Fisiculturismo como poder de cura

Maria do Socorro começou sua jornada como fisiculturista após a morte do seu filho e, aos 63 anos, pensa em voltar a competir

Ana Vitória Rafalovik

Postado em 10/12/2021

Aos 63 anos, Maria do Socorro Ferreira da Silva esbanja disposição e vitalidade. Com 50 anos de idade, após a perda de seu filho, a funcionária pública da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) recorreu a exercícios físicos para lidar com sua dor. Com isso, Maria do Socorro descobriu sua paixão por musculação, que terminou em uma direção, que para muitas pessoas, parecia impossível, competir e apresentar no fisiculturismo. 

Como surgiu seu interesse no fisiculturismo? 

Comecei a correr, ganhei medalhas e prêmios, mas a corrida estava me dando envelhecimento na pele, porque libera radicais livres, era uma sensação maravilhosa correr, mas perdia musculatura, aí comecei a fazer os dois e abandonei a corrida, mas já com o foco no fisiculturismo, procurei ajuda, nutricionista e profissionais.

Para mim o fisiculturismo foi mais do que vaidade, não vou falar que não tem, tem sim, mas foi muito além disso, foi um poder de cura. Eu passei pela perda do meu filho e não quis recorrer a remédios antidepressivos. Foi uma situação adversa, vi meu filho morto, mas não conto isso para ninguém ficar com dó de mim ou me vitimizar. 

Acredito que a musculação é um dos exercícios mais completos que existe. Comecei por uma necessidade, você não acha que, com 63 anos, eu não gostaria de estar na frente da televisão, comendo e falando mal da vida dos outros? Mas, me dou essa chance de fazer diferente e eu amo a musculação. Durante a pandemia, eu fiz uma academia dentro de casa, comprei pesos e fazia exercícios, não parei um dia.

No fisiculturismo, você faz um trabalho na sua musculatura para você ter resistência, tanto que os atletas fazem musculação, eu sou apaixonada. Não quero sair disso, já estou me preparando para os meus 70 anos. 

Explique um pouco sobre sua rotina:

Eu sempre tento manter um grau, em que não caia muito a qualidade dos músculos, porque eu penso sempre em competir, mas também por vaidade.

Sua idade afeta seu desempenho?

Hoje tenho 63 anos, a última competição que participei foi em 2018, foi mais uma apresentação, porque é difícil na minha idade eu conciliar o fisiculturismo e não tem pessoas para eu competir na minha categoria. Já competi com 12 mulheres, a mais velha tinha 35 anos, então disputei com uma pessoa que tem um estrutura e pele diferente da minha, é complicado.

Você já sofreu preconceito?

O fisiculturismo é muito mal visto, porque não passa despercebido, você na rua, já dá para identificar. Eu não passo despercebida, as pessoas me encaram como se estivessem vendo um ET. Antigamente, eu me sentia constrangida quando chegava em alguns lugares e as pessoas levantavam ou riam, mas hoje acho massa.

Já senti preconceito, até da minha própria família. Tiveram pessoas que queriam me internar quando comecei. Minhas irmãs falavam que tinham medo de ir para a academia e ficar com os braços iguais aos de um homem, mas elas comentam que queriam ter minhas pernas, mas falo que é um pacote completo, ou você ganha tudo ou não ganha nada. Não consigo me ver fora 

Quais os benefícios que o fisiculturismo trouxe?

Não tenho problema com quedas, recentemente, quase caí de uma escada muito alta, mas consegui me equilibrar só com a força das minhas pernas. O médico me disse que tenho o caminho para desenvolver osteoporose, mas ainda não tenho a doença, por conta da atividade física.

Hoje não tenho nenhum problema de saúde, recentemente, meu marido faleceu de Covid-19, com 40 anos, ele era ciclista e eu resisti a doença. Sei que é uma adversidade, tinha que acontecer, era o tempo dele, o meu também vai chegar. Mas, o que eu puder fazer para chegar bem neste dia, eu vou lutar para isso.

Eu enxergo mais como levar o benefício para as outras pessoas e acreditar que elas podem tudo. Principalmente agora na pandemia, em que as pessoas estão mais depressivas, conseguir levar isso a elas não tem preço. 

Como é sua dieta?

O meu normal já é uma dieta. Todo mundo diz que na segunda-feira vão começar a dieta, eu já falo que é o dia que vou comer o que quiser, sou apaixonada por pão. Sigo uma rotina que já é normal no meu cardápio, como frango, ovo, peixe, carne vermelha e pouco carboidrato. Mas minha alimentação é bastante restrita para doces, tomo suplementos e vitaminas.

Você sempre teve apoio da sua família e amigos?

Hoje minha família me apoia mais. Eu tinha 50 anos quando comecei, isso foi em 2008, e  no ano seguinte, foi minha primeira competição. Nessa ocasião, ninguém foi e no outro ano todo mundo foi, já queriam virar fisiculturistas. 

Qual é a sua motivação?

Querendo ou não, as pessoas se espelham em você. Então de qualquer forma você se sente na obrigação de ajudar as outras pessoas, como um dever. Se está me fazendo bem, porque não levar para os outros.

Em 2018, fiz uma despedida no fisiculturismo com 60 anos, hoje, com 63 estou pensando em voltar. Se colocar na frente das pessoas e elas pensarem como eu faço tudo isso com a minha idade, é fantástico. Para mim, não tem preço quando alguém fala que estava desanimado para ir a academia, mas lembra de mim e vai. 

Até hoje eu não acredito, me pergunto o que estou fazendo aqui. Comecei as atividades físicas correndo, ganhei medalhas e prêmios. Mas a corrida estava me dando envelhecimento na pele, porque libera radicais livres, era uma sensação maravilhosa correr, mas perdia musculatura. Então abandonei a corrida e fui para a musculação, mas já com o foco no fisiculturismo, procurei ajuda, nutricionista e profissionais.