Beliscar comida várias vezes ao dia pode provocar compulsão alimentar

Conhecido como grazing, hábito também prejudica a digestão

Cynthia de Carvalho Lima

Postado em 17/06/2022

O Grazing é um termo que vem do inglês e se traduz como “comida de pastoreio”. Entretanto, essa tradução traz pouco significado, sendo mais adequado compreendê-lo como uma prática de “beliscar” de modo contínuo mesmo quando o indivíduo está sem fome.  Essa alteração no hábito alimentar pode provocar diversos riscos para a saúde física e também mental, pois possui forte relação com a ansiedade. “Muitas pessoas não sabem lidar da forma correta com suas emoções e acabam descontando na alimentação, ou seja, o indivíduo não come apenas pela fome fisiológica, mas, sim, pela fome emocional”, explica a nutricionista Andressa Cabral.

De acordo com a nutricionista Maíra Attuch, o Grazing está associado àquele momento do dia em que as pessoas estão buscando alguma espécie de relaxamento. É mais comum de acontecer no final da tarde e da noite, quando, por exemplo, acaba o dia de trabalho e a pessoa começa a beliscar alimentos para compensar o dia cansativo. Esse hábito pode desencadear uma compulsão alimentar, ou seja, uma ingestão compulsiva de alimentos em um curto espaço de tempo.  Uma pesquisa realizada em 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que  4,7% da população brasileira sofre de algum transtorno de compulsão alimentar.

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”Uma das dicas para diminuir esse comportamento é planejar a alimentação da semana, tendo uma regularidade nos horários de refeição”, orienta Andressa Cabral

Quais fatores podem levar a esse comportamento?

De acordo com a psicóloga Analú Almeida, por trás desse comportamento pode ter ansiedade, depressão ou até mesmo transtorno compulsivo, cada caso precisa ser avaliado individualmente. “O paciente às vezes por não ter consciência do que seria sentir fome; ele vai beliscando ao longo do dia diversas vezes, como uma maneira de  suprimir algum sentimento ruim.”

Risco à saude

O hábito de beliscar continuamente, segundo Andressa, pode acarretar prejuízos para a saúde, principalmente no risco de desenvolver doenças crônicas como diabetes mellitus, hipertensão, obesidade, dislipidemias e doenças cardiovasculares. Geralmente, os alimentos escolhidos para essa prática são ultraprocessados e possuem alto teor de gorduras, energia, açúcares e sódio.

Uma outra questão é mais do ponto de vista digestivo: o corpo ele precisa de um descanso entre uma refeição ou outra, pois se leva algum tempo para fazer a digestão completa dos alimentos.” Se colocar comida o tempo inteiro no sistema digestivo ele vai estar recebendo muitas informações seguidas e não conseguirá ter um descanso para fazer a digestão corretamente. Esse tempo de descanso é muito importante para a melhoria do sono e funcionamento intestinal”, explica Maíra.

Cuidado

Analú orienta que as pessoas procurem ajuda terapêutica, como a terapia cognitiva comportamental, que trabalha o desenvolvimento de consciência de forma que o paciente identifique quais fatores o levaram a esse comportamento e como ele pode lidar com a questão. A partir disso se identificará a necessidade do paciente fazer uma reeducação alimentar e até mesmo o uso de medicamento para controlar a ansiedade.

Maíra aposta em refeições completas e nutritivas. “O ato de beliscar é um sinal de que o corpo não está tão bem nutrido; quando se faz refeições completas a tendência é não querer beliscar”. Ela também sugere procurar algo prazeroso que possa substituir esse comportamento compulsivo por outro que seja mais assertivo.