Nayeri Albuquerque: vida dedicada ao futebol

Presidenta do Minas Brasília compartilha sua trajetória e o atual estágio de um clube que é modelo para o futebol feminino brasileiro.

André Lima Sacramento

Postado em 08/07/2025

Movida pelo amor ao futebol, pela busca por uma maior representatividade feminina na modalidade e por um sonho de irmãs, Nayeri Albuquerque chegou a um local “inimaginável”, como ela mesma classifica. Apaixonada por futebol desde criança, assim como a irmã gêmea, Nayara, elas deram os primeiros passos no futebol nas quadras de Brazlândia, região administrativa do Distrito Federal. O que parecia brincadeira virou coisa séria: passaram a competir profissionalmente, e conquistaram o Candangão Feminino de 2008, com a equipe do CRESSPOM.

Nayeri Albuquerque, presidenta do Minas Brasília

Anos mais tarde, o objetivo não era mais jogar, e sim desenvolver o futebol feminino na capital do país. Assim surge, em 2012, o Minas Brasília, uma equipe exclusivamente feminina, que viria a ser, anos depois, referência nacional, com as irmãs Nayeri e Nayara dividindo a presidência do clube. 

Apesar do início complicado da equipe, tendo em vista o investimento inexistente naquele período, o Minas Brasília veio galgando marcas gradativamente, conquistando o Candangão Feminino pela primeira vez no ano de 2016. Triunfo que voltaria a acontecer nos dois anos seguintes, além do inédito e histórico título do Brasileirão Feminino A2, em 2018, que representou não só o primeiro título nacional da história da instituição, mas também de todo o DF. 

Além do sucesso dentro de campo, o Minas Brasília se destacou desde a criação pelas categorias de base, realizando inúmeras peneiras por todo o DF, visando justamente a captação de jovens jogadoras com um grande potencial. A que mais se destaca no cenário nacional atualmente é Vic Albuquerque, atacante do Corinthians e que foi revelada justamente na base do Minas Brasília.

Nayeri e sua irmã conseguiram transformar o sonho de 2012 em uma realidade, e agora ela revela mais sobre a situação atual do clube, projeções futuras para a instituição, a sua satisfação com o projeto e sugestões para meninas que queiram trabalhar com o futebol feminino brasiliense.

O investimento no futebol feminino aumentou nos últimos anos, porém ele chega em equipes da segunda divisão? E qual o papel dos patrocinadores para a manutenção financeira do clube?

O investimento realmente vem crescendo bastante nos últimos anos, principalmente por conta da Copa do Mundo que vai ser sediada pelo Brasil em 2027. Porém, ele acaba ficando mais na série A1, que é onde os clubes de camisa e direitos televisivos estão concentrados, apesar da CBF ter propostas que vão entrar em vigor nós próximos anos que valorizam a série A2, como o mesmo formato da primeira divisão, por exemplo. Nesse cenário, os nossos patrocinadores são fundamentais para nós estarmos de pé, eu sempre falo que, se não fosse pelo BRB, a gente não existiria.

Treino do Minas Brasília no CECAF

Qual o estágio atual do projeto, levando em consideração estrutura, profissionais, etc? Existem projetos visando a melhora destes quesitos a curto prazo?

O nosso maior sonho é poder ter um CT e toda uma estrutura própria, porém atualmente ainda é um sonho um pouco distante justamente por precisar de um investimento maior. Mas nós possuímos parcerias, por exemplo, com o Minas Brasília Tênis Clube, que nós cede três campos de treinamento, e com o CECAF – Centro de Capacitação Física, que atualmente é o CT do time profissional, que também disponibiliza campos, banheiros, etc, tudo de muita boa qualidade.

Quais as projeções para o Minas Brasília dentro de campo? Acreditam em acesso e manutenção na primeira divisão?

Atualmente o nosso principal foco é o acesso para a série A1, nós acreditamos que, caso isso aconteça, as portas irão se abrir, tanto financeiramente quanto no âmbito de competições. Além disso, com a volta da Copa do Brasil para essa temporada, nós vamos ter a oportunidade de participar, e a expectativa é de fazer uma campanha bem digna, sem falar do Candangão, que é uma competição muito charmosa e vamos em busca do tetracampeonato neste ano. E é claro, vamos continuar com todo o nosso trabalho quanto a base, ampliando ainda mais essa formação de atletas para o cenário nacional.

Acreditava chegar aonde chegou quando idealizou todo este projeto juntamente da sua irmã?

Sendo bem sincera, não. Nós começamos lá em 2012, quando ainda éramos atletas, sem nem mesmo ter um uniforme para o time, com o principal objetivo sendo de garantir as próximas gerações de meninas, condições melhores que nós não tivemos quando jogávamos, e ver aonde a gente chegou, em tão pouco tempo, é realmente muito gratificante. No próximo dia 27 de junho vamos completar 13 anos de existência, é pouco tempo, mas nós conseguimos nos rodear de pessoas que queriam o melhor para o Minas Brasília, e conquistamos muitas coisas que de fato nem sonhávamos lá no início.

Treino do Minas Brasília no CECAF

Qual mensagem deixaria para meninas que sonham viver do futebol feminino, assim como você e sua irmã sonhavam?

É necessário que tenha muita persistência e resiliência, porque as dificuldades são muitas. Já é muito difícil fazer esporte aqui em Brasília, principalmente o futebol feminino, afinal nós sabemos que é um esporte majoritariamente praticado por homens. Estamos mudando agora esse cenário, mas sabemos que as dificuldades estão presentes no dia a dia, logo não pode desistir na primeira adversidade. Precisa se manter resistente, resiliente, ter muito amor pelo que faz, amar a modalidade e viver cada dia como se fosse um só, afinal é exatamente isso que fazemos aqui no Minas Brasília.