Isa Marques: de Sobradinho para um dos maiores festivais de rap do Brasil
“Quero que as pessoas sintam essa força de ter vontade, de fazer, de ser, de vencer, de ser você e seguir assim, sacou?”, pontua a artista.
Postado em 23/04/2025
Isabela Cristina Pereira Moreira Marques nasceu em Sobradinho, região administrativa do Distrito Federal, e é conhecida no cenário musical como Isa Marques — cantora, compositora e produtora musical. Formada em Gestão Pública, já trabalhou como operadora de caixa, professora e em agência de publicidade, além de ter cursado Ciências Sociais, na Universidade de Brasília, até o quarto semestre. Atualmente, a sobradinhense se prepara para subir em um dos maiores festivais de rap e trap do Brasil: o Festival Meskla.
Mano Brown, Djonga, Duquesa, Veigh, Kayblack, TZ da Coronel, Orochi, Cabelinho e Hariel são alguns dos nomes que preenchem o line-up do Festival Meskla 2025, marcado para o dia 17 de maio, na Arena BRB Mané Garrincha. Para Isa Marques, é uma honra compartilhar o mesmo palco com esses artistas renomados do cenário musical brasileiro. “Eu e minha equipe estamos prontíssimos para entregar um show cabuloso que faça as pessoas se conectarem”, declara a artista.
Sobre a relação com a música, Isa volta anos no tempo. Na infância, os pais costumavam escutar muita música, principalmente Música Popular Brasileira e Samba. “Meu pai tem um livro de poesias e minha mãe é artesã, então eles também já eram ligados à arte”, complementa a artista.
Ela relata que nunca houve um impedimento para que escutasse outros estilos musicais, como o gênero alternativo. O ambiente artístico dentro de casa foi uma forma de incentivo para Isa, que se sentiu atraída e começou os primeiros passos na música utilizando um violão antigo da mãe para aprender a tocar sozinha.
Ela relata ter uma forte relação com as palavras, principalmente com a criação de rimas, desde muito nova, mas foi na época da escola que essa conexão ganhou novos tons: “Eu gostava de ler poemas, poesias, coisas que rimam, que tinham uma métrica e um flow, mas eu não dava muita atenção. Depois que comecei a tocar violão, caí na real de que eu podia fazer as minhas próprias músicas, com minhas próprias letras sobre o que eu queria e pensava.”
“Foi esse momento que me deu um start e eu fiquei: ‘Caraca, eu posso fazer uma música’. Foi quando eu comecei a compor para criar algo”, relembra. “Antes, para mim a arte era uma coisa muito pessoal. Depois de um bom tempo, eu comecei a aceitar isso como um trabalho, algo que eu poderia ganhar dinheiro e investir.”

O ínicio
Na pré-adolescência, decidiu montar uma banda com amigos da escola. Quando aconteciam eventos comemorativos — como no Dia dos Pais ou no Dia das Mães — na instituição, Isa Marques conversava com a diretora, reunia sua equipe e preparava uma recepção musical. “Eu amo cantar e tocar, então, para mim, eu estava nas nuvens”, afirma.
Isa Marques decidiu que iria gravar as próprias músicas em casa. As primeiras produções da artista eram voz e violão, que mudaram após Isa conhecer Noze — produtor que trabalha com ela até os dias atuais. Conhecer alguém que já produzia beats e conhecia o universo da produção musical permitiu que a artista evoluísse musicalmente. “Foi nesse momento que minha arte e meu processo criativo ficaram mais complexos”, pontua.
Com o tempo, a artista foi aprimorando suas obras, explorando novos ritmos e palavras e descobrindo as infinitas possibilidades permitidas na música. As novidades vieram acompanhadas de intensos estudos e a descoberta de que poderia tomar a música como profissão.

Estúdio
Isa Marques decidiu abrir o próprio estúdio musical: a V A Estúdio. Ela relata que sempre realizou as gravações em casa e sempre amou produzir sozinha, tanto quanto com outras pessoas. “Eu gosto muito de ter meus momentos de composição e criação, só que eu sempre tinha que fazer um guia com uma ideia e depois ir no estúdio de música, pagar para produzir de uma forma melhor, pagar por uma mix, pagar pela marca…. tudo tem um profissional.”
A artista já produzia músicas em casa, mas não lançava por conta da qualidade — por não se tratar de um ambiente adequado para esse tipo de produção. Então, com a ajuda dos pais, decidiu investir intensamente na construção do estúdio em casa. “Comprei microfone novo, caixa de som e outros equipamentos. Ainda é simples, mas já consigo entregar uma qualidade mínima que eu quero, além de facilitar no meu estudo da música.”
“Ter um ambiente que é todo feito com seu trabalho e é direcionado para a arte, como o meu estúdio — onde tem todos os meus instrumentos e equipamentos —, deixa você mais entregue ao trabalho, do que, por exemplo, estar gravando no quarto. É um profissionalismo a mais, sabe? Você consegue entregar em um ambiente mais propício”, afirma.
Outro ponto é que ter o próprio estúdio permitiu que a artista não dependesse de outras pessoas, como ter de esperar alguém ter um horário para que possa acontecer a gravação em estúdio. “‘Ah, estou precisando fazer um trabalho hoje’, hoje mesmo eu consigo ir lá e fazer. Também consigo ajudar quando alguma amiga minha está precisando.”
“Esse ambiente é acolhedor, saudável e seguro para todas as pessoas da comunidade LGBTQIAP+ e para pessoas negras — que é o que eu represento. É um espaço para que pessoas como eu se sintam seguras para poder exercer sua arte, sem se preocupar com um homem branco fazendo coisas que um homem branco faz. Tudo isso em cima da nossa arte, do nosso sonho, toca de um outro jeito, sabe?”

Carreira musical
O ponto decisivo para seguir a carreira musical foi quando Isa lançou uma música e ela “flopou”. Independente dos números, a artistas decidiu que iria lançar outra faixa. “Meu próximo passo foi lançar outra música porque eu não consigo ficar sem fazer isso. Então, quando eu entendi que era sobre mim e não sobre algo que eu tinha que provar — porque esse mercado é muito louco —, foi o momento que eu entendi que dá para continuar, mais leve e sem se perder no caminho.
Através de suas músicas, Isa busca promover uma sensação de identificação sincera “e o empoderamento de que você pode e você consegue. Quero que as pessoas sintam essa força de ter vontade, de fazer, de ser, de vencer, de ser você e seguir assim, sacou?”, completa.
Para o show no Meskla, a artista garante que o público pode esperar o melhor de Isa Marques — toda energia, presença de palco e músicas contagiantes. “É um show para você esquecer seus problemas, se conectar de um outro jeito e deixar fluir”, declara.
Ela revela que um novo projeto está em curso: um EP com beats e flows alternativos, que as pessoas não estão acostumadas a ouvir muito no mercado atual. A artista acredita que essa nova fase será bem recebida e garante um forte investimento na Isa Marques que o público gosta bastante. “Vai ser um EP inteiro nessa pegada de um hip-hop agressivo, parecido com o ‘Conduta’, que foi uma música que o público gostou e quer ver mais”, afirma.
Isa Marques deixa alguns conselhos para quem deseja se inserir no rap. “Primeiro: não sinta vergonha do seu trabalho e da sua autenticidade. Segundo: não tente se encaixar em algo que as pessoas acreditam que você deva se encaixar ou que você deva fazer. Faça o que você acredita, no que você é bom, e não tenha vergonha de dar a cara. Infelizmente, quem não é visto não é lembrado.”
Ela também reforça os estudos. “Estude história e cultura. Escute pessoas mais velhas, entenda o que você representa e o que você está representando. E, musicalmente falando, estude flow e lírica.”