Brasil ocupa 5° lugar dentre os países que mais arrecadaram com premiações em torneios de E-sports

A expectativa é de que a receita total passe de US$227 bilhões em 2023 para US$312 bilhões em 2027.

Daniel Lima de Araujo

Postado em 23/04/2025

O primeiro torneio de e-sports foi realizado em 1972 na Universidade de Stanford, chamado “Intergalactic Spacewar Olympics”, e o prêmio era uma assinatura de um ano da revista Rolling Stone. FOTO: Daniel Lima

Em pesquisa realizada pela E-sports Earnings, especializado em estatísticas do esporte eletrônico, atualmente, o Brasil ocupa o 5° lugar dentre os países que mais arrecadaram com premiações em torneios do segmento, somando aproximadamente 394 milhões de reais. Em Brasília os campeonatos acontecem durante todo o ano e os atletas chegam a treinar por mais de oito horas seguidas por dia, além de estudarem detalhadamente os jogos.

De acordo com a Confederação Brasileira de Games e E-sports(CBGE), as principais categorias são jogos de esportes, battle royale, luta, FPS (First Person Shooters, ou Atiradores em Primeira Pessoa), além de jogos de estratégia, também chamados de MOBA (Multiplayer Online Battle Arena). Segundo dados da consultoria PwC, a expectativa é de que o esporte atinja um aumento de 38% e que passe de US$227 bilhões em 2023 para US$312 bilhões em 2027. 

Competições a todo vapor

Vitor Rizzy, jogador, narrador e parceiro das duas maiores produtoras de campeonatos em Brasília (Fliperama de verdade e IGXP) explica que as competições acontecem durante eventos como Anime Summit, Brasília Game Festival(BGF) e outros de cultura gamer e oriental. Conforme as diretivas oficiais das empresas de jogos, os locais sempre contam com todos os equipamentos necessários para a realização do esporte (consoles, controles e monitores). Além disso os games “são transmitidos ao vivo, com narração que mostra os melhores momentos, análises e também entrevistas, dependendo do evento”.

A IGXP sempre promove campeonatos que contam tanto com participantes que vão competir nas classificatórias quanto com pessoas assistindo presencialmente no auditório. A competição sempre é aberta ao público de forma gratuita, sendo realizada na 702/703 norte, no prédio Gamefica. Para mais informações sobre as competições, basta acompanhar as redes sociais da IGXP, onde são divulgados editais e datas de realização.

Alan Pires, narrador e ex-jogador de League of Legends, destaca que os formatos das competições podem variar, mas a estrutura básica inclui sistemas de chave mata-mata e de pontos. “Os 6 melhores times avançam para as fases finais, e existe a possibilidade de times derrotados continuarem na competição através da chave inferior”, explica.

Alan pontua que Brasília tende a divulgar diversos campeonatos em suas redes através de anúncios publicitários e também pela popularidade e demanda do público da cidade. “A minha recomendação mesmo é ficar ligado nas redes sociais do IGXP. A variação de modalidades e a divulgação deles é extremamente sólida”. A sede da Gamifica é o palco da IGXP e a melhor estrutura possível. Segundo os jogadores, eles recebem tanto o público casual que quer curtir uma gameplay quanto os players que têm o interesse em aperfeiçoar sua modalidade desejada.

Além de ficar de olho nas redes sociais de promotores de campeonatos, também é possível identificar os eventos a partir de grupos do Discord ou de páginas voltadas para os jogos, sejam elas das próprias empresas ou até mesmo grupos compostos apenas por participantes e jogadores.

Um esporte como qualquer outro

Alguns torneios de E-sports, especialmente de jogos como League of Legends ou Dota 2, podem ter partidas que duram até 3 horas ou mais, mas também existem modos de jogo rápidos como no Counter-Strike, com partidas durando entre 30 minutos e 1 hora. FOTO: Daniel Lima

No Brasil a CBGE, entidade sem fins lucrativos, é responsável por representar o país oficialmente junto a Global E-sports Federation. Eles oferecem o cadastro brasileiro de ciberatletas, considerado um dos meios para se tornar um atleta profissional dos esportes eletrônicos e fazer parte de uma organização. 

Brasília possui uma rica comunidade de ciberatletas, muitos dos quais têm sua trajetória iniciada de forma independente, sem vínculos com grandes organizações. Para Alan, os atletas de e-sports no Brasil estão longe de ser apenas jogadores casuais e afirma: “Joguei por muito tempo! Cheguei a atingir ranques bem notórios e disputei alguns campeonatos afora”. Os jogadores treinam por longas horas, buscam aprimoramento constante e competem em alto nível, além de ser necessário ter um profundo conhecimento do jogo e muito treinamento para se destacar nesse cenário.

Tiago Silva, 27 anos, é bicampeão brasileiro e também campeão e embaixador latino-americano de Just Dance. Em 2018, representou o Brasil no campeonato mundial realizado em Paris, período em que chegou a treinar entre seis e sete horas por dia, sem exceção. Segundo ele, os maiores desafios enfrentados até hoje foram internos, lidando com o cansaço físico e a insegurança diante de competidores desconhecidos. “O maior desafio ainda é a valorização da gente no mercado, principalmente quando se trata de Just Dance”.

Breno Brandão, gamer de 24 anos que iniciou sua carreira jogando Minecraft e depois passou por jogos como Counter-Strike e Fortnite, compartilha sua experiência ao falar sobre a rotina de um jogador profissional. “Quando competia, passava oito horas jogando e quando terminava, ainda assistia vídeos para aprender novas técnicas”. O treinamento é fundamental para quem quer se destacar, explica Breno, que hoje joga apenas por hobby, após alcançar uma fase profissional.

Dicas de ouro

Alan afirma que as disputas são bem acirradas, portanto é preciso treinar bastante e ler o regulamento da modalidade que deseja desempenhar. “Já vi alguns jogadores se confundirem com frequência e esquecerem de requisitos essenciais do campeonato”. Apesar da recomendação, ele acredita que a melhor forma de se especializar é se aprimorar no jogo de que o atleta mais gosta e tem facilidade, até porque isso auxilia o desenvolvimento e também deixa a situação de especialização no jogo menos desgastante.

Breno comenta que as pessoas costumam achar que a carreira gamer é composta apenas por diversão, porém, os treinos são exaustivos e longos. Um conselho que ele dá é ter certeza se é isso que você quer, “já vi muita gente que se frustrou mais pra frente, vendo que perdeu um tempo da vida dedicando a jogo e acabou não tendo um retorno”, conclui que essa carreira é igual a qualquer outro trabalho, você vai precisar estudar o jogo, as técnicas, movimentos e ainda praticar por longos períodos. 

Embora o cenário competitivo de e-sports seja altamente dinâmico e cheio de oportunidades, também apresenta desafios. Breno alerta para a importância da persistência e da resiliência no meio. “A persistência é crucial para quem quer seguir a carreira. Muitos se frustram por não alcançarem os resultados esperados, mas é fundamental não se deixar abalar e continuar buscando evolução”, diz.