A obesidade como consequência da pandemia

A angústia e o confinamento gerados pela pandemia, fizeram a obesidade ser consequência desse período conturbado

Por: Brunna Feitosa, João Vitor Rapousa, Audrey R. Mendes e Rafael Magalhães

Postado em 02/12/2021

A obesidade depende de muitos fatores e suas causas podem estar relacionadas a aspectos genéticos, ambientais e emocionais, que muitas vezes atuam de forma simultânea. É também um fator de risco para a COVID 19, dificultando o tratamento. Por outro lado a angústia e o confinamento gerados pela pandemia, fizeram a obesidade ser consequência deste período conturbado.

Muito além dos padrões estéticos, o indivíduo obeso sofre uma doença crônica que pode desencadear várias doenças como hipertensão, diabetes, aumento do colesterol, infarto, AVC, acumulo de gordura no fígado entre outras. E durante a pandemia indivíduos com obesidade entraram para o grupo de risco, podendo desenvolver sintomas mais agressivos da doença.

Um dos principais motivos apontados por profissionais de saúde é o constante estado de inflamação em que o corpo de uma pessoa com peso elevado se encontra. Esta sobrecarrega do organismo limita a sua reação e com a infecção pelo novo Coronavírus, o corpo pode não ter uma resposta imunológica esperada para combater a doença. Sem falar da capacidade respiratória que é afetada, devido ao sedentarismo, atrapalhando ainda mais o tratamento.

“Durante a pandemia as pessoas restringiram as práticas de atividade física, pioraram os hábitos alimentares e aumentaram o consumo de álcool. Também muitas pessoas evoluíram com ansiedade importante ou depressão, ou mesmo pioraram seu quadro psicológico basal, o que contribui significativamente para hábitos de vida não saudáveis. A consequência foi o aumento do peso e a alteração de alguns exames laboratoriais que usamos para estratificar o risco metabólico da pessoa, como a glicose, o colesterol, o ácido úrico e inclusive alguns marcadores inflamatórios.” Relata a cardiologista Joseane Brostel.

A Revista Saúde Pública trouxe um estudo realizado pelo Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP) envolvendo 14.259 indivíduos e mostrou que, durante a pandemia, 19,7% deles tiveram um aumento de ao menos 2 kg em seu peso.

O estudo também traz a ideia de que pessoas com nível de escolaridade e desenvolvimento menor podem ter tido menor acesso a alimentos frescos e/ou ter sido mais afetados pela publicidade de alimentos não saudáveis nesse período e ter tido menos tempo para realizarem refeições saudáveis.

Uma nova pesquisa realizada pela Universidade Emory, nos Estados Unidos, revelou que ingerir grande quantidade de bebidas açucaradas, como refrigerantes e sucos de caixinha, pode aumentar o risco de doenças cardíacas

Ansiedade e depressão

Vitor Oliveira, 24, relata que engordou 12 kg durante a pandemia, devido a quadros de ansiedade e depressão. “Ainda no início da pandemia fiz um projeto para emagrecer e cheguei a um peso bem legal. Mas de alguns meses para cá minha ansiedade descontrolou e em 5 meses ganhei 12 kg, dando início a um caso de depressão, descontando tudo em doces e lanches. Para você ter uma ideia, durante uns 3 meses eu comi um cachorro quente por dia sem parar.”

Segunda Joseane Brostel, ansiosos e deprimidos geralmente não fazem atividade física e têm os demais pilares de um estilo de vida saudável desequilibrados. Isso contribui diretamente para o aumento do risco cardiovascular. “A relação com a comida tem um fator emocional, psicológico e social muito forte. Nós não somente nos alimentamos para saciar a fome, mas também por ansiedade ou depressão, para preencher um vazio interior, ou para se relacionar com um grupo em algum evento e sentir um certo pertencimento”, diz a médica.

Para sair do estado de obesidade, seja ele adquirido devido a ansiedade e depressão ou não, a doutora acredita na instalação de bons hábitos de vida diários, construindo uma rotina saudável e equilibrada, “Alimentação saudável, atividade física, qualidade do sono, controle de tóxicos, manejo de estresse e relacionamentos. Há muitas evidências científicas que mostram que estes pilares são fundamentais para a nossa saúde global e para a redução do risco cardiovascular. Construir hábitos saudáveis sólidos é a única forma de construir saúde, caso contrário estamos sempre expostos às doenças, que seguem seu curso natural até que alguma atitude externa inviabilize isso.”