Conselho Tutelar do Gama completa 16 anos de luta contra o abuso infantil

Iniciativas combinam educação preventiva e ação comunitária para proteger os direitos infantojuvenis no DF

Iago Nava e Silva

Postado em 03/06/2025

No Distrito Federal, a campanha “Faça Bonito” ganha contornos próprios através da atuação do Conselho Tutelar do Gama, que há 16 anos desenvolve ações para enfrentar o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes. As atividades incluem blitz educativas, caminhadas e contações de histórias que percorrem escolas e espaços comunitários.

“Uma criança bem formada, que conhece o seu próprio corpo e seus limites, conhece o que pode e o que não pode, principalmente no ‘toque do sim e do não’, são crianças que não são vítimas de abuso. E se são, vão deixar de ser, porque começam a entender o que é abuso”, afirma Ana Maria Soares, Conselheira Tutelar do Gama-DF.

O trabalho preventivo passou a contar com o apoio de uma ONG local chamada Voar, que desenvolve contações de histórias profissionais nas escolas. “Os artistas vão até as escolas e contam a história do Pippi e da Fifi, falando justamente sobre como se proteger, sobre o toque do sim e o toque do não”, explica a conselheira.

Um dos problemas identificados pela conselheira é a naturalização de comportamentos abusivos. “Muitas crianças e adolescentes que atendemos dizem que não sabiam que era abuso quando alguém pede para elas sentarem no colo, mesmo que não queiram, ou quando são beijadas à força”, relata Soares.

A conselheira destaca ainda a importância de desconstruir justificativas comumente usadas para culpabilizar as vítimas. “Não é porque uma criança está de short curto ou saia curta, ou porque é ingênua, que ela precisa ser abusada por parte de ninguém, seja pai, padrasto, tio ou avô”, enfatizou.

Desafios estruturais

Embora não existam dados oficiais sobre o impacto das ações no número de denúncias na região, o Atlas da Violência 2025, divulgado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revela a dimensão do problema: 13 crianças e adolescentes são vitimados a cada hora no Brasil, totalizando 115 mil casos anuais.

Além disso, o ambiente virtual apresenta desafios específicos. Autoridades têm se infiltrado em plataformas digitais, especialmente no Discord, para combater crimes como chantagem com fotos íntimas, indução à automutilação e estupro virtual. Só nos primeiros quatro meses de 2025, 612 foragidos por crimes sexuais contra crianças foram capturados, e 113 vítimas foram resgatadas entre janeiro de 2024 e março de 2025.

Dessa forma, o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil, celebrado em 18 de maio, completa 25 anos dessa luta. A data homenageia Araceli Crespo, menina de 8 anos brutalmente assassinada em 1973, caso que se tornou símbolo da luta pelos direitos infantojuvenis.