Fobia: quando o medo se transforma em algo maior

Tratamentos incluem técnica conhecida como terapia de exposição, onde o paciente tem, aos poucos, contato com aquilo que lhe causa pavor

Fernanda Ferreira de Matos

Postado em 13/05/2022

Fobia, um tipo de perturbação da ansiedade caracterizado por medo ou aversão persistente a um objeto ou uma situação. As fobias geralmente causam o aparecimento súbito de medo e estão presentes por mais de seis meses.

Medo e fobia designam situações distintas e são termos que não devem ser tratados como sinônimos. Medo deve ser considerado uma emoção normal e comum a seres humanos e outros animais; as fobias, por sua vez, são um tipo de transtorno.

Desde os seis anos de idade, Jorge Sampaio, 26 anos, desenvolveu brontofobia, medo de tempestades. Ele conta que, no começo, seus pais até achavam que era brincadeira, mas com o tempo, o medo foi aumentando. “Não é um medo comum, na verdade, nem é um medo. Medo eu tenho de altura. Quando o tempo fecha, eu já começo a me tremer e sinto cada centímetro do meu corpo tremendo de pavor”, conta.

Já Maria Eduarda Gomes, 35 anos, sofre de aerofobia, que é o medo de voar. “Aos quinze anos de idade, fui fazer uma viagem de avião com meus pais. Estava tudo bem, mas na hora de entrar no avião, simplesmente surtei. Não conseguia respirar, meu estômago doía, vomitei, até que me tiraram. Após esse episódio, comecei a fazer psicoterapia e a tomar medicamentos controlados. Vinte anos depois, consegui entrar num avião, apesar de não ter conseguindo viajar, já é uma vitória”, detalha.

Foto: banco de imagens

As fobias podem ser classificadas como fobias específicas, fobias sociais e agorafobia.

Fobias específicas: possuem um estímulo bem definido, conhecido como estímulo fóbico. De acordo com esse estímulo, existe fobia de: animais (ex.: medo exagerado de cachorros), ambientes naturais (ex.: medo exagerado de chuvas), fobia de sangue-injeção-ferimentos (ex.: medo exagerado de agulhas), situacional (ex.: medo exagerado de viajar de avião) e outros (ex.: medo exagerado de pessoas com fantasias).

Fobia social: é também conhecida como transtorno de ansiedade social. Nesse caso, o indivíduo apresenta um medo acentuado em relação a situações sociais em que ele pode ser avaliado de forma negativa por outras pessoas. Apresentar um uma palestra, por exemplo, pode causar medo desproporcional e ansiedade.

Agorafobia: nesse tipo de fobia, o indivíduo apresenta, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, um medo desproporcional em relação a duas ou mais das situações a seguir: uso de transporte público; permanecer em espaços abertos; permanecer em locais fechados; permanecer em uma fila ou ficar em meio a uma multidão; sair de casa sozinho. Nesses casos, o indivíduo teme que alguma situação desagradável aconteça e ele não seja capaz de escapar ou obter auxílio.

O psicólogo Marcelo Júnior trata paciente com diferentes tipos de fobias. Para ele, o melhor tratamento para fobias específicas é uma forma de psicoterapia chamada terapia de exposição. “A terapia de exposição não é tão assustadora quanto pode parecer no início. Este processo é feito com a ajuda de um psicólogo ou um psiquiatra qualificados, que sabe guiar o paciente lentamente através de níveis crescentes de exposição juntamente com exercícios de relaxamento. Segundo ele, entender a causa de uma fobia é menos importante do que se concentrar em como tratar o comportamento que se desenvolveu ao longo do tempo. O objetivo do tratamento é melhorar a qualidade de vida para que a pessoa não seja mais limitada por suas fobias. “À medida que o paciente aprende a gerenciar e se relacionar melhor com suas reações, pensamentos e sentimentos, descobrirá que sua ansiedade e medo são reduzidos e não estão mais no controle de sua vida. O tratamento geralmente é direcionado a uma fobia específica de cada vez”, explica.

A fobia no cinema

Em 2008, o diretor Kiko Goifman resolveu fazer um filme bastante controverso. Com o roteiro de Kiko e Hilton Lacerda, FilmeFobia chocou seus telespectadores e dividiu opiniões por onde passou.

Jean-Claude Bernardet (um dos principais estudiosos de cinema do Brasil) atua no filme como o diretor de um falso documentário que nunca tem fim. FilmeFobia se constrói como um making of deste documentário fictício. É um filme sobre o medo na sociedade contemporânea. A principal idéia do diretor do documentário (Jean-Claude) é que a única imagem verdadeiramente autêntica, real e convincente é a de um ser humano em contato com a sua própria fobia. O próprio diretor entra no experimento, enfrentando sua alegada fobia de sangue. Jean-Claude Bernardet também não evita expor seu doloroso ritual de cuidados de saúde para seus problemas de visão, decorrentes de sua condição de soropositivo. Sinopse do filme FilmeFobia, por Robledo Milani do site Papo de Cinema.

Foto: Divulgação FilmeFobia

FilmeFobia levou o prêmio na mostra competitiva de melhor filme longa-metragem 35MM, no 41º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2008, porém, o filme, assim como seu diretor, foram vaiados.

“As pessoas não estavam preparadas para esse filme. Kiko Goifman fez uma verdadeira obra de arte, expondo medos e fobias e mereceu todos os prêmios”, analisa Gustavo Pedrosa, que estava no festival. Mas Ricardo Magalhães discorda. “É um filme ruim, nojento e desnecessário. Uma pessoa com fobia jamais deveria ser retratada dessa forma”, diz ele, que também estava no festival, em 2008.

Em entrevista à Rede Puc, em 2009, Kiko Goifman disse: “Você pode fumar, sabendo que irá te fazer mal. Você pode fazer esporte radical, sabendo que aquilo envolve algum risco. Você pode ser fóbico e fazer um filme sobre fobia. A equipe que estava fazendo o filme discutia o tempo todo se estavam ou não sendo éticos, até que ponto estamos extrapolando e beirando ao sádico. Então, uma hora eu me pergunto ‘um fóbico falso pode gerar uma imagem verdadeira?’ Claro que sim, a verdade está na imagem. Isso é cinema

FilmeFobia está disponível no streaming Mubi.