Preconceito e discriminação são parte da vida de moradores de rua

GDF desenvolve ações para acolher esse público em situação de vulnerabilidade

André Luiz Antunes Andrade

Postado em 11/05/2022

Diversos fatores fazem com que as pessoas escolham as ruas para se abrigar. Mas segundo a assistente social do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP), B. Moura, a dependência química e a bebida são as principais causas. 

O morador de rua J. Oséias de Souza, 48 anos, é de Parnaíba-PI, mas durante anos morou com sua família em Santo Antônio do Descoberto, onde construiu uma chácara para os filhos e a esposa. “Eu fui evangélico, não tenho estudo, mas já fui um cara de família. Minha esposa e meus filhos falaram para eu escolher entre eles e a bebida, e hoje estou aqui (morando na rua)”, lamenta. 

Oséias se acomoda entre a 307/ 308 sul, mais precisamente em frente à Igreja Nossa Senhora de Fátima, primeiro templo católico em alvenaria a ser erguido em Brasília e patrimônio histórico. O local abriga muita gente. Isso tem gerado certo desconforto para moradores e comerciantes. Marcos é morador da 307 sul desde 1996 e disse que nunca viu um número tão grande de mendigos como hoje em dia. “De manhã eles não perturbam, nesse período eles estão atrás de dinheiro para comprar drogas. Agora à noite é um barulho, pois eles brigam entre si, ficam xingando, urinam atrás do prédio”, reclama. 

A Igrejinha já foi roubada diversas vezes; por esse motivo tiveram que colocar vigilantes e portas de ferro. Antes, as portas eram de madeira. Créditos: Agência Brasília

A comerciante de uma banca na 307 sul reside há 22 anos na quadra. Ela não quis se identificar temendo represálias. Segundo ela, quando os mendigos descobrem que os moradores estão expondo as situações do cotidiano, ficam extremamente irritados e, às vezes, querem tirar satisfações. “A gente acha que apenas porque estão morando na rua eles não sabem de nada, mas eles sabem falar inglês, conhecem arte, músicas e sabem reivindicar seus direitos”, completa. 

Acolhimento

De acordo com os dados da Sedes, em 2019, eram 1.959 moradores de rua, número que passou para 2.181 em 2020 e fechou em 2.260 no ano passado. Para o acolhimento da comunidade de rua o DF dispõe de repúblicas, casas de passagem e residências inclusivas. Possui 27 CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), e 11 CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e dois Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Centro POP).

Mesmo com essas políticas públicas alguns mendigos não se sentem acolhidos, muito menos percebidos. Esse é um dos questionamentos do morador de rua Benedito Carlos, 61 anos, que atualmente é flanelinha em frente ao mercado Comper, entre a 307/ 306 sul. “O sistema administrativo social é fraco, essa é a verdade. Eu trabalhava, tinha minha casa, e após eu machucar minha coluna, pois trabalhava como serralheiro e garimpeiro, foi ficando mais difícil”, explica. 

Antes de morar na rua, Bendito era garimpeiro. Segundo ele, tinha uma saúde de leão, mas após adquirir disco de hérnia, a única opção que encontrou foi viver na rua. Créditos: André Luiz

Benedito morava na Estrutural, e se viu na pior fase da vida quando começou com as dores nas costas, e piorou no trabalho como serralheiro, quando não concederam seus benefícios. Sem dinheiro para pagar aluguel, teve que voltar a garimpar em Rondônia, no sul do Pará e no norte do Mato Grosso. Após voltar para Brasília, Benedito estava muito debilitado e já não queria voltar para casa. “Tenho duas filhas, uma já quis me levar de volta para casa, mas nessas condições que estou não tem como eu ir, para comer o pão dos meus netos e filhos eu não vou”, esclarece. 

Todos os moradores de rua citados na reportagem frequentam o Centro POP. O serviço oferecido pelo centro consegue suprir o básico como tomar banho, comer, lavar roupa e dormir com segurança. O centro funciona de segunda a segunda das 7h30 às 17h, e recebe uma média de 400 pessoas por dia. Cerca de 1.200 refeições são dadas ao longo dia, no café da manhã, almoço e lanche. Também são executados serviços de emissão de documentos. 

Os Centros POP recebem pessoas em situação de rua, sendo uma “casa” para eles. Os POP oferece todo tipo de serviço para auxiliá-las. As atividades não realizadas, como pedido de isenção para segunda via de algum documento, é repassado para Defensoria Pública. Créditos: Paulo H. Carvalho/ Agência Brasil

Serviços

Centros de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centros Pop)

Centro Pop Taguatinga: atende até 100 pessoas por dia

QNF 24 A/E nº 02 Mód. A – Taguatinga Norte

Centro Pop Brasília: atende na semana cerca de 400 pessoas e aos finais de semana cerca de 150

SGAS 903, Conjunto “C” — Asa Sul

Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS)

Creas Brasília: SGAS 614/615 Lote 104 (L2 Sul)

Creas Brazlândia: A/E Nº. 01 Lotes K/L

Creas Ceilândia: QNM 16 A.E. Módulo A — Ceilândia Norte

Creas Estrutural: Área Especial 09, Setor Central

Creas Gama: A.E. 11/13 Setor Central

Creas Núcleo Bandeirante: Avenida Central, Área Especial, Lote E

Creas Planaltina: A. E. – H – LOTE 06 – Setor Central.

Creas Samambaia: QN 419 A.E. 01 — Samambaia Norte

Creas São Sebastião: Quadra 101, Área Especial S/N, Administração Regional de São Sebastião

Creas Sobradinho: QD 06, A.E. Nº. 03

Creas Taguatinga: A.E. Nº. 09 -Setor “D” Sul – Taguatinga Sul