Monogamia é papo de doido?

Enquanto a preferência por relacionamentos monogâmicos ainda é predominante, 41% expressam interesse ou estão ativamente envolvidos em relacionamentos não monogâmicos

Lais Nogueira

Postado em 25/03/2024

Foto: Laís Nogueira; Três alianças sobrepostas:

Nos últimos anos, pesquisas têm testemunhado um aumento significativo na adesão da prática de relacionamentos não monogâmicos. Essa tendência não apenas desafia as normas tradicionais de relacionamento, mas também reflete uma mudança cultural e social em direção a uma compreensão mais ampla e inclusiva do amor e da intimidade.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Tinder, uma parcela considerável da geração mais jovem, compreendida entre os 18 e 25 anos, está aberta a explorar formas alternativas de relacionamento. Enquanto a preferência por relacionamentos monogâmicos ainda é predominante, uma proporção significativa, aproximadamente 41%, expressa interesse ou está ativamente envolvida em relacionamentos não monogâmicos, sendo os relacionamentos abertos e o poliamor os mais populares entre eles.

A crescente popularidade dos relacionamentos não monogâmicos também é evidente pelo aumento do interesse por esse tema nas mídias sociais e mecanismos de busca, como demonstrado pelo Google Trends. O Brasil se destaca como o terceiro país com maior interesse em busca por não monogamia, evidenciando um crescente diálogo e curiosidade em torno dessa prática.

Mas o que exatamente é a não monogamia? Em sua essência, a não monogamia desafia a ideia tradicional de posse sobre o outro, buscando estabelecer novas formas de amor e convivência que reconhecem e respeitam a autonomia individual de cada pessoa. Essa abordagem oferece espaço para a expressão livre e consentida de relacionamentos românticos e sexuais com múltiplos parceiros, com o objetivo de construir conexões profundas e significativas.
No entanto, apesar do crescente interesse e aceitação social, os relacionamentos não monogâmicos ainda enfrentam obstáculos legais e sociais significativos. O poliamor, por exemplo, ainda não é reconhecido pelo ordenamento jurídico brasileiro, o que cria desafios em questões como multiparentalidade e herança para as famílias poliafetivas.

Praticantes instruídos
Uma pesquisa de monografia conduzida por Jéssica Sousa, bacharel em Direito, revela um panorama interessante sobre o perfil dos poliamoristas brasileiros. Os resultados indicam uma diversidade de idades e níveis de instrução entre os praticantes de relacionamentos não monogâmicos, desmistificando a noção de que essa escolha é resultado de falta de conhecimento ou educação.

Além disso, a pesquisa mostra que a maioria dos poliamoristas reconhece seus relacionamentos como entidades familiares legítimas, mesmo diante da ausência de reconhecimento legal. Esse reconhecimento interno, juntamente com a percepção de um aumento no número de pessoas interessadas em formas não tradicionais de relacionamento, sugere uma mudança gradual na compreensão e aceitação dos relacionamentos não monogâmicos.

Estigmas e tabus
Uma entrevista com um casal anônimo que pratica relacionamento aberto há alguns meses oferece insights valiosos sobre suas experiências e perspectivas. “Imagino que hoje em dia o assunto é mais comentado, porém não necessariamente é mais aceito ou realizado. Historicamente, sempre existiram casos de relacionamentos não-monogâmicos, porém nunca houveram pesquisas grandes para analisar os números exatos, por isso não consigo afirmar se houve um aumento significativo em relações não monogâmicas.” Eles destacam que, embora exista um aumento na exposição e discussão sobre relacionamentos não monogâmicos, ainda persistem estigmas e tabus em relação a essa prática.

No entanto, para eles, a confiança mútua e a abertura para comunicação são fundamentais para o sucesso de seu relacionamento, que compartilha muitas semelhanças com os relacionamentos monogâmicos tradicionais. “Mesmo a relação sendo aberta, não temos costume de ficar com outras pessoas. Normalmente estamos sempre juntos, de vez em quando surge uma oportunidade, de sairmos para diferentes lugares e acaba rolando “, ressalta. “Temos, como qualquer outro casal, as mesmas brigas e desentendimentos, bem como o companheirismo e a amizade. Mesmo que haja muito julgamento em volta de relações não-monogâmicas, eu me sinto muito segura na minha relação.”