Jiu-Jitsu além dos tatames
Como a prática dessa modalidade pode mudar a vida de atletas
Postado em 16/05/2022
O Jiu-Jitsu brasileiro é uma arte marcial de raiz japonesa, sem origem exata, que se utiliza essencialmente de golpes de alavancas, torções e pressões para levar um oponente ao chão e dominá-lo. Durante os treinos são trabalhados o autocontrole, disciplina e controle da violência.
Muitos procuram essa modalidade como uma forma de se exercitar, mas acabam encontrando no tatame um lugar de refúgio. É o caso de Lucas da Costa, que procurava uma atividade física por recomendação médica e chegou ao Jiu-Jitsu através de um amigo. Ele afirma que a prática diminuiu significativamente os sintomas de depressão e ansiedade e trouxe mais disposição para outras atividades. “O que mais tem me ajudado é o apoio de todo mundo aqui dentro, quando você tem algum problema é difícil de se abrir, mas eles percebem e vêm atrás.” Após 8 meses treinando na academia Team Vini, Lucas afirma que um de seus maiores incentivos é a graduação e troca de faixa.
Wandersy Francisco, apelidado de Tio Décio, comenta que o Jiu-Jitsu foi um divisor de águas em sua vida. Por questões pessoais, ele desenvolveu problemas com álcool e drogas, mas por insistência do seu sobrinho, Jean, ele voltou aos tatames após 22 anos parado. “Hoje eu sou faixa azul 4° grau, ainda tenho muito a aprender no Jiu-Jitsu, mas já me sinto um vencedor só pelo fato de eu ter deixado para trás coisas que não acrescentavam nada à minha vida. O Jiu é uma coisa extraordinária”. Tio Décio afirma ainda que uma de suas maiores motivações é a relação com os outros atletas: “Eu me comprometi a ser destaque, eu preciso mostrar para as pessoas que elas não estão apostando em mim à toa.”
Projetos sociais
Além de prática esportiva, o Jiu-Jitsu é uma forma de alcançar crianças e adolescentes. Silas Farias, faixa marrom, começou um projeto voltado para crianças, mas que hoje atende pessoas de todas as idades ensinando muito mais que a luta, como também o respeito, o foco e a disciplina. “Hoje eu posso ver os frutos desses ensinamentos, eles estão melhorando na escola, respeitando mais os pais e os colegas.”
Além das regras que regulam a prática esportiva, o Jiu-Jitsu possui regras internas que reforçam a importância de respeitar o tatame e os outros atletas. Entre essas regras estão a pontualidade, manter sempre o Kimono limpo e alinhado, respeito aos mais graduados e não promover algazarras.
A modalidade também é uma forma de promover a diversidade. O projeto Lutando pela inclusão tem como objetivo despertar o talento que todos possuem, independente das particularidades e individualidades, sendo um espaço aberto a qualquer um que tenha interesse na prática. Ana Luiza Ribeiro, mãe do Benjamin de 5 anos, que é autista, conheceu o projeto através de uma amiga psicóloga e afirma que o filho tem evoluído significativamente no último ano. Daniella, mãe do João Ricardo, de 16 anos, comenta que o filho desenvolveu mais força, flexibilidade e ganho de massa muscular, mas que os benefícios não são apenas físicos. “ Nós temos essa visão de que o esporte colabora com a parte física, mas ele teve ganho principalmente na parte cognitiva, melhorando compreensão, socialização e disciplina.”
“As turmas não são formadas apenas por crianças autistas, então existe de fato a interação e inclusão” , afirma Ana Luiza, mãe de um dos alunos do projeto.
A Federação de Jiu-Jitsu de Brasília tem hoje um compromisso de promover a cultura de paz e o estilo de vida saudável para crianças e adolescentes em vulnerabilidade social. Os responsáveis por esses projetos podem se registrar no site da federação gratuitamente e participar de eventos beneficentes promovidos pela mesma. “Os valores ensinados são mantidos dentro e fora do tatame, não apenas nas crianças, mas também em todo o seu núcleo familiar”, diz Thâmara, representante da FJJB.