Feira da Torre mantém viva a diversidade gastronômica nacional

Acarajé da Bahia, churrasco do sul e tacacá do Belém do Pará: comida para todos os gostos

Maximus José Lavers Hernández

Postado em 26/03/2025


Cleuza Pinheiro | Barraca da Mainha


A Feira da Torre de TV, localizada na região central do Plano Piloto, é um dos principais pontos turísticos da capital federal. São 580 boxes, com funcionamento de quinta a domingo.

No local é possível encontrar pratos típicos que representam as diversas regiões do país; uma presença que se relaciona com a história de Brasília, cidade construída em quatro anos pelos candangos vindos de várias partes do Brasil.

O acarajé, por exemplo, foi trazido da Bahia. Uma das primeiras a vender a comida aqui foi Mariana Lopes de Oliveira, que chegou na cidade em 1960. Em 1969, inaugurou oficialmente a Barraca da Mainha. A tenda por si só é um ponto turístico. Já recebeu inúmeras gerações de brasilienses, inclusive figuras públicas, como o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz, o atual governador Ibaneis Rocha (MDB), o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) e o atual, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Após o falecimento de Mainha, a filha Cleuza Pinheiro ficou responsável por manter a qualidade dos alimentos e a tradição familiar. “Eu compro os ingredientes de Salvador, o camarão vem de São Luís do Maranhão. Minha mãe sempre falava da qualidade; antes de falecer ela disse pra mim e pro meu marido: se não tiver como comprar do melhor, é melhor fechar a barraca”.

Antes de serem deslocados para onde estão hoje, a barraca ficava ao ar livre, em volta da Torre. O local foi tombado em 2011 e os feirantes foram transferidos para a parte de baixo. “Os antigos morreram de desgosto, minha mãe foi uma. Preferia morrer do que vender acarajé em caixote”, lamenta Cleusa.

Emocionada, ela passeia por memórias dos últimos dias da mãe. “Ela dizia que o acarajé, desde que o mundo é mundo, é livre, é vento. Nos últimos dias, me falou que quando partisse iria passar voando pela Mãe Torre; foi lá que a gente não passou fome.”

O vigilante Leonardo Manfredini Guerra, cliente fiel da Barraca da Mainha, também não gostou da mudança. “Esses quiosques de hoje em dia são industriais, não demonstram a raiz e a essência de Brasília.” Já a policial militar da reserva Priscila Riederer Rocha, que frequenta a Torre de TV todos os finais de semana, pensa diferente. “Apesar da mudança da torre parecer que perdeu a essência, a gente tem que tentar se adaptar a essa nova realidade. Existem muitas pessoas aqui talentosas com histórias maravilhosas, e isso é muito importante”.

Mas não é somente de comida nordestina que se vive a feira. O gaúcho Franklin Cortez Maia, nascido em Bagé, comenta sobre a presença do Rio Grande do Sul. “Fico muito feliz em representar o meu estado com o churrasco aqui em Brasília; há 39 anos faço isso, e espero continuar”.

Franklin Cortez Maia | Point da Torre

A gastronomia nortista também se faz presente: a barraca Delícias do Pará faz um dos tacacás mais vendidos da cidade. Fundado pela falecida Dona Jacirema, seus principais produtos são tacacá, pato no tucupí, açaí e maniçoba. Apesar de não ter nascido no Pará, a cozinheira Marinalda Silva é responsável por cozinhar e verificar a condição dos alimentos. “Nós sempre prezamos pela qualidade dos produtos, se a gente não achar que a comida transmite o gosto do Pará, a gente não vende.”


Em 2011, a Terracap construiu um novo espaço entre a Torre de TV e o Complexo Cultural Funarte. Essa mudança fez com que muitos feirantes perdessem seus pontos, principalmente pelo fato de ter uma nova administração e licitações.

Hoje, a organização do espaço passa pela Associação dos expositores da feira de artesanato da Torre de TV. Porém, em dezembro de 2024 o GDF (Governo do Distrito Federal) iniciou a elaboração do projeto de reforma da Feira de Artesanato da Torre de TV, ou seja, ainda vão ocorrer mais mudanças no espaço.

Segundo a vice-presidente da associação, Maria do Socorro, a instituição funciona como uma conexão entre quem quer um espaço na feira e o serviço social que licencia o estabelecimento. “Quando alguém tem interesse em adquirir um espaço nós vemos se algum comerciante que tem um ponto gostaria de vendê-lo. Existe uma fila e nós trabalhamos nessa relação de direcionamento, mas o jeito que funciona hoje pode mudar amanhã, sabemos que o GDF anda trabalhando em mudanças”.