Parque do Cortado influencia no abastecimento hídrico do DF

O parque abriga a nascente do Cortado, um dos córregos que deságua na bacia do Descoberto

Vítor Bueno

Postado em 13/09/2021

No período de seca, a preocupação com a degradação da biodiversidade do cerrado no Distrito Federal se instala devido ao crescente número de focos de incêndio, colocando em risco espécies que habitam o bioma e o baixo nível nos reservatórios de água que abastecem a capital. Nesse período, os órgãos de atuação nacional e local trabalham firmemente para a preservação dos recursos naturais e na conscientização da população.

De acordo com Ana Paula Camero, Agente de Unidade de Conservação do Instituto Brasília Ambiental (IBRAM), o órgão é responsável pelos recursos naturais no Distrito Federal e tem um papel fundamental para o manejo e preservação das unidades de conservação, como prevista no Sistema Distrital de Unidades de Conservação da Natureza (SDUC). 

No Brasil, é comum encontrar áreas de conservação de uso sustentável catalogadas que requerem atenção do Poder Público para a preservação, conhecidas como Áreas de Relevante Interesse Ecológico (ARIE). O DF abriga uma importante área do cerrado brasileiro, o ARIE Parque Juscelino Kubitschek (ARIE JK), pegando os limites do Parque de Uso Múltiplo do Cortado, o Parque Distrital Boca da Mata, o Parque Saburo Onoyama e o Parque Três Meninas. De acordo com Matheus Dalloz, biólogo com mestrado em ecologia, essa extensa faixa de vegetação protege toda uma área de relevo, a parte do ciclo biológico e hídrico. 

A ARIE JK possui uma área total de 2.306 hectares – Foto: Ambiente ao Redor

O Parque do Cortado 

O Parque de Uso Múltiplo do Cortado, em Taguatinga, tem um papel importante no abastecimento hídrico da população do DF. Ele abriga a nascente do Córrego do Cortado, riacho que deságua no ribeirão Taguatinga, um afluente do rio Melchior, do qual pertence à bacia do rio Descoberto, que é responsável por abastecer 62% da população do Distrito Federal, segundo dados publicados pela Agência Brasil. “O Córrego tem essa importância no serviço ambiental hidrológico. Está conectado com grandes bacias que são importantes para a população do Distrito Federal. Proteger essa nascente é proteger a produção de água e proteger a biodiversidade”, salienta Ana Paula Camero. 

 As águas provindas da nascente do córrego deságuam no Ribeirão Taguatinga – Foto: Vítor Bueno

A sobrevivência do parque é um tema em discussão. Os danos à ele causados podem trazer diversas consequências, visto que está inserido e envolto por uma das cidades satélites mais populosas de Brasília. Caso sua área seja destruída, a população do DF passará a conviver com crises hídricas mais frequentes, o que impactará nas produções agrícolas. Os idealizadores do Ambiente ao Redor, grupo de discussão formado por biólogos, explicam que a destruição de nascente vem associada a outros problemas ambientais, como perda e empobrecimento do solo e movimentos de massas e erosão.

Conscientização da população

O espaço verde serve de respiro para os frequentadores do parque e deve ser usado pela população de forma consciente e conforme conduta descrita no Plano de Manejo do parque. “É um espaço de contemplação, de lazer. O público é bem-vindo e necessário, desde que seja um uso compatível com a unidade”, alerta Ayuni Sena, bióloga. 

As ações de preservação da natureza requerem um movimento conjunto entre os órgãos responsáveis e a sociedade. A bióloga Giselle Fraga aposta na educação ecológica da população, pois acredita que as pessoas só preservam o que conhecem e entendem. Em conjunto com Matheus Dalloz e Ayuni Sena, ela desenvolveu o projeto Ambiente ao Redor (@ambienteaoredor), grupo de discussão ambiental com foco na inclusão da sociedade.  

“Nós temos a intenção de falar sobre meio ambiente mais próximo das pessoas, trabalhar com os profissionais da área ambiental, contribuir para o aprimoramento dos profissionais, mostrar o trabalho e experiência de outras pessoas. Queremos trazer as pessoas para o nosso lado, falar a linguagem delas, mostrar, não só a importância do meio ambiente, mas como elas são parte disso, ajudar a entender como desempenhar esse papel, porque, se as pessoas não estão mobilizadas, temos pouca efetividade nas ações”, fala Ayuni.

O Parque do Cortado é preservado pelo Instituto Brasília Ambiental em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente – Foto: Vítor Bueno