Importância da leitura na educação infantil

Segundo a pesquisa do Instituto Pró-Livro, em mais de 200 cidades brasileiras, 71% das crianças têm o hábito de leitura, sendo que a maioria delas lê todos os dias

Joana Lacerda

Postado em 20/06/2022

A leitura é fundamental na vida do ser humano. E quando se trata de educação infantil, talvez tenha uma importância ainda maior. A leitura contribui com o desenvolvimento da criança e estimula muitos hábitos no seu processo de aprendizado. Recentemente, o Instituto Pró-Livro realizou uma pesquisa em mais de 200 cidades brasileiras e relatou que 71% das crianças têm o hábito da leitura, sendo que a maioria delas lê todos os dias. 

Leandra Faleiro, mãe de uma criança de 11 anos, conta que incentiva a leitura para o seu filho desde que ele era bebê. “Eu lia com ele aqueles livros só com imagens, com sons e com texturas. Eu sempre deixei à disposição dele, e aí, quando ele começou a ler, ele já procurava os livrinhos adequados para a idade.” Ela relata que não era acostumada a ler na infância, e os poucos livros que lia eram mais por obrigação. “A experiência com livros que eu tive não foi boa e acredito que, exatamente por isso, eu quis introduzir na vida do Caio de uma forma mais leve, mais divertida. Então, foi justamente o fato de eu não ter tido a leitura na minha infância que fez eu querer que o Caio tivesse esse hábito”.

Walter Guarnier, doutor em Letras e mestre em Linguística Aplicada, acredita que o incentivo à leitura na infância é extremamente necessário. O professor do curso de pedagogia do Centro Universitário IESB explica que muitos pais acreditam que o incentivo à leitura começa apenas quando a criança está alfabetizada, mas, na verdade, esse incentivo começa com a contação de histórias. “É importante contar histórias. Mesmo quando a criança ainda nem sabe ler, ela pode se apropriar da história por meio da fala de um adulto. Por isso é tão importante esse momento de contação de histórias pelo pai ou pela mãe”. 

De acordo com Walter, os mecanismos de leitura que são acionados quando uma pessoa sabe ler, são os mesmos quando você escuta uma história. “Porque você vai processar as informações, fazer deduções, antecipações da história, vai fazer leitura de perfil de personagem. Todos esses mecanismos cognitivos acontecem na análise do enredo da história”. Walter explica que, num primeiro momento, a criança não precisa ser alfabetizada para refletir sobre essa história e aquilo que é passado enquanto informação. “É fundamental esse incentivo desde muito cedo, para que a criança desenvolva, por exemplo, o lado crítico por meio da leitura, interpretação dos textos e da própria imagem do livro. Ela pode não saber ler, mas ela consegue se apropriar daquela imagem e tentar compreender o que está acontecendo.”

Márcia Alves leciona para o segundo ano do Ensino Fundamental I e trabalha bastante a leitura com seus alunos, que estão na faixa de seis a sete anos. Ela conta que tem uma biblioteca disponível na escola, mas criou um cantinho da leitura dentro da própria sala onde deixa os livros expostos para as crianças escolherem. “Neste cantinho da leitura, todos os dias, temos nosso momento de deleite. É onde eu conto a história e, tem o dia que eles contam. No dia deles tem a sacola literária, onde eles escolhem o seu livro e levam para casa. Em casa eles vão fazer a leitura de imagem, ou seja, leitura visual. Os benefícios são grandiosos. Desenvolve o cognitivo, imaginação, concentração, criatividade, raciocínio lógico de maneira grandiosa. Eles têm uma imaginação espetacular”, menciona.

A leitura traz muitos benefícios para as crianças / Foto: Unsplash

A leitura diminui na fase adulta?

Em 2008, a “Retratos da Leitura no Brasil” revelou que o índice de leitura entre crianças acima de 5 anos foi de 4,7 livros lidos por ano. Em 2000, o número foi bem menor: apenas 1,8 livros lidos. Para a psicóloga Júlia Salvagni, o incentivo à leitura é fundamental desde os primeiros dias de vida, pois é importante criar o hábito de ler com um bebê e ensinar a cadência da voz, a oralidade e o interesse pelas palavras. “Conforme o bebê vai ficando mais velho, vai tendo a aquisição de outras funções no desenvolvimento. Ele vai ter o contato com a textura do livro, ele vai ver as imagens, vai se sentir curioso e aquilo vai estimular a criatividade, a atenção, a concentração e futuramente o interesse pelas palavras, pelas letras, pelo som”.

“O bebê vai se sentir curioso e aquilo vai estimular a criatividade, a atenção, a concentração e futuramente o interesse pelas palavras, pelas letras, pelo som” / Foto: Unsplash

Júlia conta que tem o hábito de ler com a sua filha, que tem seis meses de idade. “Ela pode não compreender da mesma maneira que um adulto compreende. Mas a forma como eu pronuncio as palavras, a cadência da minha leitura e as cores do livro, tudo isso teve uma função em um lugar no desenvolvimento cotidiano dela”. 

A pesquisa da “Retratos da Leitura no Brasil”, publicada pelo Instituto Pró-Livro, relata que leitores entre 11 e 13 anos leem, em média, 8,5 livros por ano. Já na faixa etária dos 30 anos, o número cai para 4,2 livros. Walter acredita que esse número tenha a ver apenas com livros literários. “Ao meu ver essa queda não necessariamente tem a ver com a falta de incentivo. Pelo contrário. Eu acho que temos muito incentivo na fase da adolescência e na fase adulta. Acredito que essa queda está mais relacionada ao ritmo de vida dos indivíduos. Se a gente pegar, por exemplo, crianças de onze a treze anos que leem mais ou menos oito 8,5 livros ao ano, são crianças que geralmente só estudam ou fazem um curso. Então tem mais tempo para se dedicar à leitura”. O doutor em Letras explica que, na fase adulta, as demandas acabam tomando muito tempo. “Por exemplo, carreira, trabalho, uma faculdade. Então assim, o tempo para leitura literária diminui.”

Como a leitura pode ajudar na infância

Em sua profissão, Júlia relatou uma história que aconteceu e que a leitura ajudou: “trabalhei com uma criança que ia passar pela destituição do poder familiar. Significa que ele ia ser cadastrado para adoção. E, fazendo a preparação dele para adoção, a gente leu um livro infantil que falava sobre animais selvagens na cidade. Não tinha nada a ver com o tema específico da adoção, mas era um livro muito gráfico que você tinha que achar alguns animais na cidade. Então ficamos algumas sessões lendo esse livro e ele tinha que achar os animais nesses lugares improváveis. E, a partir dessa leitura, ele pôde se transformar num leão (nas brincadeiras dos lugares improváveis). Até que a gente pudesse chegar no tema de falar sobre chegar numa família, que é uma família improvável, explicando que não é essa família na qual ele cresceu, mas uma família que iria adotá-lo.”

“Foi muito simbólico isso, porque foi um livro que ele escolheu, um livro muito aberto com uma temática muito lúdica, uma proposta muito divertida e ele pôde ir fazendo as elaborações dele se colocando e se identificando com aqueles personagens, e isso é de muita importância”, finaliza.

Para Leandra, a leitura ajudou muito no desenvolvimento do seu filho. “Eu vejo que o vocabulário dele é bastante extenso. Ele busca o significado das palavras. Então ele escreve super bem redação, textos. Não tenho dúvida de que há esse benefício”. A professora Márcia Alves conta que já recebeu relatos dos pais dos alunos, em que começaram a observar e valorizar o desempenho das crianças e o interesse pelos livros. “Assim os pais começaram a oferecer livros infantis, incentivando a leitura por prazer. Durante as aulas, o interesse é nítido quando chamam para o cantinho de leitura, é gratificante ver os olhinhos de cada um brilhando.”