Formação acadêmica continua sendo importante para exercício do jornalismo

Empresas preferem contratar profissionais com diploma

Bruna Teixeira Ricco

Postado em 16/05/2022

O jornalismo tem enfrentado muitos desafios ao longo dos últimos anos, como a onda de ‘fake news’ / Foto: Estevan Furtado.

No dia 17 de junho de 2009 o Supremo Tribunal Federal (STF) decidia, mediante votação, a não obrigatoriedade do diploma para aqueles que quisessem exercer o cargo de jornalista. O órgão alegou que a norma era incompatível com a liberdade de expressão prevista na Constituição. O fato foi de grande surpresa para os jornalistas.

Mas Gustavo Cruz de Sousa Júnior conta que, à época, atuava como professor e não observou qualquer mudança por parte dos alunos. “Muitos lamentaram, mas desconheço qualquer um que tenha abandonado o curso em função desta decisão do STF.” Hoje, Gustavo atua como coordenador do curso de jornalismo da Unip.

Professor do curso de jornalismo do IESB desde 2003, Márcio Torres Peixoto conta que mesmo estando fora do país por conta do mestrado, acompanhou de perto a discussão pela imprensa e também por meio dos amigos jornalistas: “O diploma não é mais exigido, então acabou a profissão.” Esse era o pensamento que circulava na época, mas de acordo com Márcio, “o jornalismo hoje passa por outras discussões”.

Estevan Teixeira Furtado cursa o 8º semestre de jornalismo no IESB e, parafraseando Umberto Eco, é enfático quando o assunto é o novo cenário do jornalismo. “A internet foi uma das maiores revoluções que já teve no mundo, mas ao mesmo tempo, deu voz às pessoas idiotas, então é muito complicado a gente falar sobre ‘fake news’, as pessoas não respeitam os profissionais de imprensa”.

Um estudo realizado por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) mostra que notícias falsas se espalham 70% mais rápido que as verdadeiras e têm um alcance muito maior. O fato corrobora o cenário de falta de confiança e descredibilização que o jornalismo enfrenta com as ‘fake news’, a falta de responsabilidade das pessoas na internet e o crescente número de “jornalistas” com formação própria e que se acham especialistas em qualquer assunto.

No Brasil, as empresas não são obrigadas a contratar jornalistas com diploma do ensino superior. No entanto, na prática, não é isso o que acontece. As redações têm liberdade na escolha de seus profissionais e quase sempre abrem vagas para aqueles que têm diploma na área. / Foto: Fernanda Ferreira.

Tanto Gustavo, quanto Márcio e Estevan nunca conheceram nenhum estudante que abandonou o curso pela não obrigatoriedade do diploma. Os três também concordam quando o assunto é referente às mídias digitais. “O poder sempre esteve nas mãos do jornalismo e, hoje, cada um detém uma porcentagem desse poder.” Gustavo percebe que, dentre os alunos da faculdade onde trabalha, o empenho em aprimorar o conhecimento e a capacitação para se colocar de forma competitiva no mercado de trabalho é garantido.

Já o professor Márcio acha que houve uma queda no índice de leitura entre os estudantes. “Acho que estão lendo cada vez menos. E isso me surpreende profundamente porque eu realmente não consigo conceber uma atuação jornalística que não passe pela leitura e pelo conhecimento que decorre da leitura. E quando eu falo de leitura, vale de tudo.”