Penetração impossível: entenda o vaginismo

Mulheres sentem dor intensa na penetração vaginal. Tratamentos incluem exercícios para a musculatura e autoconhecimento corporal

Cynthia de Carvalho Lima

Postado em 01/06/2022

Para muitas mulheres a relação sexual pode ser extremamente desconfortável e uma das explicações para esse desconforto pode ser o vaginismo. Segundo pesquisa realizada em 2020 pela Revista Brasileira de Sexualidade Humana, a taxa de incidência do transtorno da dor sexual feminina/vaginismo varia entre 11,7% e 42% entre as mulheres que apresentam disfunção sexual.

A série Sex Education, lançada em 2019 pela plataforma Netflix, traz uma personagem com vaginismo. Lily sente dores intensas na primeira relação sexual e admite que só seguiu adiante porque não queria mais ser vista como a adolescente virgem.

A fisioterapeuta pélvica Débora Pádua explica que o vaginismo consiste na contração involuntária dos músculos que ficam ao redor do canal vaginal, ou seja, o músculo se contrai de tal forma que pode impedir uma mulher de ter uma relação sexual, sentindo dor diante da tentativa de penetração. Algumas mulheres passam a ter medo da penetração, aflição de ser tocada, e até mesmo dificuldade de usar absorvente interno e dor durante um exame ginecológico.

📷Dados de imagens
O vaginismo não é apenas a contração involuntária, é também a tensão de toda musculatura corporal.

Níveis de vaginismo

Débora explica que o vaginismo é dividido em dois níveis. No primário, a mulher pode ter dificuldade na penetração já na primeira relação sexual. E no secundário, ela tem uma vida sexual ativa e a partir de um determinado momento passa a sentir dor. Na sua clínica, Débora atende alguns casos considerados gravíssimos: algumas pacientes entram em pânico porque além do vaginismo apresentam transtornos como o toc (transtorno obsessivo-compulsivo).

Diário do meu vaginismo

Israeli Leiria criou uma Instagram chamando “Diário do meu vaginismo” com o objetivo de encontrar, ajudar e cooperar com outras mulheres que passam pelo mesmo processo que ela passou. Sua história começou em 2016. A primeira noite com seu marido foi um desastre. “Preciso dizer que cresci em um lar cristão; sexo para mim só depois do casamento, ou seja, eu tinha zero experiência de conhecimento na área e falar sobre sexo, principalmente, com o meu parceiro, aconteceu apenas uma vez: cinco minutos antes de eu ir para o salão e ter o dia de noiva”.

Antes de se casar, Israeli ainda pesquisou vídeos na Internet de como era a primeira vez, o que naquele momento lhe deu um pouco de confiança para a lua de mel. “Esquecemos todo o cansaço e focamos um no outro, infelizmente para mim não foi suficiente. Foi dolorido, sem prazer, sem orgasmo, foi literalmente uma faca entrando dentro de mim, mas aguentei toda a dor e ainda afirmei a ele que tinha sido bom (não tive coragem de falar como foi, pensava que era frescura minha)”.

Após um ano e meio suas relações sexuais continuavam do mesmo jeito: ela fingia prazer para agradar o marido. Acabou que em 2017 Israeli entrou em depressão por conta da sua frustração. “Precisei ser internada em uma clínica psiquiátrica por 21 dias; saindo de lá, eu tomava 8 comprimidos diariamente, o que fez minha libido ficar ainda pior. Aconteceu que minha mente, sempre que pensava em sexo, não pensava mais no prazer e sim primeiro na dor, então acabei me afastando do meu marido na vida sexual. Meu casamento quase chegou ao fim em 2020, mas apesar de todas as brigas colocamos nosso sentimento acima de tudo e finalmente procuramos ajuda. No consultório relatei toda a minha história e a minha ginecologista me diagnosticou com vaginismo, comecei o tratamento e hoje finalmente posso dizer que estou curada”.

Importância da fisioterapia pélvica

A fisioterapia pélvica vai ajudar o paciente a trabalhar a musculatura e os pontos emocionais que fizeram com que desencadeasse o vaginismo. É preciso investir na conscientização, no autoconhecimento corporal, em exercícios que liberem a mobilidade da cintura pélvica e na respiração adequada. Além de trabalhar toda a musculatura do corpo, como massagens e estimuladores, como vibradores. Áurea Aguiar, especialista em fisioterapia pélvica, recomenda que todas as mulheres consultem o ginecologista e o fisioterapeuta pélvico para saber sobre sua saúde física e psicológica.

Prevenção

Segundo Áurea, a prevenção do vaginismo se dá através da educação sexual, melhorando assim a sexualidade feminina, evitando a repressão religiosa e social. Desta forma, a estimulação do prazer se daria com a melhora do autoconhecimento corporal.

Projeto

A fisioterapeuta Débora Pádua oferece em sua clínica atendimento para mulheres que não têm condição de pagar um tratamento particular. Para participar do projeto, basta entrar em contato com a clínica e provar que não tem condições financeiras. Depois, basta entrar na fila de espera para a consulta.