Jardinagem urbana traz equilíbrio e bem-estar

No Brasil, o mercado de jardinagem e paisagismo cresce de 8% a 10% ao ano

Hitallo Sousa

Postado em 14/07/2025

O cultivo de plantas em casa deixou de ser apenas um hobby e se transformou em um verdadeiro estilo de vida entre os brasileiros. Ao integrar saúde, estética e sustentabilidade, a prática ganhou força em apartamentos, varandas e quintais, acompanhando um movimento de reconexão com a natureza.

De acordo com uma pesquisa publicada na Revista Brasileira de Geografia Física — periódico científico da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)— mais de 74% dos entrevistados afirmaram ter plantas no quintal ou em casa.

No dia a dia, esse hábito gera impactos emocionais e práticos. Cuidar das plantas ajuda a aliviar o estresse, melhora a qualidade do ar e estimula uma alimentação mais natural. Para Ciro Neves, que cultiva bonsais em casa desde a pandemia, a atividade tem um papel terapêutico. “Ver crescer e aprender sobre as plantas me ajuda a me sentir presente e alivia a ansiedade”, relata.

A tendência verde também tem refletido no mercado. Segundo relatório da Data Bridge Market Research, o setor global de jardinagem movimentou cerca de US$ 7,95 bilhões em 2024, com previsão de atingir US$ 17,17 bilhões até 2032. No Brasil, o mercado de jardinagem e paisagismo cresce de 8% a 10% ao ano, segundo dados do Ibraflor (Instituto Brasileiro de Floricultura).

Viveiro Distrito Federal
Variedade de plantas floridas chama atenção no setor de vasos suspensos de um garden center em Vicente Pires Foto: Hitallo Sousa

Esse crescimento é sentido de perto por quem vive do setor. Para Elizeu Thiago, gerente da Transplantas Garden Center, o interesse disparou após a pandemia. “A pandemia nos ensinou duas coisas: que é possível vender e que o produtor aprendeu a trabalhar. Triplicamos as vendas, mesmo com produtos 200% mais caros”, afirma. Hoje, a empresa realiza vendas para diversos estados, via WhatsApp, Instagram e grupos com clientes frequentes. Entre as plantas mais vendidas estão begônias, girassóis, moréias e ervas como o alecrim.

Além das plantas ornamentais, hortas caseiras e temperos frescos têm ganhado espaço entre iniciantes e entusiastas da jardinagem urbana. Espécies comestíveis como manjericão, alecrim e hortelã são ideais para quem busca praticidade e uma alimentação mais natural. Já entre as plantas decorativas mais populares para ambientes pequenos, destacam-se as suculentas, a jiboia e a espada-de-São-Jorge, conhecidas por sua resistência e fácil manutenção.

Outro destaque são as PANCs (plantas alimentícias não convencionais), como ora-pro-nóbis, taioba, bertalha e capuchinha, que têm alto valor nutricional e podem ser cultivadas facilmente em vasos, ampliando as possibilidades de cultivo mesmo em espaços reduzidos.

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Ambiente repleto de plantas de pequeno porte e folhagens para espaços internos ou varandas residenciais Foto: Hitallo Sousa

A busca por plantas nativas também cresceu. Mariana Siqueira, arquiteta paisagista e idealizadora do projeto Jardins de Cerrado, viu esse movimento nascer de um pedido inusitado. “Em 2015, uma cliente me pediu para fazer ‘um jardim bem do Cerrado’. Não encontrei as plantas que precisava, e foi aí que o projeto começou.”

Hoje, ela observa uma mudança concreta no mercado. “Há menos de dez anos, a ideia de jardins com plantas nativas era recebida com incerteza. Agora, a procura só cresce.”

Mariana acredita que cultivar plantas nativas é uma forma poderosa de bem-estar e conexão. “São atividades que podem contribuir para uma possível desaceleração, tão necessária em tempos digitais, assim como para o cultivo da presença, para o contato com os sentidos, com o sentir.”