Uma pesquisa realizada pela empresa Hostinger entre agosto e setembro de 2024 mostra que, cerca de 60% da população se vê obrigada a acumular dois ou mais empregos para garantir uma estabilidade financeira. Esse fenômeno é resultado de uma combinação de fatores, como salários baixos, informalidade no mercado de trabalho e a alta carga tributária causada pelo aumento dos gastos públicos. Para muitos brasileiros, o acúmulo de funções é uma forma de complementar a renda mensal, além de possibilitar a realização de sonhos pessoais. Em um cenário de desigualdade econômica e insegurança no emprego, ter múltiplos serviços prestados é uma estratégia comum para a tentativa de uma vida estável.

O impacto no mercado de trabalho

Segundo Luiz Antônio Gouvert de Oliveira, economista do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF), o cenário atual reflete uma realidade de queda na renda das famílias, o que leva muitas pessoas a procurarem um segundo emprego como forma de manter o padrão de consumo que tinham antes da crise. “O aumento da inflação e a queda da renda são fatores que ainda persistem e têm impactado diretamente a capacidade de consumo das famílias, fazendo com que a busca por uma segunda fonte de renda seja uma solução prática para recompor essa perda”, explica Luiz.

Ele também aborda que “desde a pandemia, a economia de maneira global teve um grande baque, desarticulando as cadeias produtivas, causando fragilidade e uma queda nos níveis de produção, desde commodities agrícolas, minerais e tecnológicos”.

Além disso, os dados oferecidos pela Hostinger mostram que 43% dos entrevistados possuem graduação completa, 27% são pós-graduados e 22% possuem ensino médio completo. Luiz aponta que os trabalhadores estão conscientes de que a qualificação é uma premissa muito importante para entrar e se manter no mercado de trabalho, mas insiste que o principal motivador da busca por uma segunda fonte de renda é a perda significativa de renda familiar, não a falta de qualificação. “Não vejo isso (busca por um segundo emprego) como uma consequência direta da falta de qualificação. A qualificação ajuda, mas a grande razão está na perda da renda e no aumento da inflação”, ressalta.

Realidade de quem acumula dois ou mais fontes de renda

Refletindo a realidade de muitos, Victor Andrew, de 25 anos, comenta que está aproveitando de sua vitalidade para ter vários empregos, pois acredita que precisa ter mais que duas fontes de renda para não ser refém do salário mínimo. “Atualmente trabalho como recepcionista, motorista de aplicativo e vendedor . Dependendo do mês, minha segunda fonte de renda sendo motorista de aplicativo me gera mais lucros do que meu principal emprego”.

Já Mateus Lustosa, de 19 anos , aponta que, por mais que ter dois empregos esteja ajudando a pagar suas contas e seus estudos, ele tem problemas como a redução do lazer. “De certa forma, perco momentos de lazer, pois entro às 4h no meu emprego como entregador, das 12h às 19h estou no outro emprego como recepcionista e logo após já tenho faculdade. Sinto que não aproveito tanto”.