Pandemia afetou calendário de aulas práticas de medicina
Alunos que fizeram estágio nos últimos dois anos enfrentaram situações desafiadoras
Postado em 08/04/2022
Em março de 2020 o Diário Oficial publicou o decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB), suspendendo as aulas na rede pública e privada. Com isso, as turmas de medicina que estavam no internato tiveram que parar e a prática dos estudantes do UniCEUB, por exemplo, ficou suspensa por quase três meses. Essa etapa é a fase do curso em que os alunos atuam dentro dos hospitais, Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e Unidades Básicas de Saúde (UBS) conveniados com as faculdades.
Os dois anos finais são de extrema importância, pois funcionam como estágio obrigatório para os alunos de medicina. É contemplado pelas quatro grandes áreas: cirurgia, clínica médica, ginecologia obstetrícia e pediatria, cada uma em um semestre. O médico recém-formado Rodrigo Chaves Teixeira avalia que os dias no internato não foram fáceis. “O meu internato foi paralisado no seu segundo mês, junto com a interrupção das atividades em geral. Ficamos de março até o início de junho sem prática. A gente sabia que podia ajudar de alguma forma, mas também tinha uma certa noção de que estava tudo muito caótico.”
A faculdade disponibilizou equipamentos de proteção individual (EPI) para os alunos, mas ainda havia um grande receio. Leonardo Melo Name Ribeiro foi um dos alunos que participaram de um intercâmbio durante o internato. O médico ficou um mês na Romênia e pode aprender com grandes especialistas. “Eu já estava quase finalizando o internato. Foi uma experiência e vivência com um sistema de saúde que tem suas similaridades com o SUS mas umas diferenças muito grandes também.” Academicamente falando, tanto Leonardo como Rodrigo se sentiram prejudicados em algum momento, mas os dois médicos relatam que tiveram todo o apoio dos professores e que além de aprenderem a ser médicos, tiveram que aprender a lidar com cenários de crise.
Aluna recém chegada no internato, Vanessa Álvares Teixeira conta que as práticas em meio à pandemia tem seus desafios, pois dependendo do local em que você está pode vir a atender paciente com Covid. “Dependendo, o próprio sistema de saúde daquele local vai fazer o máximo para poupar os alunos de atenderem pessoas com o vírus. A gente tem que usar a máscara N95 nos atendimentos, mesmo que o uso já não seja mais obrigatório”, completa.
A futura médica ainda deixa claro a importância das práticas durante o curso, presentes (principalmente) no período do internato. “Na medicina aprendemos muito com a prática, então o quinto semestre, que ficamos ‘parados’ e não houve aula prática nenhuma, apenas as teóricas, foi onde vimos que não conseguiríamos avançar, pois não tivemos as práticas como suporte, houve uma grande limitação da turma nesse quesito. A sensação era de que nos dedicávamos ao máximo nos estudos, mas no fim, não sabíamos nada.”
No início de abril de 2020 o Ministério da Educação (MEC) autorizou o adiantamento da formatura para os estudantes das áreas de saúde que tivessem 75% do curso completo (no caso da medicina, a porcentagem era válida para o período do internato), com o objetivo de que os novos profissionais pudessem ajudar no combate ao coronavírus. O Dr. Rafael Cardoso Mendes se formou em março de 2021 e foi um dos estudantes a adiantar o curso. ”Fiquei sabendo da oportunidade de antecipar a formatura para poder ajudar as pessoas com meu conhecimento de emergência e ajudar minha família também que necessitava muito da minha ajuda. Não me arrependo, sem dúvida foi uma boa oportunidade de ajudar as pessoas”. Na visão dele, os alunos do internato não foram tão prejudicados em conteúdo como os alunos que iniciavam naquele momento.