Bio na Rua resiste como um dos únicos museus de história natural do Centro-Oeste

O projeto de extensão da Universidade de Brasília viaja pelo Distrito Federal para espalhar informações sobre a fauna e flora do cerrado para a comunidade local.

Isadora Mota

Postado em 24/09/2021

Idealizado e desenvolvido por estudantes e professores da graduação e pós-graduação da Universidade de Brasília (UnB), o projeto Bio na Rua busca incentivar a reflexão a respeito da conservação da fauna e flora do cerrado brasileiro. Em atuação desde meados de 1995, a iniciativa funciona como um museu de história natural ambulante, que ocupa diversos lugares do Distrito Federal com o acervo de biologia da universidade, espalhando informações sobre os biomas nacionais e fomentando a educação ambiental da região. 

O doutor em Ecologia e coordenador do projeto, Paulo César Motta, explica que o Bio na Rua é uma extensão universitária que promove a biologia como ciência, divulga a biodiversidade e espalha o conhecimento para a comunidade local, com o intuito da valorização e preservação ambiental. A iniciativa é desenvolvida em parceria com o Laboratório de Aracnídeos na UnB e sob orientação de professores do  Departamento de Zoologia.

“São poucos os museus de história natural no Centro-Oeste e no Brasil como um todo, por isso, o Bio na Rua existe e resiste também em função do suprimento dessa escassez”, destaca o ecólogo. 

A partir de atividades lúdicas, apresentações, coleções científicas, animais vivos e empalhados, a ação alcança públicos de todas as faixas etárias, o único pré-requisito é o interesse em conhecer a biodiversidade. O acervo é o mesmo para todas as exposições, mas os conteúdos e a forma de repassá-los são adaptáveis, sendo sempre remodelados de acordo com a idade do público. 

“O Bio na Rua se dá muito bem com todo público. Ter as peças de intermédio facilita muito o repasse de conteúdo. A gente tenta, a partir das explicações científicas, uma linguagem acessível para mostrar, por exemplo, que não precisa matar todo bicho que se vê, todos tem a sua função ecológica, pouquíssimos fazem mal ao homem”, conta Paulo César.

Para Anandha de Almeida, bióloga e voluntária do Bio na Rua, o princípio da educação ambiental é promover experiências, por isso, as ações do projeto se esforçam para apresentar informações contextualizadas com o lugar em que a exposição está acontecendo para aflorar a identificação do público. 

“Não tem como achar que vamos conservar o meio ambiente só usando artigo científico, a gente precisa comover a pessoa para que elas entendam que aquilo (os bichos, insetos e plantas) servem para ela também. É preciso fundamento prático, trazer os fatos para o dia a dia das pessoas, para sensibilizar e emocionar”, esclarece Anandha.

Ivy Garcez, 27, mestre em biotecnologia, esteve como público em uma das feiras de exposições realizadas pelo Bio na Rua. Para a jovem, as ações estão alcançando o intuito desejado: “Eu cheguei no estande do Bio na Rua sem saber nada, principalmente sobre animais, e lá eu tive contato com coisas que eu nem sabia que existiam”. 

Ivy conta que a iniciativa espalha, de uma forma assertiva e eficiente, a divulgação científica e a educação a quem quiser matar a curiosidade sobre bichos e plantas, e instiga um sentimento de alerta para que a comunidade comece a olhar e admirar mais a riqueza natural do país. 

Pequenos projetos impactam o meio ambiente?

Em um cenário difícil para a preservação ambiental, onde o desmatamento alcança altos números para dar espaço ao desenvolvimento do agronegócio, como indicam estudos realizados pelo Projeto MapBiomas e do Atlas da Agropecuária Brasileira, o diretor de conservação do World Wide Fund for Nature (WWF), Edgar Rosa, pontua que esses pequenos projetos desenvolvidos pela comunidade civil e acadêmica são fundamentais.

“Conseguir que as comunidades e sociedades se mobilizem para mudar o seu contexto local é fundamental. É assim que realmente se constrói uma base para uma sociedade mais sustentável. Quando somadas, as pequenas iniciativas geram bastante impacto”, explica Edgar.

O diretor também coloca a educação ambiental como algo essencial para que a realidade ecossistêmica se reestruture, mas analisa ser algo pouco incentivado no Brasil. “A educação precisa ser muito mais fortalecida e precisamos entender a relação entre o homem e o meio ambiente. Se a gente conseguisse ter essa clareza na formação das novas gerações, isso com certeza traria muita diferença na forma com que a gente se relaciona com o meio ambiente”, conta. 

Serviços Bio na Rua

As visitas podem acontecer em escolas voltadas para todas as idades, cursos, feiras, exposições e conferências. As ações, que dependem de alunos e professores voluntários para acontecer, não recebem nenhum tipo de investimento e ajuda financeira, são realizadas com o custeio dos próprios e não possuem nenhum fim lucrativo.

No caso das escolas particulares, os voluntários pedem uma ajuda de custo para arcar com a gasolina utilizada na locomoção. 

As visitas podem ser marcadas por meio do e-mail bionaruaunb@gmail.com ou Instagram, Facebook e Twitter @bionaruaunb.