Seminário na UnB debate papel da comunicação na resistência democrática
Evento da ADUnB defende comunicação popular e crítica o domínio das big techs e o avanço da extrema direita nas redes.
Postado em 23/06/2025
Na quinta-feira (29/05),especialistas e ativistas se reuniram para refletir sobre como as redes sociais têm moldado o debate público e o comportamento político em um seminário na UnB. O encontro abordou os desafios enfrentados pela comunicação diante das ofensivas da extrema direita e das ameaças à democracia, além de destacar a importância de estabelecer conexões com coletivos nas redes sociais como forma de ampliar a mobilização.
Na primeira mesa, os participantes debateram o papel das plataformas digitais como arenas de disputa política. A professora Helena Martins, da Universidade Federal do Ceará (UFC), chamou atenção para o domínio de poucas empresas sobre o fluxo de informação. “O acúmulo de capital leva à formação de gigantes digitais, como Google e Meta, que dominam esse ambiente das redes sociais”, afirmou. Ela ressaltou que esses conglomerados controlam os algoritmos e, com isso, têm o poder de definir quais vozes ganham visibilidade — inclusive escolhendo se querem ou não promover desinformação.
A deputada federal Erika Hilton reforçou o alerta, apontando como a desinformação se espalha com facilidade em ambientes digitais, atingindo não apenas extremistas, mas também pessoas em situações de maior vulnerabilidade. “A informação mentirosa corre à velocidade da luz e não coopta apenas os fascistas extremistas, mas também os mais vulneráveis”, explicou. Além disso, ela destacou a importância de romper com uma comunicação elitizada: “A comunicação não acontece só entre políticos no Congresso, acontece também em uma mesa de bar com a boca mole de cachaça.”
Esse estilo de comunicação, que exclui aqueles que tiveram menos acesso a comunicação da conversa, é algo que foi destacado na segunda mesa como algo que afasta as pessoas da mobilização política coletiva. “A cultura capitalista é uma cultura individualista, que insiste que a solução dos problemas está no individuo e não no todo” explica Janelson Ferreira, dirigente nacional de comunicação do MST. Tanto ele quanto Claúdia Santiago jornalista e coordenadora do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) veem essa forma de pensar como algo que muitas vezes é mais apelativo para aqueles com menos condição, já que cria uma narrativa fácil de entender, de que “basta querer” ou “se esforçar mais” para mudar de vida, não que é necessário uma grande mudança em toda a sociedade.

Cláudia Santiago defendeu que enfrentar a lógica individualista imposta pela cultura capitalista exige investir em formação política e comunicação popular. Para ela, a desinformação e o afastamento das pessoas da política só podem ser combatidos com uma consciência crítica sobre os problemas sociais. “A transformação da atual realidade política parte da educação das massas sobre os problemas sociais”, afirmou a jornalista, destacando que essa educação é essencial para fortalecer a mobilização coletiva.
O seminário foi realizado no auditório da Associação de Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB) e contou com a presença de estudantes, professores, jornalistas, militantes e representantes de movimentos sociais. Para ampliar o alcance do debate, o evento também foi transmitido ao vivo pelo canal da ADUnB no YouTube, onde segue disponível para quem quiser assistir.