Festa junina mais famosa do Recanto das Emas retornou a todo vapor
Comunidade estava animada pela retomada do evento, interrompido por conta da pandemia
Postado em 21/06/2022
Após dois anos sem festividades presenciais, brasilienses se empolgam com a retomada de festas juninas no Distrito Federal. No Twitter, os números apontavam, em 2021, que 54% dos usuários declararam estar tristes sem a comemoração tradicional e 8% sentiam falta das comidas típicas.
No Recanto das Emas, a paróquia São Miguel Arcanjo celebrou o retorno das atividades nos dias 11 e 12 de junho. O vigário da igreja, Padre Felipe, 29, compartilha o motivo da decisão: “Sabemos que nosso povo sente falta dessa festividade. Não teve porque não celebrar a festa este ano”.
O pároco da igreja, padre Thaisson Santarém, 31, diz que além da saudade o evento é bom culturalmente para o Recanto das Emas. “A nossa festa é muito boa culturalmente, já que temos muita música, danças, comidas típicas e alegria dos moradores da cidade”, afirma.
Thiago Aquino, 22, não via a hora desse retorno acontecer: “Até deixei a roupa quadriculada no armário durante esses dois anos, na esperança de aproveitar esse arraiá novamente”. O morador da cidade também relatou, com alegria, que a festividade superou suas expectativas.
Segundo Felipe, a preparação da festa junina se iniciou por volta de 45 dias antes da data marcada e as pastorais ficam responsáveis, de acordo com o número de membros, pela barraca de comida típica pré-selecionada. A escolha depende da quantidade de recursos, da doação de alimentos e da disponibilidade da equipe.
A coordenadora da pastoral da liturgia, Amanda Sousa, 20, afirma que a interação entre as pessoas é sempre o principal fator da organização da festa. “Sempre estipulamos uma quantidade de pessoas a trabalhar e, voluntariamente, os membros se disponibilizam na ajuda. Dessa forma, todos trabalham juntos, estimulando o entrosamento entre as pastorais”, ressalta.
Amanda também acredita que o retorno presencial é positivo, com a população aderindo à vacinação contra a Covid-19. “É muito positivo essa volta gradativa dos eventos de forma presencial que estamos tendo, porque nós conseguimos ver a vida voltando ao normal depois de 2 anos que ficamos restritos de muitas coisas e, uma delas era justamente esse contato real com as pessoas, que vem sendo possível graças à campanha de vacinação”, compartilha.
A quantidade de vendas do primeiro dia de evento já foi notável. As comidas, já preparadas em quantidades maiores do que a expectativa para os consumidores, acabaram antes do encerramento do evento. O sucesso foi tão grande, que a quantidade de alimentos foi dobrada para o domingo, dia de maior lotação.
O dinheiro arrecadado serve para ajudar financeiramente as melhorias da paróquia e o fechamento de dívidas pelas obras feitas na igreja e nas capelas. “Primeiro finalizamos a festa, pagando recursos utilizados, como som, banda, banheiros químicos, brigadista e cadeiras, que precisam ser acertados. Depois, vamos determinando o pagamento das contas, começando com as do mês e, em seguida, partindo para as obras que estão sendo ou foram realizadas”, diz Thaisson.
No sábado, 11, a comunidade também foi convidada a participar da quadrilha improvisada que aconteceu no centro da festa. A banda comandou os pares e, apesar de as pessoas não saberem o próximo comando, a sensação dos dançarinos era de que a quadrilha era automática. “Parece andar de bicicleta, são passos que não dá pra esquecer”, disse Thiago. Já no domingo, a quadrilha de jovens da paróquia também realizou a apresentação que vinha sendo ensaiada nas noites anteriores.
Festa junina alternativa na pandemia
Com as dificuldades enfrentadas nos anos iniciais da pandemia, foi necessário reinventar a tradição para conseguir adaptar o distanciamento social e os benefícios da festa junina para a paróquia São Miguel Arcanjo.
Pensando nisso, em 2020 a paróquia propôs a venda de kits de comidas típicas, que eram disponibilizados virtualmente, de forma antecipada, e paroquianos voluntários realizaram as entregas nas casas dos consumidores. Em 2021, a ideia de kits promocionais continuou acontecendo, mas com a abertura de um ponto delivery na igreja e a realização de uma live no Youtube da paróquia com música e leilão virtual, coordenado pelo padre Thaisson. “Foi o que nos foi permitido fazer para reinventar”, compartilha o pároco.
Essa forma alternativa possibilitou ainda mais o avanço dessa retomada presencial. O padre Felipe afirma que a igreja esperou por esse momento tomando atitudes corretas na pandemia: “Durante o período pandêmico deixamos tantas coisas para depois e agora colhemos os bons frutos dos cuidados que antes havíamos tomado”.
Maria Sousa, 52, participou das festas virtuais e afirma que foi um sucesso: “Foi muito bom ver a alegria e a saudade das pessoas pelo presencial, mesmo na internet. A animação nas lives era contagiante”. Apesar de não se igualar ao presencial, a dona de casa relata que se divertiu, convidando os filhos para acompanharem a festa: “Nos reunimos em frente à televisão com comidas típicas e aproveitamos juntos o show ao vivo”.
Para Thaisson, a realização dessa festa foi muito importante para que católicos e não católicos fossem alcançados pela igreja: “As pessoas puderam ser alcançadas com o testemunho. Na festa todo mundo se ajudou, sem competição, servindo com alegria e preparando cada item com amor. Essa unidade é o que cativa as pessoas numa festa dessa a permanecer na vida da igreja, porque querem fugir de divisão, competição e ambientes tóxicos nesse sentido”.
Felipe acrescenta que é nos detalhes que todos se sentem conquistados pela paróquia, mesmo nas celebrações: “ O jeito de lidar, um simples sorriso e pequenas atitudes podem manifestar a nossa alegria de ser de Cristo. Não há segredo para evangelizar se o amor de Deus está em nosso coração”.
“Todos buscam o céu, cada um no seu nível de fé, mas isso gera uma vida fraterna muito mais fecunda, que foi possível observar na realização desta festa junina”, conclui o padre Thaisson.