Mulheres que passam pela retirada da mama podem reconstruí-las novamente

Em 1999, foi sancionada a lei sobre a obrigatoriedade da cirurgia de reconstrução de mama; em 2013, um PL obrigou o acesso à informação e a realização imediata do procedimento

Reportagem multimídia

Postado em 30/03/2022

O procedimento de reconstrução de mama é um direito garantido por lei que pode salvar e restaurar a autoestima de muitas mulheres

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) o câncer de mama é o tipo de câncer mais incidente em mulheres, consequentemente, muitas delas passam pelo procedimento da retirada da mama, completa ou parcial. De acordo com o Sistema de Informações Hospitalares do Datasus, do Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou, em 2019, cerca de 9.500 mastectomias, a retirada total da mama. Em 2020 foram, aproximadamente, 8.200 e em 2021, foram realizadas cerca de 7.500. Com isso, diversas mulheres passam pela oportunidade de fazer a reconstrução todos os anos.

A primeira lei sobre a obrigatoriedade de cirurgia de reconstrução mamária após o procedimento utilizado para retirada do câncer no SUS foi em 1999, mas só em 2013 um projeto de lei obrigou o acesso à informação e a realização imediata do procedimento, dependendo do tratamento feito na paciente. 

Todos os anos, o SUS e diversos projetos voluntários fazem uma campanha em prol de realizar sonhos sem que as pacientes tenham que arcar com o custo. O cirurgião plástico Leonardo Barcelos participa do mutirão de reconstrução mamária da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica no Distrito Federal (SBCP-DF), órgão que organiza e convida os médicos habilitados para ajudarem de forma voluntária, e relata que o sentimento é de gratidão em poder realizar a reconstrução. 

Ao ser questionado sobre a importância do procedimento, Barcelos enfatiza: “Devolver a autoestima e o senso de feminilidade da mulher”. Além disso, ele traz o alerta do acompanhamento após a cirurgia de reconstrução ser realizada. “Ideal é fazer seguimento para evitar retorno de lesão do câncer e necessidade de novas cirurgias caso seja indicado”. 

Resultado após procedimento cirúrgico 

Maria da Glória Castro, 48, foi diagnosticada com um câncer na mama esquerda em 2018 e, nesse mesmo ano, passou pela cirurgia completa com a reconstrução imediata. Em 2019 fez uma cirurgia profilática na mama direita, recurso usado quando se apresenta alto risco de desenvolver câncer e também para fazer a assimetria das mamas. “Fiquei muito feliz na realização da reconstrução da segunda mama, a minha auto estima se elevou”. E completa: “Me sinto muito bem após a reconstrução. Uso blusas com decotes, biquíni, maiô”.

O mastologista Rafael Garcia participou de duas edições do Projeto à Flor da Pele, idealizado em 2019 pelo mastologista Cléber Sérgio. Em 2019, foram realizadas 21 cirurgias em 24 horas ininterruptas. Em 2021, 50 mulheres foram contempladas. Em outubro de 2020 não foram autorizados procedimentos cirúrgicos eletivos pelas restrições da pandemia. “A campanha foi pensada com o objetivo de cumprir a norma de legislação de 2013 que garante o direito de todas as mulheres, tanto em âmbito do SUS, quanto em âmbito de planos de saúde, à reconstrução mamária. No caso da campanha, foram contempladas pacientes exclusivamente do SUS”, diz.

O SUS e diversos projetos voluntários fazem campanhas sem que as pacientes tenham que arcar com o custo todos os anos / Foto: Arquivo Pessoal

“Sempre que possível, sempre que realizável, é preferível que a reconstrução seja feita no momento da cirurgia do câncer, para que a paciente precise passar por um procedimento cirúrgico de uma vez só”, declara Garcia. “A sensação de realizar o processo de reconstrução é muito gratificante, todas as duas edições foram 100% voluntárias”, complementa o mastologista. 

Carmesilva Alves, 56, teve a oportunidade de reconstruir a mama direita em 2019 e declara sofrimentos quando tirou a mama: “Quando a gente tira a mama, fica muito ruim. Eu mesma tinha vergonha de vestir roupas ou ficar em frente às pessoas, principalmente, ter um relacionamento com alguém”. Após a reconstrução, Carmesilva diz que sua vida melhorou 100%. “Foi muito bom depois que eu fiz a reconstrução, me senti melhor”. Além disso, as pacientes continuam fazendo acompanhamento todos os anos com o mastologista.

O procedimento de reconstrução de mama é um direito garantido por lei que pode salvar e restaurar a autoestima de muitas mulheres que, infelizmente, passam pelo tratamento do câncer e perdem, seja parcial ou completamente, suas mamas naturais.