Biodiversidade em risco: urbanização e tráfico ameaçam fauna do Cerrado em Brasília

Especialistas contam como funciona a preservação da fauna e dos animais silvestres, incluindo os riscos que o Cerrado e os animais sofrem.

Ana Clara Santana Vilela

Postado em 08/04/2025

Brasília é a capital do Brasil, e está situada no Cerrado, um dos biomas mais ricos em biodiversidade do mundo. Nele vivem muitos animais silvestres como lobos-guarás, tamanduás-bandeira, tucanos, araras e jaguatiricas. Contudo, por causa da urbanização, das queimadas causadas por humanos e do tráfico de animais, a sobrevivência dessas espécies está em constante risco.

O biólogo Fábio Hudson Souza Soares diz que o maior desafio para a preservação da fauna desta região é a expansão urbana. “Ela transforma muito os ambientes naturais. A expansão rural também, de alguma forma, tem um impacto menor, mas causa alterações”. Ele reforça que um dos desafio seria a perda do habitat. Teria também outras causas como caça, atropelamento, e diz: “o maior desafio mesmo seria conseguir preservar as áreas remanescentes e formar corredores ecológicos”.

Tendo em mente que a urbanização e os desmatamentos são os mais prejudiciais para a fauna e os animais, o biólogo diz que a perda do habitat, a transformação desses ambientes que ainda possuem áreas nativas se dá seja pela urbanização, seja por propriedades rurais. Ele contou que o DF tem o problema da expansão urbana, e mesmo outras cidades sendo urbanizadas, Brasília, desde da década de 80 para cá, vem aumentando muito. E isso teve um impacto muito severo nos animais.

Furão-pequeno ( Galictis cuja) Foto por: Brasília é o Bicho!

Dando foco agora às espécies mais ameaçadas de Brasília, Fábio nos diz o seguinte: “ as espécies mais ameaçadas são justamente aquelas que dependem de maiores áreas para a sua sobrevivência. Então os animais que dependem de grandes territórios, pois necessitam que nesse território tenha qualidade, eles precisam de presas, que tenha água, tenha refúgio”. O biólogo acrescentou que os animais que andam muito precisam de territórios grandes, como a onça pintada, onça parda, lobo guará e o tatu canastra que é uns dos mais ameaçados. O mesmo acontece com o cachorro- vinagre que quase não é mais encontrado..

Adentrando mais a fundo sobre o tráfico de animais, que é um problema que acontece em muitos lugares, Fábio Hudson diz: “o tráfico de animais pode sim afetar a fauna local. Aqui em Brasília não é tão forte, com exceção da questão das aves. Tem muitas pessoas que buscam as áreas de vegetação nativa com armadilhas em busca de passarinhos, como o pássaro preto e o canarinho”. Eles seriam então os mais relevantes na questão de tráficos e “isso já diminuiu bastante ao longo do tempo”, comentou Fábio. O biólogo também falou que aqui em Brasília é algo combatido, ou seja, vem acabando. “Em outras regiões do Brasil já é mais sensível quando vem a questão da ararinha azul na Bahia”. Ele mencionou que o tráfico, umas décadas atrás, impactou bastante, mas atualmente a questão do tráfico é menos relevante que a perda do habitat.  

Incêndios florestais também recebem muito foco, pois é um dos problemas que vem acontecendo com bastante frequência. O biólogo Fábio diz que os incêndios florestais podem, sim, afetar a fauna, por mais que haja incêndios naturais no bioma Cerrado.”Como eles vão ocorrer na época das chuvas, não se alastram por estar em uma época mais úmida, pode ter uma chuva e controlar isso. Mas as queimadas causadas por humanos são o real problema. “Isso está tornando os incêndios cada vez mais frequentes e isso, sim, vai impactar significativamente a vegetação, os animais porque a frequência do fogo que é o problema e não o fogo em si, porque é algo que ocorre naturalmente no Cerrado, mas a frequência que tem atualmente, por exemplo todo ano queimar uma área, certamente ela vai ser seriamente afetada, ressalta o especialista. 

Ele termina falando sobre a importância da conscientização e que o projeto Brasília é o Bicho! ajuda as pessoas a ter um pouco mais de conhecimento das espécies. A proposta do projeto é “principalmente mostrar a biodiversidade que temos, para que órgãos, gestores governamentais e não governamentais comecem a se importar e olhar para esta região e com isso trazer mais ações que visam a conservação da biodiversidade”.   

Animais silvestres e a fauna correm risos diariamente

O engenheiro florestal Yago Guedes Alexandre mostra como as queimadas em grandes proporções afetam os animais. Ele diz: “As queimadas afetam gravemente os animais, destruindo seu habitat e fontes de alimento, o que pode levar à morte direta de muitos deles. Espécies com pouca mobilidade, como répteis e insetos, são especialmente vulneráveis. Além disso, o fogo altera o equilíbrio ecológico, fragmentando o habitat, dificultando a migração e reduzindo a disponibilidade de recursos. Isso pode afetar a sobrevivência de várias espécies e, a longo prazo, comprometer a biodiversidade, já que o ambiente se torna menos adequado à vida animal.”

Falando ainda sobre o habitat, quando ocorrem queimadas ou a área é comprometida pela urbanização, os animais tendem a deixar o local. O engenheiro florestal afirma: “A perda de habitat causada pela urbanização e queimadas leva os animais a três destinos principais: deslocamento forçado, onde buscam novas áreas, mas enfrentam maior competição e riscos; fragmentação populacional, que isola as espécies e compromete sua sobrevivência genética; e extinção local, quando não conseguem se adaptar ou migrar para outros ambientes. Esses impactos prejudicam a biodiversidade e desequilibram os ecossistemas.”

Toda queimada causa algum impacto na fauna, e cabe aos profissionais do meio ambiente monitorar cada área afetada. Para que os monitoramentos sejam realizados corretamente, Yago explica que o monitpramento acontece por meio de observações de campo, câmeras-trap, rastreamentos e censos populacionais. Também são utilizados drones, imagens de satélite e análises genéticas para avaliar os efeitos na biodiversidade e na fragmentação do habitat. Esses dados ajudam a planejar estratégias de conservação, como restauração de áreas e criação de corredores ecológicos.

Onça pintada caminhando Foto por: Brasília é o Bicho!