Clube de leitura se torna alternativa para incentivar jovens leitores

Com queda no número de leitores no país, a leitura em conjunto se mostrou uma boa alternativa para incentivar adolescentes.

João Ribeiro

Postado em 10/04/2025

Em 2024, dados da pesquisa “Retratos da Literatura no Brasil” revelaram que houve uma redução de 6,7 milhões de leitores no país, em comparação ao ano anterior. Como forma de contornar a situação, escolas têm buscado formas de incentivar a leitura entre seus alunos, como é o caso do Centro de Ensino Médio 4 (CEM 4) de Sobradinho 2, que, atualmente, conta com um clube de leitura.

Apesar de ser um desejo da escola há muito tempo, Simone Delgado, coordenadora do CEM 4 de Sobradinho 2, explica que o clube de leitura surgiu a partir da iniciativa dos próprios alunos, a fim de debaterem livros no horário do intervalo. A iniciativa fez com que a coordenação da escola, ao lado dos professores, se organizassem para acompanhar e auxiliar o desenvolvimento do projeto.

O clube conta com professores-tutores, que não têm o papel de fazer uma aula ou uma dissecação do livro, mas de orientar o diálogo e trazer assuntos que os alunos talvez não tenham percebido durante a leitura.

As obras são decididas pelos próprios alunos, mas os professores também fazem sugestões — principalmente de títulos que estão vinculados ao Programa de Avaliação Seriada (PAS), Enem ou vestibular. Os livros escolhidos podem variar entre não-ficção, romance, fantasia, suspense e outros gêneros literários, não havendo muitas restrições.

“Estamos notando que os alunos se auto-incentivam e estão chamando outros alunos para aderir às leituras”, afirma Simone. “E alguns vão para conhecer e, aos poucos, acabam se engajando em leituras que nem eles sabiam que iriam gostar.”

Participam do clube de leitura alunos do primeiro, segundo e terceiro ano do ensino médio. No total, são cerca de 16 participantes recorrentes. Atualmente, estão lendo Torto Arado, de Itamar Vieira Junior — obra vencedora do Prêmio Jabuti.

BiblioSesc

De acordo com Simone, a parceria com o Sesc está ajudando a fortalecer o clube de leitura. A instituição conta com um projeto onde uma biblioteca móvel é estacionada, no mesmo ponto, de forma quinzenal. Um dos pontos da BiblioSesc — como o projeto foi intitulado — é o CEM 4. A parceria surgiu através de um edital, em que as escolas poderiam se inscrever para receber a biblioteca móvel. 

Com 3 mil livros no acervo, a BiblioSesc fica disponível para que os alunos possam fazer empréstimos de obras que, muitas vezes, não têm na escola. “Além de fortalecer o hábito de leitura, o projeto permite que a comunidade do entorno também possa acessar essa biblioteca e fazer os empréstimos”, explica a coordenadora.

Simone explica que uma pesquisa de perfil é feita anualmente na escola. Em 2024, foi a primeira vez, dentro de cinco anos, que o perfil esteve invertido, havendo mais não leitores do que leitores. Este ano, a coordenadora aponta que os números ficaram divididos entre os dois grupos.

“Se tivermos clubes de leitura e reforço de leitura e de escrita dentro das escolas, seria um grande apoio para o desenvolvimento do cidadão como um todo”, pontua Simone.

Em 2024, foi a primeira vez, dentro de cinco anos, que o perfil esteve invertido, havendo mais não leitores do que leitores
(Crédito: Freepik)

Os efeitos do clube de leitura

Danielle Franco, de 16 anos, é aluna do CEM 4 e passou a participar do clube de leitura da escola a partir de agosto de 2024. A estudante revela não ter dificuldades para ler as obras escolhidas, sendo, muitas vezes, uma oportunidade interessante de explorar novos gêneros literários e redescobrir aqueles dos quais não gosta.

Sobre a experiência da leitura em conjunto, Danielle revela que foi uma surpresa. “Eu sempre li sozinha e achei muito incrível poder ler e compartilhar o que eu acho do livro, as minhas ideias e também saber as ideias das outras pessoas”, revela. “É uma forma de criar vínculos com outras pessoas.”

Danielle afirma que as discussões ajudam a entender e descobrir outros pontos de vista de uma mesma história. Outro ponto abordado por ela é a troca de experiências entre os integrantes do clube. O projeto conta com alunos do primeiro, segundo e terceiro ano, fazendo com que pontos de vista de diferentes idades e vivências se encontrem em um único lugar.

Para a estudante, o clube plantou o hábito e a vontade da leitura, além do desejo de fazer análises dos livros lidos. Já a leitura em si, permitiu que Danielle melhorasse a fala, a escrita e o desenvolvimentos de argumentos — seja para uma redação ou uma discussão.

A estudante também comenta sobre os debates, afirmando serem importantes para aprender a escutar a ideia e o pensamento do outro, mesmo que seja diferente da sua.

“Agora estamos lendo Torto Arado, um livro nacional sobre duas irmãs do Nordeste. Estamos debatendo sobre ele e isso acaba ajudando com que a gente entenda melhor as personagens, os traumas que elas passam e a força delas”, pontua.

Custo alto dos livros

Para Simone Delgado, o grande problema em relação à literatura no Brasil é o custo dos livros. “Até os e-books são extremamente caros, estando além da realidade da classe baixa e média”, afirma a coordenadora. “As pessoas vão optar por não fazer a compra de um livro em detrimento de outra coisa. Se for pensar em pessoas em situação de vulnerabilidade, elas não vão optar por comprar um livro. Eu acho que a acessibilidade de livros deveria ser maior.”

A questão também é abordada por Danielle. “Eu não sei o que teria que ser feito para abaixar o preço, mas acho que essa é uma questão interessante, sendo o valor uma forma de incentivo para que as pessoas comecem a ler.”

O preço dos livros no Brasil é uma discussão antiga. Em 2024, dados do “Painel do Varejo de Livros no Brasil” apontaram que o preço médio de um livro era de R$ 44,56 em dezembro de 2023, sendo considerado barato para alguns e caro para outros.

Em outubro do ano passado, foi para a Câmara um projeto de lei que visa a defesa das livrarias e o barateamento do preço dos livros. A PLS 49/2015 ainda está em tramitação e, em novembro, foi divulgado que estava pronta para a deliberação do Plenário.