GDF assina concessão da Rodoviária; movimentos sociais alertam para impactos da medida
Milhares de pessoas utilizam a rodoviária todos os dias.
Postado em 27/05/2025
A Rodoviária do Plano Piloto, ponto central de circulação, encontros e diversidade em Brasília, teve sua administração transferida à iniciativa privada. O contrato, assinado entre o Governo do Distrito Federal (GDF) e o Consórcio Catedral, garante a concessão por 20 anos e promete melhorias na estrutura e nos serviços oferecidos. No entanto, especialistas e movimentos sociais alertam para os impactos da medida na vida cotidiana da população, especialmente dos mais vulneráveis.
Para Luiz Eduardo Sarmento, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-DF), a decisão pode custar caro à cidade. “A rodoviária é o coração do Plano Piloto e tem sido, historicamente, o espaço mais diverso e mais vivo daqui. É um local em que a população que não consegue viver ou ter um comércio no Plano Piloto consegue usufruir e estabelecer relações sociais no coração da cidade”, afirma. Ele critica a lógica do lucro por trás da concessão: “A privatização pode impactar profundamente a vida dessa população, pois, uma vez privatizado, o espaço passa a ser regido por interesses comerciais, e não mais por valores sociais ou históricos. O que prevalece é o lucro que o metro quadrado pode gerar para o concessionário”.

Pedro Burity, do Movimento Passe Livre, também se mostra preocupado. “Tradicionalmente, a Rodoviária do Plano Piloto é um lugar vivo, com muita história, um ponto de encontro entre as pessoas. Muita coisa acontece lá”, diz. Ele teme que o espaço perca sua essência. “Com a privatização, a Rodoviária vai se tornar cada vez mais comercial. Já vemos concessões acontecendo e o espaço ficando mais morto. A repressão a vendedores ambulantes vai aumentar, o acesso vai se tornar mais difícil, e isso pode afastar a população”, alerta. Segundo ele, mais de 300 vendedores ambulantes ocupavam o local em 2020.
Nem todos, porém, são contrários à medida. Para a empresária Gabriela Catelli, a mudança é positiva: “A iniciativa privada pode trazer uma nova cara para a rodoviária, com mais organização e segurança. É preciso modernizar e cuidar melhor daquele espaço”. João Pedro Henriques, estudante de administração, concorda: “A concessão é uma forma de otimizar a gestão. O poder público não dá conta de tudo. Se houver fiscalização, pode ser uma grande melhoria para todos”.
Já Maria Luiza Tavares, moradora do Entorno, vê com preocupação: “Privatizar é afastar ainda mais o povo. Eu uso a rodoviária todo dia, e não quero ver esse lugar virar mais um shopping”. Leonardo Lopes, estudante, também critica a mudança: “Uso a rodoviária para ir e voltar da universidade. Se ela se tornar um espaço mais caro e fechado, muita gente como eu vai ser prejudicada”.