Brasileiros vão para a Irlanda atrás de oportunidades

Entre desafios e descobertas, jovens cruzam o oceano em busca de novas experiências e trabalho

Hitallo Sousa

Postado em 18/06/2025

A Irlanda tem se consolidado como um dos destinos preferidos de brasileiros em busca de novas experiências, seja por meio de intercâmbio educacional ou da tentativa de uma vida mais estável. A facilidade relativa do visto de estudante, o custo-benefício do euro frente a outros países europeus, além da receptividade local, contribuem para que muitos jovens façam as malas e embarquem rumo a esse destino.

Nos últimos cinco anos, o número de brasileiros na Irlanda cresceu significativamente. Dados do Departamento de Justiça irlandês mostram que mais de 35 mil brasileiros vivem atualmente no país. Só em 2023, mais de 20 mil estudantes brasileiros estavam matriculados em cursos de inglês ou ensino superior na Irlanda, segundo a Education in Ireland, agência oficial do governo irlandês para internacionalização da educação.

Mas a experiência vai além das salas de aula. Murilo Dante, recém-formado em Arquitetura, é um dos brasileiros que enxergam no intercâmbio uma porta de entrada para novas oportunidades. Apesar de ter chegado recentemente, ele já percebe impactos significativos.

“Escolhi a Irlanda por influência de um amigo. Minha mãe comentou sobre isso e achei que poderia ser uma boa oportunidade. A princípio, minha primeira opção era os Estados Unidos, mas acabei me decidindo pela Europa”, conta.

Murilo destaca que, embora ainda não esteja estudando ou trabalhando, a convivência com uma cultura diferente já tem ampliado sua visão profissional. “A arquitetura daqui é preservada, cheia de história. Os materiais usados, o conforto térmico e o cuidado com os espaços públicos são coisas que me inspiram. Tudo isso me ajuda a pensar diferente como arquiteto”, diz.

Inicialmente, o plano era passar apenas oito meses. Mas, com a possibilidade de renovação do visto e até mesmo de ingressar em uma universidade ou pós-graduação, Murilo admite que pretende ficar mais. “Meu objetivo é continuar aqui ou ir para outro país. Não penso em voltar agora.”

Enquanto Murilo está em sua primeira experiência no exterior, Maycon Douglas tem uma relação mais longa e afetiva com a Irlanda. Ainda criança, foi levado para o país por seus pais, mas voltou ao Brasil depois de um tempo. Anos depois, com sua mãe e irmã morando na Irlanda, ele voltou já aos 19 anos, dessa vez para ficar.

“A primeira vez que cheguei, tudo parecia outro mundo. Fiquei impressionado com o preço das coisas, o trânsito organizado, o clima. Mas o que mais me marcou foi perceber que aqui eu podia enxergar um caminho possível para conquistar minhas metas”, afirma.

Maycon explica que, no Brasil, nunca chegou a trabalhar formalmente, mas acompanhava as dificuldades da mãe. “Ela trabalhava seis dias por semana, pegava ônibus lotado. Aqui, a qualidade de vida é outra. Um padrão que no Brasil exigiria uma formação superior, aqui é o básico. Minha prima, por exemplo, comprou um carro por 300 euros.”

Sobre o futuro, ele é direto: não pensa em voltar. “Minha mãe até cogita retornar ao Brasil um dia, mas eu e minha irmã não nos vemos mais lá. Amo o Brasil, mas me adaptei à cultura, ao clima, e às possibilidades que a Irlanda oferece.”

Apesar das motivações distintas, tanto Murilo quanto Maycon ilustram uma realidade cada vez mais comum: a do brasileiro que sai do país buscando algo temporário, mas encontra no exterior uma chance concreta de recomeçar. E, muitas vezes, essa escolha se transforma em permanência.