Jovens brasileiros enfrentam crise climática com mobilização coletiva

Entre o medo do colapso e o desejo de mudança, jovens constroem uma nova política ambiental, nas ruas, nas redes e nos territórios.

Lara Vieira de Oliveira Lima

Postado em 18/06/2025

Jovens pelo Clima protestam pela preservação do Cerrado. Foto: arquivo pessoal

Um levantamento recente realizado pelo portal Eco, especializado em jornalismo ambiental, escancara um dado alarmante: 36% dos jovens brasileiros entre 15 e 29 anos não sabem em qual bioma vivem. A pesquisa, que ouviu mais de cinco mil jovens em todo o país, revela não só uma lacuna no conhecimento ambiental, mas também o distanciamento entre juventude e território, um distanciamento que, para muitos, só começa a ser superado quando há envolvimento coletivo.

“Se hoje não debatemos a pauta ambiental, não tem como debater mais nada. Está tudo interligado”, afirma Theo Louzada, jovem militante ecossocialista que integra o coletivo Juntos. Para ele, a crise climática escancara a urgência de uma ação coordenada e a juventude ocupa um papel central nessa mobilização. “Somos a geração que vai ter que levar esse debate até o fim.”

Essa percepção ecoa também na análise do geógrafo Dr. Hugo de Carvalho Sobrinho, Chefe da Assessoria de Educação Ambiental e Cidadania da SEMA/DF. Para ele, o crescimento da mobilização juvenil está ligado tanto ao contexto tecnológico atual quanto ao despertar de uma consciência crítica. “É perceptível o envolvimento dos jovens e suas motivações, mas esse protagonismo se relaciona ao desenvolvimento da tecnologia e das redes de comunicação no período técnico-científico e informacional em que vivemos. Um protagonismo que precisa sair do campo virtual e ir para o campo da prática, do real”, afirma.

O Juntos, coletivo do qual Theo faz parte, atua na defesa do ecossocialismo como saída radical frente às múltiplas crises — ambiental, social, política e econômica. A articulação vai além das fronteiras nacionais, conectando juventudes também nos Estados Unidos, Panamá e Porto Rico. “Queremos mostrar que a luta ambiental não está separada da luta por educação, por trabalho e por soberania. Tudo isso está vinculado a um modelo de desenvolvimento que, se não for superado, fecha as portas do nosso futuro”, completa.

Essa compreensão ampliada da crise também está presente no relato de Helena Falkenberg, 23 anos, participante do movimento Jovens Pelo Clima. Segundo ela, o despertar ambiental veio com o engajamento coletivo. “Foi quando me reuni com outras pessoas que me politizei de verdade. Em 2019, com as mobilizações internacionais puxadas pela Greta Thunberg, organizamos um ato em Brasília. A partir dali, fui entendendo a profundidade do problema e como ele se conecta com tudo: racismo, desigualdade, sistema econômico.”

Dr. Hugo destaca o papel central da educação ambiental crítica e humanista na formação de jovens conscientes e atuantes. “Essa formação necessita ser crítica no entendimento das relações que são travadas cotidianamente nos territórios. Espera-se que os espaços formativos conduzam os jovens a construírem uma consciência crítica sobre o seu papel no contexto da superação da devastação ambiental, bem como da degradação cultural e social que não se desvinculam das questões ambientais.”

Para Helena, a juventude carrega um “potencial revolucionário” ao pensar fora das lógicas de mercado e individualismo que moldam a forma dominante de encarar a crise ambiental. “A emergência climática não é um problema isolado. Ela é o sintoma mais visível de um sistema em colapso, de produção, de poder, de valores.”

Apesar do protagonismo juvenil, os obstáculos ainda são muitos. Helena aponta dificuldades como escassez de recursos, falta de reconhecimento e a sobrecarga emocional. “A gente está em espaços que não foram feitos para nós. É comum sermos infantilizados, desacreditados.” Do lado interno, ela reconhece desafios organizativos, como divisão desigual de tarefas e sensação de impotência. Para ela, a saída está no coletivo: “Se coletivizar é a primeira coisa. E também buscar referências, estudar, encontrar um propósito.”

Essas dificuldades são reforçadas por Dr. Hugo, que vê a falta de formação sólida e de investimentos em educação ambiental como um dos maiores entraves: “Implementar projetos que possuem potencialidade não se faz sem formação e investimentos financeiros. A falta de conscientização e ação concreta, os desafios políticos e estruturais, acesso limitado à educação e emprego estão entre essas dificuldades.”

Questionado sobre o papel do poder público, o especialista reconhece avanços, mas alerta que ainda há muito por fazer: “Embora existam políticas e programas voltados para apoiar os jovens nas pautas ambientais, ainda há um caminho a ser percorrido. Sabemos dos desafios e limitações que precisamos superar juntos para que possamos implementar e apoiar jovens nas questões ambientais.”

Para além da crítica, ele também propõe caminhos: “O fortalecimento perpassa a construção de outra mentalidade, principalmente a que coloca os sujeitos como Natureza. Não somos algo externo à Natureza, somos a própria Natureza! […] Acredito que esse fortalecimento se dará em eixos como a Educação Ambiental, participação em projetos, formação de redes de apoio, comunicação pautada na ciência, construção de conhecimentos e valorização da participação cidadã dos jovens.”

Com uma trajetória que inclui atos públicos, pesquisas sobre jornalismo ambiental e experiências internacionais, Helena acredita que a juventude tem um papel estratégico: pressionar, constranger e influenciar. “Quando ocupamos audiências públicas ou fazemos campanhas com argumentos fortes, mudamos a dinâmica. As pessoas em poder se sentem constrangidas, e isso faz diferença.”

Jovens pelo Clima participam de ato global pelo clima em Brasília. Foto: arquivo pessoal.

O primeiro ato dos “Jovens pelo Clima” reuniu cerca de 30 pessoas em frente ao Congresso Nacional. Desde então, a mobilização cresceu, se espalhou pelo país e continua ativa. A semente plantada naquele Dia da Terra hoje floresce em diversas iniciativas de engajamento juvenil.

Para Theo e Helena, o recado é claro: a luta ambiental precisa ser radical, coletiva e sistêmica. E a juventude, com toda sua potência transformadora, é peça-chave nessa travessia. Afinal, como diz uma das frases preferidas de Helena, “a terra não é aquilo que herdamos dos nossos mais velhos, mas sim o que pegamos emprestado dos nossos mais novos.”