Guerra política traz à tona reflexões sobre o quanto vale a pena ser patriota durante Copa do Mundo

A camisa principal da seleção brasileira não será usada por muitas pessoas por causa de conflitos políticos

Gabriel Pereira Guimarães Rocha

Postado em 21/06/2022

Com a Copa do Mundo 2022 no Catar chegando, muita gente está preocupada com o apoio que a seleção brasileira vai receber, o que conta bastante para que o time do Brasil vá bem na competição. No atual cenário político, várias pessoas discriminam quem usa a camisa canarinho, por ter certeza de que apoia o atual Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro. 

Será a primeira edição de Copa do Mundo a ser realizada no outono, época do ano correspondente no hemisfério norte, em função das altíssimas temperaturas que atingem o Oriente Médio no meio do ano. A bola rola entre os dias 21 de novembro e 18 de dezembro.

Apropriação da camisa 

Torcedores fanáticos da amarelinha estão confiantes com o desempenho da equipe brasileira em busca do tão desejado hexa. Porém, grande parte da torcida não vai usar a tradicional camisa por não compactuar com bolsonaristas. “Não usaria a camisa da seleção na Copa do Mundo nem que me pagassem. Ficarei com a genérica”, diz Guilherme Martins, 38, revisor de textos. 

Grande parte dos militantes da direita acusam apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva de não serem patriotas e usam como argumento o fato de apoiadores do petista não usarem a camisa da seleção em suas manifestações. “Forçou-se uma identificação de quem veste a camisa da seleção brasileira com uma parcela da população que defende pautas que não são bem quistas por parte relevante da sociedade”, soluciona Nauê Bernardo, 32 anos, advogado e cientista político.

Consequência e esperança 

Medo de consequências no futuro quanto à apropriação da camisa da seleção é pauta nas rodas de conversas. “Na verdade, essa apropriação já está trazendo consequências no tempo presente, deixando as pessoas céticas quanto ao patriotismo, uma vez que elas repudiam a ideia de serem consideradas apoiadoras do presidente Bolsonaro. Vejo que os danos causados podem levar certo tempo para serem ajustados e para que a bandeira do nosso país seja vista novamente como motivo de orgulho devido ao fanatismo político”, desabafa Guilherme Martins.

O cientista político Newton Marques, 70, afirma que nenhum grupo ideológico ou político pode se apropriar das cores da bandeira brasileira. ”Os bolsonaristas se apropriaram porque se diziam verdadeiros nacionalistas, o que não é verdade. Alguns acham que a bandeira vermelha usada por algumas ideologias é comunista e é impatriótica”.

O advogado e cientista político Nauê Bernardo lembra que a conquista da Copa do Mundo pode acarretar paz e união no meio de uma guerra política. “Acima de qualquer esquerda x direita, deveria estar o fato, sem ufanismo, de que todos e todas somos brasileiros e brasileiras, que discordam em pontos e concordam em outros, mas que, no fim do dia, querem o bem do país. A resolução está em nós, enquanto povo, aprendermos a discordar, com respeito e buscando o bem do debate. Criticar ideias, não atacar pessoas (muitas vezes com mentiras) apenas para estar certo”, diz.