Doce Dinheiro: Empreendedorismo com foco em docerias

O empreendedorismo tem sido a saída de muitos brasileiros. Um dos ramos explorados tem sido o de doces e guloseimas. Nessa reportagem especial vamos mostrar empreendedores que obtiveram sucesso nesse ramo e mudaram de vida.

Reportagem especial

Postado em 01/07/2022

Bruna Feitosa, João Vitor Rapousa, Audrey R. Mendes e Rafael Magalhães

Foto: Paulo Henrique Ramos

Durante a pandemia, muitos brasileiros ficaram sem emprego. Segundo a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD), o número de desempregados ultrapassou os 14,7 milhões, no primeiro trimestre de 2021, auge da pandemia.

Com a falta de esperança e empregos durante este período conturbado, empreender foi a saída e o sonho para muitos. O ano de 2021 foi o terceiro ano consecutivo em que temas relacionados ao empreendedorismo tiveram alta nas buscas do Google. E os números do site se transformaram em prática: só no primeiro trimestre de 2022, mais de 1 milhão de empresas foram abertas no Brasil. A grande maioria, cerca  de 79%, são Microempreendedores Individuais (MEIs).

Para Riezo Almeida, professor de economia na Instituição de Ensino Superior em Brasília (IESB), o empreendedorismo tem grande importância para o país: “Um país em desenvolvimento como o Brasil, é importante ter inovação, tecnologia e empreendedorismo na veia”, afirma o professor. 

Ainda segundo o professor, a relação entre a economia e o empreendedorismo é muito estreita, ou seja, a economia e o empreendedorismo estão relacionados com o bem estar da população. “Uma população que tem acesso à inovação e a boas tecnologias consegue ter uma qualidade de vida melhor, com mais educação e com mais recursos”, declara.

Riezo afirma que a economia criativa tem sido um grande norte para o empreendedorismo atualmente. Conceito este que tem sido bastante aplicado no ramo de docerias. Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) revelam que o setor de bolos, pães e doces movimentou cerca de US$245,5 milhões em 2021

Pegando carona no aquecimento deste mercado e na busca por colocação no mercado de trabalho, produtores artesanais têm empreendido no ramo e obtido sucesso. Há casos em que pequenos empreendimentos mudaram a vida de seus idealizadores.

Autor: João Vitor Rapousa

Use e abuse das redes sociais

Ludmilla Barroso, proprietária da marca Doces Lulu – Créditos : Arquivo pessoal Ludmilla Barroso

Ludmilla Barroso, de 22 anos, é dona da marca Doces Lulu, que comercializa diversos sabores de brigadeiros, não tem funcionários e contou qual é o diferencial dos doces que ela vende: “Além dos brigadeiros tradicionais, faço coloridos também”. 

Criou o Curso On-line Brigadeiro Gourmet depois de receber vários pedidos das seguidoras no Instagram. “O público alvo são pessoas que querem começar a empreender com brigadeiros ou se especializar”, disse Ludmilla. Também segundo a dona da marca Doces Lulu, os retornos são ótimos, as alunas elogiam a receita e ainda, estão sempre recebendo mais encomendas.

A dona da marca Doces Lulu falou como a pandemia de Covid-19 afetou seu negócio: “Afetou de forma negativa com os preços que aumentaram demais e as encomendas diminuíram um pouco, mas agora está tudo melhor”. Ela aproveitou e deu algumas dicas para quem está querendo começar a vender doces: “Estude bastante a sua receita antes de começar a vender, comece com o que tem em casa e depois vá investindo em materiais melhores e use e abuse das redes sociais para divulgar seu trabalho”.

Por fim, Ludmilla lembrou como começou a se interessar por empreendedorismo, o que a motivou a começar um negócio de doces e celebrou o sucesso do curso que criou: “Comecei em 2016, após participar de um programa sobre empreendedorismo na minha escola, eu estava no 2º ano do ensino médio. Depois decidi começar a vender brigadeiros pois minha mãe tinha uma receita que todo mundo amava e hoje, quase seis anos depois, já sou professora e tenho mais de 2.800 alunas”.

https://www.youtube.com/watch?v=uERU-jkMTbQ

Lar doce Lar — Família, doces e negócios

Nayane Melo, proprietária da Sweet Melo – Crédito: Arquivo pessoal

Para muitos, não se misturam amigos e negócios, e para tantos outros não se mistura família e empreendedorismo. Mas não é o caso quando falamos da Sweet Melo. A marca nasceu em 2016 com o intuito de empreender, e sua fundadora, Nayane Melo, buscava, desde aquele momento, um espaço no mercado gastronômico de Brasília com os seus famigerados doces que arrancam elogios aos montes dos seus clientes. 

De acordo com dados estatísticos apurados através da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (ABIA), o lucro arrecadado pelo setor de alimentos de qualquer espécie, entre os anos de 2010 e 2016, foi cerca de 90% em todo território brasileiro. Com tal crescimento, muitos brasileiros viram no setor de Alimentação fora do lar (AFL) uma forma de começar um negócio, e não foi diferente com a confeiteira líder da Sweet Melo.

Depois de dois anos após a criação da Sweet Melo, a marca se tornou renomada no local e até mesmo fora das territorialidades da capital. “Eu criei a Sweet Melo em busca de empreender o meu próprio negócio e fazer o que eu realmente gosto e o que eu realmente amo. No início eu comecei vendendo sob encomenda em datas comemorativas, e posteriormente, em 2018, a Sweet Melo foi reconhecida não só em Brasília como em outras cidades do Brasil também”, aponta Nayane. Contudo, não é apenas Melo que está envolvida no projeto. “Hoje a família Sweet Melo conta com oito pessoas, desde cozinha, atendimento, financeiro e a tendência é só crescer”, afirma a empreendedora.

Há mais de dois anos, mais especificamente no mês de março de 2020, começava a quarentena forçada mediante o contexto pandêmico que assolava todas as pessoas no mundo. Medidas restritivas para conter o avanço da pandemia foram tomadas e, como era de se esperar, vários setores foram prejudicados naquele momento, desde sociais, culturais e econômicos.

Em contraste com esse cenário, a Sweet Melo não só conseguiu aumentar os lucros por meio do serviço de delivery, como ficou ainda mais conhecida pelas entregas com nível de excelência. “Até mesmo antes da pandemia nós já tínhamos o delivery, tanto pessoal quanto através das plataformas. Hoje nós não atendemos em loja física, mas a empresa disponibiliza para retirada”, diz Nayane Melo. 

Além disso, Nayane corrobora e enfatiza sobre como suas produções se tornaram lucrativas durante o período de restrições sanitárias. “Nossos lucros são suficientes para manter a produção. Por incrível que pareça, a pandemia foi benéfica para a Sweet Melo, justamente devido ao delivery. “Nós já trabalhávamos com essa modalidade e justamente por já ter familiaridade com essa opção de serviço, pra gente foi tranquilo”, complementa Melo.

Com ótimos feedbacks, desde pessoais até aqueles contidos nas redes sociais, sejam eles voltados para os doces ou para o atendimento, a Sweet Melo percebe que está no caminho certo. O perfil da empresa no instagram conta com mais de 50 mil seguidores. Todo esse reconhecimento serve de inspiração para as pessoas envolvidas na empresa.

“A gente sempre está pensando no futuro, sempre pensamos em ampliar ou melhorar algo”, conta a confeiteira. “Nosso próximo passo é a nossa loja, que em breve estará aberta ao público. Ter um espaço onde o cliente possa se sentir mais confortável e ter essa experiência prazerosa de sentar e comer, isso com certeza é um dos nossos planos”, finaliza Nayane.

O verdadeiro sonho

Rafaela Cahú e Emerson Mario, proprietários do O Verdadeiro Brownie – Crédito: Arquivo pessoal

“Transformamos um investimento de 2 mil em um faturamento de mais de 1 milhão ao ano.” Essa é a frase que resume o negócio iniciado em uma quitinete pelo casal de namorados, Emerson Mario e Rafaela Cahú. Estamos falando do O Verdadeiro Brownie, que se tornou sinônimo de sucesso quando o assunto é brownie em Brasília.

O casal se conheceu em 2013, quando faziam publicidade e propaganda no IESB, e a vontade de empreender foi um dos pontos em comum do casal. Primeiramente, criaram uma agência de publicidade, ainda na faculdade, mas a ideia de criar um produto e vendê-lo, era o grande desejo de Emerson. “Ele (Emerson) era mais da criação, de marca e eu mais de atendimento, essa era minha função na agência. Então eu disse, se você fizer eu vendo. Vamos unir isso e ver no que dá. Então, um dia fizemos um brownie na casa dele e deu muito certo, os pais deles gostaram muito. Então, Emerson falou, acho que quero vender isso.” relata Rafaela Cahú, sobre o ponto chave que deu início a ideia do negócio.

Com o investimento de 2 mil reais, vindos do caixa da agência de publicidade, o casal comprou um forno e iniciou a produção. No início, o produto era vendido no ciclo de amizades e entre os familiares e chegavam a até mesmo dar o produto para colher os feedbacks e adquirir um padrão afinado. O negócio foi se expandindo, aproveitando datas festivas como natal e páscoa. De uma kitnet passou para duas e de dois funcionários passou para toda a família reunida para suprir a demanda. Hoje a empresa conta com dois pontos de delivery, doze funcionários, uma loja física, pontos de venda espalhados por diversos estabelecimentos em Brasília e está prestes a inaugurar sua nova fábrica.

O número de brasileiros com pretensões de abrir uma empresa aumentou em 75% em 2020, chegando a 50 milhões de pessoas. Conforme o relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), empreender se tornou o segundo maior sonho do brasileiro. “Empreender em si é difícil, não é só você ganhar dinheiro. Eu costumo dizer que empreendedorismo é muito mais gestão de pessoas […] A parte de tributação, de impostos, do empreendedorismo em si, os impostos são muito caros, ninguém nunca está a favor do empreendedor. Isso dificulta, sim, mas eu acho que o maior desafio de todos do empreendedorismo é a gestão de pessoas.” aponta a sócia do O Verdadeiro Brownie, sobre as dificuldades de se empreender.

Além de sinalizar que a gestão de pessoas é um dos grandes diferenciais para o sucesso de uma empresa, a empresária deu outra dica para quem está pegando carona no aquecimento deste mercado de doces e esta busca por colocação no mercado de trabalho com seus produtores artesanais. “Não desista, porque do mesmo jeito que é cansativo é extremamente gratificante.”

Entrevista completa com Rafaela Cahú, sócia- proprietária do O Verdadeiro Brownie