Descarte incorreto de cigarros eletrônicos libera resíduos e polui o solo

Mais de 62 milhões de toneladas de lixo eletrônico foram produzidas globalmente em 2022, mas só 22,3% tiveram destino adequado. No Brasil, o descarte de vapes avança sem regulação e ameaça o meio ambiente com lítio, plásticos e nicotina.

Ana Luísa Miranda

Postado em 25/06/2025

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil é o quinto país que mais produz lixo eletrônico no mundo. Foto: Freepik.

A crescente popularização dos cigarros eletrônicos têm revelado uma nova e perigosa camada do problema do lixo eletrônico global. Com dispositivos contendo metais pesados, lítio e plásticos tóxicos, o descarte inadequado desses produtos vem se somando a um panorama já alarmante: em 2022, o mundo gerou 62 milhões de toneladas de lixo eletrônico, um recorde histórico, conforme aponta o relatório Global E-Waste Monitor 2024, das Nações Unidas. Menos de um quarto desse total foi reciclado de forma adequada.

A tendência é preocupante. O volume de lixo eletrônico global cresce cerca de 2,6 milhões de toneladas por ano e deve atingir 82 milhões de toneladas até 2030. Pequenos aparelhos eletrônicos, como celulares, brinquedos e eletroportáteis, somaram 20,4 milhões de toneladas em 2022, mas apenas 12% desse montante foi reciclado. Dispositivos de telecomunicação e TI geraram 4,6 milhões de toneladas, com taxa de reciclagem de 22%. Além da contaminação ambiental, o prejuízo econômico é imenso: estima-se que 62 bilhões de dólares em matérias-primas reaproveitáveis, como ouro, prata e cobre, foram descartados em 2022.

Cigarros eletrônicos: ameaça invisível ao meio ambiente

Entre os resíduos que mais preocupam ambientalistas e gestores públicos estão os cigarros eletrônicos, especialmente os modelos descartáveis. Apesar de pequenos, estes dispositivos contêm cerca de 0,15g de lítio por unidade, além de componentes plásticos e resíduos de nicotina. Uma análise feita pela organização não-governamental Material Focus, divulgada em dezembro, mostrou que cerca de 8,2 milhões de cigarros eletrônicos são descartados toda semana no Reino Unido. 

No Brasil, estima-se que quase 3 milhões de pessoas consomem cigarros eletrônicos, os chamados vapes ou pods, apesar da comercialização desses dispositivos ser ilegal no país, informa o Ipec. Foto: Freepik.

O estudante Guilherme Junqueira, de 21 anos, é usuário de cigarros eletrônicos descartáveis há três anos. “Nunca soube onde ou como deveria descartar. Já joguei no lixo comum e sei que isso não é o certo, mas não há informações claras sobre o que fazer”, relata. No Brasil, ainda que a geração per capita de lixo eletrônico (7,8kg por habitante) esteja próxima da média global, a taxa de reciclagem na América do Sul é de apenas 2,7%, de acordo com dados da Statista. Isso reflete a carência de infraestrutura adequada para coleta, triagem e reaproveitamento desses materiais. 

Guilherme comenta: “Eu quase não vejo em Brasília lugares específicos para descartar lixo eletrônico. Eu acho que, além de conscientizar a população, o governo podia aumentar o alcance da coleta de eletrônicos.” Ao todo, o DF tem 106 pontos de coleta de lixo eletrônico, porém os pontos de entrega voluntária não são amplamente conhecidos pelos moradores.

Em Brasília, o programa RecicloTech, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti-DF), tenta preencher essa lacuna. Além de recolher resíduos eletrônicos, o projeto promove cursos de capacitação e realiza doações de equipamentos reaproveitados.

A falta de educação ambiental e de sistemas acessíveis de recolhimento contribui para que milhões de dispositivos acabem em aterros sanitários ou em locais inadequados, contaminando solo, água e até a cadeia alimentar. Imagens de lixões repletos de lixo eletrônico e gráficos que ilustram a cadeia de contaminação causada por esses resíduos mostram o impacto silencioso, porém devastador, dessa nova forma de poluição.