Apego aos bebês reborn pode revelar questões emocionais
Pata psicólogo, os bebês funcionam como um objeto de conforto
Postado em 14/07/2025

Desde o viral nas redes sociais, os bebês reborn – bonecas de recém-nascidos hiper-realistas – rapidamente tomaram conta da mídia brasileira, até mesmo ganhando um enredo inédito no remake da novela Vale Tudo (2025). O fenômeno não se restringe ao digital, considerando que, neste meio tempo, até propostas legislativas surgiram sobre o assunto.
No entanto, para algumas pessoas a febre dos bebês reborn vai muito além do que apenas a intenção de estourar na internet. Enquanto alguns enxergam cuidar de um bebê reborn como um hobby e outros como uma oportunidade para lucrar, há também aqueles que veem essas bonecas como uma forma de lidar com questões emocionais mais profundas.
Mulheres inférteis ou que tiveram perdas durante a gestação e pessoas que vivem em solidão e sofrimento emocional são exemplos disso. Os bebês reborn funcionam como um “objeto de conforto”, ajudando a pessoa a encarar o luto ou a ausência de vínculos afetivos. “Do ponto de vista clínico, essas bonecas não são só brinquedos. Elas podem representar tentativas, conscientes ou não, de preencher vazios emocionais, lidar com perdas ou reencenar vínculos antigos”, explica o psicólogo Luiz Antônio Evaristo.
Há também perfis no Instagram e no TikTok que publicam vídeos e fotos das bonecas e de seus respectivos usuários cuidando delas como se fossem filhos reais, lojas vendendo berços e roupinhas e “maternidades” disponibilizando incubadoras e até mesmo salas de parto para os bebês reborn foram abertas seguido da viralização. Algumas dessas postagens acabam disputando espaço com aquelas que mostram as rotinas de mães de recém-nascidos, gerando curiosidade, críticas, questionamentos e algumas vezes zombaria direcionados àqueles que possuem os bonecos.

Essa reação negativa se deve tanto à pessoas de fora que não entendem de fato qual é a situação por trás das publicações quanto aqueles que acabam se aproveitando da popularização dos bebês reborn – e consequentemente do que é uma terapia para muitos – para faturar e se promover na internet. “Hoje com essa febre, muitos, inclusive artistas, tiram proveito disso para ter engajamento e aumentar o cachê”, comenta o também psicólogo Rodrigo Alcântara. “E aí os holofotes e as manchetes começam a buscar essas informações e trazer esse conteúdo como uma forma de fofoca à respeito daquele artista em específico”.
“Diante do grande volume de notícias e conteúdos relacionados ao tema nas mídias sociais, acredito que no momento a questão esteja muito mais relacionada à mídia do que à saúde”, diz o psiquiatra Leonardo Miranda. “Embora eu seja leigo nos estudos sobre o digital, penso que comportamentos extremos ou desviantes das normas sociais tendem a gerar grande engajamento negativo”.