Fim do Auxílio Emergencial e alta taxa de desemprego impactam vida de brasileiros

Após diminuição no valor do auxílio, famílias ficarão sem o benefício depois de sete parcelas pagas em 2021

Julia Evelyn

Postado em 26/10/2021

No dia 31 de outubro se encerra o Auxílio Emergencial de enfrentamento à pandemia da Covid-19. Nesta data, será realizado o pagamento da última parcela para os nascidos do mês de dezembro. O benefício financeiro, desenvolvido em 2020 pelo Governo Federal, foi uma solução efetiva para a proteção financeira das famílias mais vulneráveis no contexto pandêmico e beneficiou no seu primeiro ano um total de 67,9 milhões de pessoas, o que representa cerca de 1/3 da população brasileira, de acordo com dados do Ministério da Cidadania. 

O valor inicial pago aos brasileiros era de R$600 e de R$1.200 para mulheres provedoras de família monoparental. Porém, quando o auxílio foi estendido em 2021, o número de beneficiários mudou para cerca de 37 milhões de brasileiros, segundo dados disponibilizados pelo Governo Federal. Além disso, o valor da bolsa diminui para R$150 para família composta por apenas uma pessoa, R$250 para família composta por mais de uma pessoa, e R$375 para mulheres provedoras de família monoparental. Ao todo foram cinco  parcelas pagas em 2020, e com o pagamento da última parcela em outubro, somará mais sete  parcelas em 2021. 

Filas com distanciamento foram formadas na entrada das unidades da Caixa Econômica para retirada do auxílio / Crédito: Shutterstock

Agora, com o andamento da vacinação, o cenário proporciona a volta ao trabalho e a normalização do setor econômico, assim, o auxílio se aproxima do seu prazo de validade. De acordo com o economista Matheus José, a necessidade do fim do benefício se dá pela urgência na melhora do quadro das finanças públicas, considerando o gasto de R$9 bilhões mensais, conforme dado fornecido pelo ministro da economia Paulo Guedes, na conferência virtual do Bradesco BBI em Londres. 

O economista explica que a criação do Auxílio Emergencial foi uma solução necessária em um cenário conflituoso, porém, para tal feito, era necessário uma fonte para os recursos, neste caso, provindos dos cofres públicos: “É importante notar que em um momento de crise, no curto prazo, políticas de distribuição são sim mais adequadas para conter o problema, razão pela qual diversos países as têm adotado. Mas, no caso do Brasil, que parecia finalmente estar em um caminho de valorização do orçamento aprovado e de melhora da situação dos cofres públicos, viabilizando um modelo de crescimento focado no desenvolvimento da infraestrutura e de políticas de incentivos adequados, há que ser salientado ainda mais o efeito corrosivo sobre a situação financeira, mas trata-se de um mal necessário, tendo em vista o caso de força maior deflagrado” pela pandemia, aponta o economista. 

Ausência do benefício e desemprego

Juntamente ao fim do Auxílio Emergencial, a taxa de desemprego é um dado que preocupa ainda mais o setor econômico brasileiro. No 2° trimestre de 2021, o IBGE apontou 14,4 milhões de pessoas desempregadas no Brasil, o que totaliza 14,1% na taxa de desemprego. O Nordeste é a região do país com a maior parcela de desempregados, totalizando 18,2% do total. . Desse modo, com o fim do recebimento do auxílio, muitos brasileiros se encontrarão em situação de vulnerabilidade econômica. 

Com o fim do auxílio, em outubro, muitas pessoas ficarão sem renda fixa / Crédito: AdobeStock

Para a família de Luiza Novais, estudante de 21 anos, o Auxílio Emergencial foi muito importante para a sobrevivência na pandemia. No início, Luiza e sua mãe estavam desempregadas, e desde março de 2020, começaram a receber R$1.200 do benefício, passando a viver exclusivamente da renda fornecida pelo governo. Mesmo assim, enfrentaram diversas dificuldades com contas fixas e alimentação. “Estávamos desesperadas por emprego, seja qual fosse, pois era ruim ter de dizer ‘não’ até pro mais básico que ia pro carrinho de mercado, foram tempos muito difíceis, cheguei a chorar de frustração”, lamenta. 

Kelly Amanda, estudante de 19 anos, estava desempregada, assim como seu pai, no início da pandemia, e começou a receber o auxílio em abril de 2020. A família, que mora de aluguel, passou a sustentar-se do auxílio e do salário mínimo que a mãe recebia. Mesmo assim, não foi o suficiente para arcar com todas as despesas da casa. “Eu não passei por tanta dificuldade por causa do auxílio, ele ajudou muito, porque conseguiu manter as coisas no lugar. Ele é uma forma da gente ter uma esperança de que a gente vai conseguir pagar pelo menos uma conta , ter a esperança de que a gente vai ter uma alimentação, vai ter uma comida no prato”, observa Kelly.

Sobre o fim do auxílio, as duas estudantes compartilham da mesma opinião. Para elas, o benefício não deveria acabar nesse momento. “Eu não concordo com o fim do auxílio, de maneira alguma. Eu conheço o que é passar por necessidades. Esse auxílio é uma fonte de esperança para as pessoas”, Kelly pontua. Já Luiza afirma que: “Para alguns na cadeira da presidência é fácil falar que podemos sobreviver com pouco ou que é só ‘arranjar’ emprego, o país está um caos total, minha mãe está lá no meio da porcentagem de desempregados que não para de crescer e sei que tem gente em pior situação que a nossa que está  pedindo ossos com pedaço de carne nos açougues pra comer, então assim, sem condições de acabar agora, deveria ficar pelo menos mais 3 meses”.

Por estes efeitos, Matheus acredita que, como o fim do auxílio é uma solução efetiva a curto prazo, o ideal é que as políticas públicas atuem nas frentes de desenvolvimento de infraestrutura e incentivos a outros setores da economia, para que, em termos de longo prazo, o nível de investimentos se eleve, permitindo, inclusive, sanar os problemas financeiros.