Economia Criativa movimenta R$ 10 bilhões por ano no DF
Para especialista, potencial é bem maior. Instabilidade nos mecanismos de financiamento e a burocracia excessiva para acessar recursos públicos desestimulam os pequenos produtores
Postado em 09/07/2025
Uma pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), tendo como base dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que o Distrito Federal é a segunda unidade federativa do Brasil com maior quantidade de trabalhadores no setor da economia criativa. O setor movimenta cerca de R$ 10 bilhões por ano — segundo dados do Panorama da Economia Criativa, desenvolvido pela Universidade Católica com a Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) —, ficando atrás apenas de São Paulo.
Segundo o Sebrae, economia criativa são modelos de negócios ou gestão que tem como base atividades, produtos ou serviços desenvolvidos pelo conhecimento, criatividade ou pelo intelectual dos indivíduos, tendo como foco o potencial individual ou coletivo para produzir bens e serviços criativos.
As atividades que fomentam a economia criativa transitam pelos setores da cultura, da moda, do design, da música e do artesanato, além da tecnologia e inovação — seja através do desenvolvimento de softwares, jogos eletrônicos e celulares. Televisão, rádio, cinema e fotografia também estão incluídas.
Riezo Almeida é economista, contabilista e professor e coordenador do curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário Iesb. Ele acredita que a economia criativa não é importante apenas para Brasília, mas para o país todo.
O professor aponta que as atividades mais fortes no Distrito Federal são as atividades relacionadas à tecnologia, inovação e cultura. Ele acredita que várias empresas privadas e públicas estão trazendo seus negócios para Brasília, trazendo consigo muitos elementos que contribuem para a economia local.
“O Sebrae é um forte ator, além da Secretaria de Economia Criativa e iniciativas privadas”, afirma. Especialmente na economia criativa, o governo do Distrito Federal tem bastante influência, ajudando na capacitação e fomentando diversas pesquisas.

(Crédito: Freepik)
O real potencial da economia criativa no DF
Rafael Moraes Reis, gestor de Políticas Públicas, mestre em Desenvolvimento Sustentável, pesquisador da Universidade de Brasília e do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia e coordenador-geral do Instituto Cultural e Social No Setor, acredita que o DF concentra um volume expressivo de profissionais altamente qualificados, uma juventude criativa e uma cena cultural vibrante — formada por artistas, designers, comunicadores e empreendedores.
“Além disso, o setor público, as universidades e as organizações sociais são grandes fomentadores de atividades criativas, seja através de editais, políticas públicas ou espaços culturais”, explica. “A tradição de Brasília como cidade de encontros e experimentações, aliada à diversidade cultural e às redes colaborativas, contribui para que a economia criativa seja uma das principais frentes de trabalho na região.”
Apesar de ter movimentado uma quantia expressiva em 2024, Rafael não acredita que o valor reflete todo o potencial da economia criativa no Distrito Federal, já que muitas iniciativas criativas e culturais seguem sendo invisibilizadas, especialmente aqueles que nascem nas periferias, nos territórios populares e entre grupos historicamente marginalizados.
“Os desafios são muitos e complexos. Em primeiro lugar, a instabilidade nos mecanismos de financiamento e a burocracia excessiva para acessar recursos públicos desestimulam os pequenos produtores”, pontua o gestor. “Além disso, há uma precarização das condições de trabalho e uma falta de reconhecimento das atividades culturais e criativas como essenciais para o desenvolvimento sustentável da cidade. Outro desafio é a ausência de políticas estruturantes que articulem cultura, educação e economia de forma sistêmica, promovendo a profissionalização do setor e a valorização das iniciativas locais.”
Outro ponto levantado são as tensões e os desafios na relação entre produtores culturais e o poder público, apesar dos avanços importantes — como o esforço de diálogo e construção conjunto, especialmente por meio dos conselhos de cultura e dos fóruns setoriais. Mas ainda falta maior sensibilidade do poder público para reconhecimento das especificidades do setor criativo, que demanda políticas mais ágeis, estruturadas e menos burocráticas.
“Acredito que as manifestações culturais de base comunitária e as expressões artísticas das periferias ainda são subestimadas, mesmo sendo essenciais para a dinâmica criativa da cidade. Além disso, áreas como o design circular, a economia do cuidado, as culturas digitais e os jogos eletrônicos ainda possuem grande potencial de expansão. O fortalecimento dessas frentes exige investimentos em formação, infraestrutura e políticas públicas que reconheçam a diversidade e a complexidade do ecossistema criativo brasiliense”, afirma.
Simplificar os processos de acesso aos editais de cultura, o ampliamento das linhas de financiamento para pequenos produtores, garantir ações de formação técnica e artística, a criação de um Plano Distrital de Economia Criativa — que sirva para articular políticas intersetoriais de cultura, educação, turismo e desenvolvimento econômico —, a criação de mais equipamentos culturais públicos, descentralizados, a fim de garantir o acesso à cultura em todas as regiões administrativas e potencializar a diversidade criativa do DF, são implementar formas de apoios e incentivos no cenário da economia criativa da capital.
Apesar das dificuldades, Rafael tem uma visão positiva em relação ao futuro da economia criativa no DF, já que cada vez mais a juventude se mostra mais engajada, empreendedora e conectada com pautas da sustentabilidade, da diversidade e da inovação. “Espero que o DF consolide políticas públicas robustas, que estimulem a economia criativa como um eixo estratégico de desenvolvimento. Também espero que haja um fortalecimento das redes colaborativas, da formação profissional e da infraestrutura cultural, para que possamos expandir ainda mais o impacto social e econômico das atividades criativas”, conclui.