela, 50% é do agressor. Ela tem uma corresponsabilidade sobre essa conduta e isso é diretamente contrário ao nosso sistema judiciário, a nossa legislação em que o agressor praticou o delito e tem de ser punido”.

Embora Andrea Costa faça críticas ao uso indiscriminado da ferramenta, não se posiciona contrária à prática. Todavia, Leandro Cruz, terapeuta junguiano e constelador formado pelo Aleph – DF (Instituto Aleph Integração e Consciência), se opõe à prática dentro de órgãos públicos.

Leandro Cruz, terapeuta junguiano e constelador formado pelo Aleph – DF (Instituto Aleph Integração e Consciência) – Imagem: Priscilla Burmann

“Acredito na constelação sistêmica como uma possível ferramenta auxiliar em tratamentos psicológicos. O uso de ferramentas sem comprovação científica em órgãos públicos me incomoda enquanto cidadão, pelo investimento financeiro público em algo não comprovado – uma porta perigosa – e, como constelador, tenho consciência das possíveis consequências negativas que uma constelação mal feita pode trazer para a vida dos envolvidos.”

Atualmente no judiciário brasileiro, a prática é realizada por qualquer pessoa com curso superior reconhecido pelo MEC – Ministério da Educação. Todavia, é importante que os magistrados que participem da sessão tenham aprofundado conhecimento em direito sistêmico. A prática é adotada como ferramenta auxiliar no campo do direito da família e propõe-se a contribuir no andamento dos processos, como um meio de descarregar o sistema judiciário brasileiro, já que é utilizada antes das sessões de conciliação, reduzindo as ações perante o juiz.