Vício em álcool e tabaco é influenciado por fatores genéticos, sociais e emocionais

Acompanhamento psicológico favorece o enfrentamento da dependência, permitindo que a pessoa recupere sua autonomia

Pedro Henrique Taquari Antunes

Postado em 15/04/2025

O uso de álcool ou tabaco começa muitas vezes com a busca por prazer ou alívio do estresse. Depois que o vício se instala, é difícil abandonar o hábito: podem surgir questões psicológicas, como ansiedade, que exigem apoio especializado para a recuperação.

Estudos mostram que o consumo de álcool entre universitários é alto, com até 76,6% em baixo risco, mas 23,4% em risco ou uso abusivo. O tabagismo é menos comum, variando entre 3,3% e 22,8% dependendo do curso e do ambiente familiar. Pesquisas indicam que muitos iniciam esses hábitos antes da universidade e que o uso de tabaco e drogas ilícitas aumenta o risco de consumo excessivo de álcool.

Clifton, universitário, começou a fumar maconha e a beber há cerca de um ano. A maconha o ajuda na criatividade, enquanto o álcool é apenas um hábito social. Seu consumo é frequente, especialmente do tabaco, que ele usa diariamente. “Já tentei parar, mas sinto dificuldade ao ver outros fumando ao meu redor”.

Fisicamente, ele relata cansaço devido ao tabaco, e, mentalmente, percebe que a maconha pode causar confusão quando consumida em excesso. A família, de base evangélica, se preocupa. Os amigos, em grande parte fumantes, também expressam o desejo de parar um dia.

Clifton sente mais vontade de fumar quando está estressado ou à noite. “A maconha funciona como válvula de escape”, revela. Ele considera que campanhas contra o álcool e o tabaco não são eficazes. “Se pudesse voltar atrás, evitaria o tabaco, mas ainda assim experimentaria a maconha”.

Na América Latina, os custos com doenças relacionadas ao tabaco ultrapassam 34 bilhões de dólares anuais. No Brasil, movimentos como o Propaganda Sem Bebida tentam restringir a publicidade de álcool para reduzir o consumo. Apesar de avanços, ainda faltam políticas públicas eficazes para prevenção e tratamento.

Luiz Gabriel começou a fumar como válvula de escape e por influência externa, mas decidiu parar após perceber os impactos negativos na saúde. “Fumei por cerca de dois a três anos e enfrentei a abstinência da nicotina”.

Ao focar na melhoria da condição física e com o incentivo de amigos, Luiz aponta os principais benefícios. “Melhora a disposição e a capacidade respiratória”. Para lidar com a vontade de fumar, ele busca manter-se ocupado com atividades como jogos e alimentação.

Parar de fumar traz benefícios imediatos à saúde, como a redução do risco de doenças cardiovasculares e respiratórias. No entanto, a abstinência de nicotina pode causar sintomas como ansiedade e irritabilidade. Estudos mostram que métodos como medicamentos (citisina e vareniclina) e apoio comportamental aumentam as chances de sucesso. Além disso, pesquisas indicam que o coração começa a se recuperar logo após parar de fumar, reforçando a importância de abandonar o tabagismo o quanto antes.

Karine- Psicóloga/Polícia Militar

Karine, psicóloga, explica que o vício em álcool e tabaco pode ser influenciado por fatores genéticos, sociais e emocionais. O abuso dessas substâncias ocorre quando há predisposição genética, ambiente social desfavorável ou problemas emocionais. Além disso, a dependência química está ligada a neurotransmissores como dopamina e serotonina, que, quando em déficit, fazem com que a droga gere uma falsa sensação de prazer e alívio, levando ao uso contínuo.

Sobre a natureza do vício, Karine destaca que ele tem componentes tanto físicos quanto psicológicos. Enquanto algumas pessoas usam substâncias para compensar déficits químicos no cérebro, outras recorrem ao álcool e ao cigarro para lidar com questões emocionais, como ansiedade, depressão e necessidade de pertencimento social.

Os principais gatilhos emocionais para o consumo incluem ansiedade, depressão e influências familiares, especialmente quando há histórico de consumo entre pais e avós. Além disso, a dificuldade de parar se deve à falta de reconhecimento do problema, já que o vício não é apenas uma questão de força de vontade, mas uma condição que altera o funcionamento do organismo e das emoções.

Entre as estratégias mais eficazes para superar o vício, a psicóloga destaca a psicoterapia, que ajuda na reconstrução da autoestima, controle da impulsividade e retomada do controle sobre as próprias decisões. O acompanhamento psicológico favorece o enfrentamento da dependência, permitindo que a pessoa recupere sua autonomia.

Sobre as leis relacionadas ao consumo de álcool e tabaco no Brasil, Karine acredita que há avanços na repressão, mas ainda faltam políticas públicas eficazes na prevenção e no tratamento da dependência química. Para melhorar esse cenário, seria necessário investir em mais profissionais e estratégias preventivas.

Por fim, ela aponta que a mídia tem grande influência sobre o consumo, principalmente entre os jovens. Redes sociais, séries e influenciadores muitas vezes romantizam o uso dessas substâncias, tornando-as mais atraentes para adolescentes que ainda não possuem maturidade para discernir os impactos do consumo abusivo.