Fumantes aumentam consumo de cigarros durante a pandemia

De acordo com pesquisa, estresse emocional causado pelo isolamento social agrava a situação

Giovanna Veloso Reis

Postado em 15/04/2022

Cigarros eletrônicos ganharam espaço na pandemia | Foto: Giovanna Veloso Reis

Segundo uma pesquisa realizada em março de 2021 pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), cerca de 34% dos fumantes brasileiros aumentaram a quantidade de cigarros consumidos durante a pandemia. De acordo com o estudo, essa variação está relacionada aos impactos negativos na saúde mental das pessoas após o início do isolamento, associando-se à uma piora significativa na qualidade de vida dos fumantes.

Conforme entrevista fornecida para o portal da Aliança de Controle do Tabagismo (ACT), Paulo Borges, um dos epidemiologistas responsáveis pela pesquisa, explica que não se pode afirmar se a piora na saúde mental induziu ao aumento do consumo de cigarro por quem já fumava ou se apenas piorou o psicológico dos fumantes estudados nesse período, que apresentaram sintomas como insônia, sentimentos de solidão, tristeza, nervosismo e entre outros.

O tabagismo e a Covid-19

O Covid é uma doença que afeta principalmente o sistema respiratório; é certa a relação direta entre o modo de vida do fumante e os sintomas decorrentes da contração do vírus. O médico pneumologista Celso Antônio confirma o consumo de cigarros como fator agravante para inúmeras enfermidades, incluindo a Covid 19.

Segundo informações divulgadas pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), a falta de higiene pode ser o principal motivo para a disseminação do vírus entre os fumantes, porém a situação em que se encontra a saúde do tabagista pode sim agravar a situação caso a pessoa contraia a doença.

Tabagistas têm seu sistema respiratório prejudicado pelo fumo, e, portanto, se infectados pelo coronavírus, podem ter sua saúde ainda mais ameaçada”, diz o portal do instituto.

O início da dependência química

Levando em questão todas as consequências negativas do fumo, não é possível definir os motivos específicos pelos quais uma pessoa busca o tabagismo como alternativa para válvula de escape, mas é defendida a influência da depressão, ansiedade e desordem emocional nessa contínua busca por prazer e no anseio da sensação que apenas o consumo da nicotina pode gerar.

Mesmo com a sancionamento da lei em 2000 que proibiu as propagandas de cigarro no Brasil, a cultura do fumo continua e a popularização de novos meios de consumir nicotina de forma mais prática, divertida e “saborosa” incentiva cada vez mais pessoas de menores faixas etárias a se iniciarem no tabagismo, conforme dados da OMS nos quais alegam que cerca de 24 milhões de adolescentes do mundo entre 13 e 15 anos são viciados.

Segundo a psicóloga infantojuvenil Ana Claudia Leone, a busca por novos vícios se estabelece logo na adolescência. “Na juventude o cérebro do indivíduo tem grande necessidade de busca por prazer, novidades e socialização, associados a um nível de impulsividade que geralmente só se estabiliza em torno dos 25 anos.”

O aluno de psicologia Rafaiel Machado conta que fuma cigarro desde os 15 anos de idade, ele é portador de transtorno de ansiedade e alega que durante a pandemia sua necessidade de fumar aumentou significativamente: “Moro sozinho e confesso que estar solitário neste período foi algo desafiador, […] fumar sempre foi a minha forma de me manter são e calmo mesmo que a situação não seja a melhor, então, invés de fumar um maço por semana eu acabei começando a fumar cerca de dois por semana e vem sendo difícil diminuir.”

Como parar de fumar?

O Sistema Único de Saúde oferece tratamento gratuito para quem deseja parar de fumar. Segundo dados divulgados pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal, em 2020 mais de 700 pessoas buscaram pelo tratamento, homens e mulheres de 18 a 60 anos. Porém, por ser um tratamento que envolve mudança de comportamento, a taxa de desistência foi de 52, 32%, o que é compreensível tendo em vista a complicação relacionada a qualquer tipo de dependência.

Rafael Passos, que abandonou o vício há 3 anos de forma abrupta e sozinho, relata as dificuldades dos primeiros dias. “Eram constantes as mudanças de humor, eu me sentia mais irritável e impaciente, sem contar a parte física com as dores de cabeça. Em alguns dias eu jurei que estava tendo tremedeiras.”

Existem hoje em dia vários meios de ajuda contra o tabagismo, como, por exemplo, os famosos adesivos ou chicletes de nicotina, porém, para cessar o vício depende unicamente da vontade própria do indivíduo.

Segundo o portal do INCA há duas formas de parar de fumar: a imediata e a gradual.

  • A imediata é a principal em que a decisão é tomada de forma abrupta e determinada.
  • A gradual envolve processos como:
  1. Reduzir o número de cigarros;
  2. Adiar o primeiro cigarro;
  3. Tornar o momento do fumo menos confortável.
Campanhas contra o fumo trazem mensagens diretas sobre impacto na saúde | Foto: Giovanna Veloso Reis