Enfermagem é liderança e cuidado na linha de frente
Chefe da UTI do Hospital de Base e professora no IESB, Luana Camaro reflete sobre a importância da valorização da enfermagem e da humanização no ambiente intensivo
Postado em 09/07/2025

A enfermeira Luana Camaro é atualmente chefe da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Base do Distrito Federal, uma das instituições públicas de maior referência no Sistema Único de Saúde (SUS). O hospital conta com 634 leitos e realiza mais de 17 mil internações e 12 mil cirurgias por ano. Além disso, Luana também atua como preceptora do curso de Enfermagem no Centro Universitário IESB. Sua presença em uma posição de liderança em um setor tão sensível reforça o papel estratégico da enfermagem na estrutura hospitalar.
No Distrito Federal, que possui 76,68 leitos de UTI por 100 mil habitantes, mais que o dobro da média nacional, de 36,06, o trabalho de lideranças como a de Luana é fundamental para garantir qualidade e humanização no cuidado intensivo. Com 14 anos de carreira, sendo nove deles dedicados à UTI do Hospital de Base, Luana afirma ter sido guiada desde o início pelo amor à área intensivista. A chefia do setor veio como um convite de uma antiga supervisora, que reconheceu seu potencial. “Foi uma oportunidade inesperada, que me desafiou e trouxe crescimento”, relata. Sua trajetória reflete uma tendência apontada por estudos sobre liderança em UTIs, que destacam a importância de perfis com competências técnicas e emocionais, além de uma postura participativa, para uma gestão eficiente em ambientes de alta complexidade.

Quais são os principais desafios de liderar uma equipe em uma UTI?
Gerir pessoas é a maior dificuldade. Pessoas que cuidam de outras pessoas são, ao mesmo tempo, as mais complexas de cuidar e o maior desafio da função.
Como você lida com o medo e a ansiedade dos pacientes e das famílias no ambiente da UTI?
Me coloco no lugar delas. Tento compreender como eu gostaria de ser compreendida. Quando agimos assim, tudo se torna mais leve.
E no caso dos pacientes conscientes, que enfrentam a solidão e o medo?
A psicologia entra com um olhar muito humano nessas situações. Existem vários protocolos para esse tipo de abordagem, e todos são colocados em prática com o apoio do terapeuta ocupacional.
Como é a comunicação da equipe de enfermagem com os familiares?
Nos mantemos neutros. Pacientes em estado grave e no ambiente da UTI precisam ter sua privacidade respeitada. E é isso que buscamos garantir sempre.
Como é a relação entre a equipe médica e a de enfermagem na UTI?
O médico não anda sem a enfermagem. Infelizmente, isso ainda não é totalmente compreendido. Mas temos novos gestores engajados e conhecedores dos direitos da enfermagem que estão fazendo a diferença no mercado.
Vocês passam por capacitações e treinamentos com frequência?
Sim, os treinamentos são constantes. Mensalmente, temos uma carga horária obrigatória a ser cumprida para manter todos atualizados.
Qual é a importância de ter uma enfermeira na liderança de um setor como a UTI?
Enfermeiros são ótimos gestores. Se o hospital quer ter sucesso, basta colocar enfermeiros à frente.
Você acredita que a enfermagem é uma profissão reconhecida como deveria?
Somos a profissão mais desvalorizada da atualidade. Enfrentamos baixos salários e uma carga de serviço imensa. O reconhecimento da parte médica é o que menos importa para nós…
Que tipo de formação você considera essencial para quem deseja liderar na enfermagem?
Graduação, pós-graduação e muita mão na massa.
E que conselho você daria para estudantes ou jovens profissionais da área?
Estudem, perguntem e sejam protagonistas da própria carreira. Sejam os melhores, pois o mundo está cheio dos iguais.