Projeto Felicidade dá voz à comunidade LGBTQIAPN+ por meio do teatro

A terceira edição acontece em Itapoã e apresentação da peça será em cinco regiões do DF

Isabella Luciano

Postado em 21/05/2024

Espetáculo final da segunda edição do Projeto Felicidade.
Foto: Arquivo Pessoal/Welli Nunes

Idealizado pelo falecido dramaturgo Alexandre Ribondi em 2016, o Projeto Felicidade está na terceira edição, levando oficinas de teatro aos moradores LGBTQIAPN+ da periferia do Distrito Federal. Em busca de descentralizar o teatro, são promovidas oficinas de iniciação teatral para 12 participantes, que depois apresentarão um espetáculo em cinco regiões administrativas do DF. É oferecido pela Casa dos Quatros em parceria com a instituição Batukenjé, que irá ceder sua sede para os ensaios, e a produtora  C1 arte & entretenimento. A edição de 2024 acontece no Itapoã.

Josias Silva, assistente de direção e diretor cenotécnico do projeto, conta que o Felicidade foi criado na intenção de produzir algo com jovens que sofriam preconceitos em camadas, como Alexandre. “O objetivo é realizar formação teatral com apresentação de espetáculo dramaturgicamente escrito a partir das vivências de jovens em periferias do Distrito Federal e que integrem a comunidade LGBTQIAPN+.” O projeto já passou pela Cidade Estrutural e  Sol Nascente. 


Alexandre encontrou no grupo que Josias fazia parte, o CIA Bisquetes, na Cidade Estrutural, uma oportunidade para a primeira edição.  Oito jovens desenvolviam esquetes interventivas através do teatro de temáticas sociais, todos LGBTQIAPN+. As oficinas duraram sete meses, com troca de histórias de pessoas que ao final foram costuradas e narradas por eles mesmos no palco. Essa primeira edição contou com doze apresentações em fevereiro de 2017 no Teatro Goldoni. 

Josias também explica a importância do foco na comunidade LGBTQIAPN+ e de periferia: “O projeto visa trabalhar questões interpessoais da comunidade através do teatro. Concluímos que para além da formação que o projeto oferece através da oficina de teatro, o diálogo promovido pelo espaço seguro também contribui para uma significativa auto estima de todes que participam do projeto. Bem como o conjunto da obra através da cultura traz consigo o pertencimento que outras vezes sentimos falta na comunidade.”

Para finalizar o projeto, o espetáculo é apresentado pelas cidades do DF. De acordo com Morillo Carvalho, diretor e professor de teatro, a decisão de levar a apresentação a outras localidades veio ao notar o incômodo que era ir até o teatro onde seria apresentado, no Plano Piloto. Era preciso servir também de devolutiva social da importância da periferia ter espetáculos bons e que falem sobre suas vivências.

“Estávamos colocando a voz das periferias no palco, mas o palco era distante das periferias. A segunda edição corrigiu isso e apresentou Felicidade para as cidades,” diz Morillo.

Projeto Felicidade

Welli Nunes, de 25 anos, foi uma das beneficiadas pelas oficinas quando elas aconteceram no Sol Nascente. Para ela, o projeto foi responsável pela identificação da sua paixão pelas artes cênicas. Atualmente, Welli ainda participa de oficinas teatrais e projetos oferecidos pela Casa do Quatro.

O Projeto Felicidade proporcionou a ela uma experiência completa, das aulas à apresentação e também o acesso a diversas linguagens artísticas adaptadas para cada indivíduo. “Com professores que experienciam os mesmos problemas socioeconômico-culturais que os alunos, é criado um vínculo empático entre toda a turma. E de maneira gratuita, que não quer dizer que tenha baixa qualidade, pelo contrário, pois conta com uma super produção que leva para todo o DF uma peça criada nas periferias de Brasília. A importância se dá por todo esse conjunto de ações resultando num espetáculo sensacional feito por pessoas reais.”

Foto: Arquivo Pessoal / Welli Nunes

Felicidade em Itapoã

As oficinas de 2024 começaram em abril, com aulas de preparação física, exercícios de dança e a formação de atores por meio de jogos cênicos. O projeto é apoiado financeiramente pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC) DF. As inscrições foram através do preenchimento de um formulário disponibilizado pelas redes sociais das instituições, as vagas limitadas a 12 jovens interessados.

A peça final será  construída coletivamente, a partir de conversas entre professores e alunos. Ao longo do processo, textos serão desenvolvidos pelos dramaturgos e ensaiados pelos participantes. “Jovens que antes tinham pouca ou nenhuma experiência com teatro assumem o protagonismo na oficina e nas apresentações”, finaliza Josias.