Novos fenômenos de arte

Nesse novo mercado da cripto arte, coleções digitais com selo de autenticidade batem recordes em leilões atraindo vários artistas

Michele Alves

Postado em 04/05/2022

“Eu não nasci poeta
E nem quero me tornar
Mas preciso fazer um poema
Para uma história sobre NFT contar
Não preciso de caneta e papel
E sim, um computador ou celular
Para que assim consiga
No mundo digital fazer circular”


O valor do poema acima depende da percepção das pessoas, do que estão dispostas a pagar por ele. Nesse novo mercado da cripto arte, coleções digitais com selo de autenticidade batem recordes em leilões atraindo vários artistas.

O que o comprador leva não é uma peça que possa ser colocada em algum móvel da casa ou pendurada na parede, e sim, um NFT (certificado de autenticidade de um objeto digital). Tão complicado entender quanto explicar, o item virtual continua na rede, todos podem ver, mas passa a ter um único dono, através de um sistema que registra informações de forma virtual facilmente acessível, o blockchain. Assim, o NFT é uma assinatura única para comprovar que aquela peça é autêntica.

Acostumados a comprar e levar o produto para casa, pode parecer loucura esse tipo de aquisição. Ou quem investe nos itens físicos é mais conservador e não está vendo a evolução do mercado digital. Com a pandemia, o interesse pela arte digital ficou ainda maior. As exposições foram proibidas devido a aglomeração e as galerias fechadas. Produzir virtualmente foi a forma encontrada pelos artistas, assim, as criações foram consumidas por um público que pode arcar com valores na casa dos milhões.

Valores à parte, é necessário levar em consideração como esse futuro da internet interfere na nossa percepção, interpretação e reprodutibilidade das obras de arte. A arte sempre foi passível de reprodução, mas a experiência de ver a obra de arte exposta no Museu, não é a mesma de ver em uma tela de computador. Há todo um cenário compondo, uma experiência muitas vezes impossível de descrever.

Existe todo um ritual para a produção da arte que deixa de existir para que possa ser experimentada pelas grandes massas. O aqui e agora é deixado de lado fazendo com que perca sua “aura”, sua singularidade, unicidade e autenticidade.

Desconecta-se do criador, tornando possível reproduzir uma obra de arte a qualquer momento e em qualquer lugar, assim como fiz com o poema citado no início desse texto. A qualidade da arte de ser um objeto único se perde em meio a sua reprodutibilidade técnica, na mesma medida em que também deixa de ser voltada para um público restrito no sentido de atingir cada vez mais pessoas.

Unir personalidades de várias áreas, todas ligadas na cultura digital, para conversas em que o ponto central seja discutir como, em breve, todos poderão interagir dentro desse novo universo, fazendo com que os produtos gerados pela reprodução tenham a qualidade da experiência estética e não somente uma reprodução vazia visando o consumo e capital ganho com essas obras, pode trazer uma solução para essa novidade que pode ser uma moda passageira ou não.

Para os que criam arte exclusivamente digital, os NFTs podem se tornar um padrão no futuro. Se esse mercado mudará a arte como um todo ou fará com que as pessoas se concentrem apenas no que é digital é uma grande incógnita. O ideal talvez fosse unir o melhor dos dois mundos.

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