Síndrome da caverna: o que é e como está relacionada à pandemia de Covid-19
Profissionais da saúde explicam fenômeno causado pelo isolamento
Postado em 18/04/2022
Mencionada originalmente nos Estados Unidos em 1900, a síndrome da caverna, ou síndrome da cabana, surgiu da dificuldade dos caçadores que praticavam o isolamento durante o inverno e que mesmo após o período queriam permanecer isolados, pois apresentavam dificuldade para voltar a conviver em sociedade.
O termo voltou a ser utilizado devido ao longo período no qual a população teve de permanecer em casa para evitar a infecção pelo Coronavírus, e parte das pessoas foram afetadas psicologicamente pelo afastamento. A incerteza de uma vacina, o medo da morte, a solidão e a preocupação com os parentes foram alguns fatores que agravaram a instabilidade mental. Um estudo científico publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em março de 2022 mostrou um aumento de 27,6% nos casos de depressão e 25,6% nos casos de ansiedade.
“Algumas pessoas tem apresentado dificuldade para sair de casa, retornar ao trabalho presencial e interagir socialmente. É uma tendência das pessoas a continuarem isoladas, no conforto e no refúgio do lar, fugindo dos potenciais perigos da vida real”, explica Aguimar Farias, médico do Superior Tribunal de Justiça (STJ) com especialização em psiquiatria.
Qual o impacto da síndrome na vida das pessoas?
A síndrome da caverna não é uma algo novo, ela tem os sintomas conhecidos dos transtornos de depressão e ansiedade: taquicardia, falta de ar, tontura, irritabilidade, medo da morte e perda do prazer e interesse em atividades que eram consideradas prazerosas.
Victor Olivar, que passou os últimos dois anos do ensino médio em pandemia, apresentou o fenômeno e explica como se sentiu até conseguir voltar a sair de casa. “Eu fiquei muito ansioso, tinha muito medo de alguma coisa acontecer com os meus pais, ficava muito nervoso…então eu demorei muito até conseguir voltar a ficar tranquilo fora de casa”.
O comportamento das pessoas umas com as outras também mudou; é possível notar mais conflitos. “É mais comum ver gente impaciente, brigas. Já houve briga em mercado por causa de alguém que não estava usando máscara. Diante dessas situações, a casa da pessoa que tem medo de retornar à rotina se torna ainda mais um local de proteção, onde nada de mal acontece”, diz Analu Almeida, psicóloga que trabalha com terapia Cognitivo-comportamental
e terapia de esquema.
Tratamento e readaptação
Quem está sofrendo com os sintomas da síndrome da caverna deve buscar ajuda. Victor fala sobre sua experiência. “Eu tive que começar a fazer tratamento psicológico e psiquiátrico porque eu não estava aguentando, eu estava surtando, eu não conseguia me achar nesse novo mundo pós pandemia. E o acompanhamento psicológico, juntamente com o apoio do meu grupo de amigos que sempre tentava me passar segurança e me encorajar, me ajudou muito, hoje me sinto muito mais tranquilo.”