Bobbie Goods: livros de colorir viram febre nas redes e alternativa para relaxar longe das telas
Com estética fofa e personagens carismáticos, coleção criada por Abbie Gouveia impulsiona novo boom dos livros de colorir entre jovens e adultos, promovendo bem-estar emocional e diminuindo o uso excessivo do celular
Postado em 08/07/2025

Nas últimas semanas, uma nova febre tomou conta das redes sociais — e, surpreendentemente, longe das telas também. Os livros de colorir da marca Bobbie Goods, criados pela artista canadense Abbie Gouveia, se tornaram um fenômeno entre crianças, adolescentes e adultos ao redor do mundo. Com ilustrações em preto e branco de ursinhos, gatinhos e outros personagens fofos em cenas do cotidiano — como cozinhar, passear ou tomar café —, os livros viralizaram no TikTok, onde a hashtag #coloringbook já ultrapassa 840 mil publicações.
A popularidade não se limita ao ambiente digital. De dezembro de 2024 a março de 2025, mais de 150 mil livros de colorir foram vendidos no Brasil, segundo dados da Nielsen Bookscan. O sucesso da Bobbie Goods impulsionou ainda o mercado de materiais artísticos, com um aumento expressivo na venda de canetas coloridas, marcadores e lápis de cor — especialmente kits que acompanham os livros.
Mais que passatempo, a prática de colorir ganhou força como um refúgio emocional. Em um mundo cada vez mais hiperconectado e imediatista, atividades analógicas, como pintar, bordar ou montar quebra-cabeças, vêm sendo resgatadas como formas de desacelerar e promover bem-estar. O psiquiatra Fábio Aurélio Leite, do Hospital Santa Lúcia Norte, em Brasília, destaca os benefícios emocionais da pintura: “Ela sempre foi uma forma de expressão não só artística, mas psíquica. Na infância, a pintura é uma linguagem; no adulto, resgata esse brincar de forma mais discreta e segura emocionalmente”, disse.
Segundo o especialista, colorir ativa memórias afetivas, promove o relaxamento e pode até melhorar a comunicação interpessoal, especialmente quando a prática é feita em grupo ou em locais públicos, como cafés e bares que oferecem esse tipo de atividade. “É uma forma de substituir o celular, desconectar e se reconectar com o presente”, afirmou.

(Foto: Arquivo Pessoal)
A estética dos livros Bobbie Goods também colabora para o impacto positivo. Os traços suaves, arredondados e os personagens simpáticos ativam no cérebro respostas de afeto e conforto. A professora Daiany Guedes, 28 anos, é uma das adeptas da prática. Para ela, colorir virou um ritual de autocuidado. “Quando eu estou ansiosa, penso: ‘vou chegar em casa, tomar um banho quente e pintar meu Bobbie Goods’. Isso já me acalma no trabalho. Eu sei que no fim do dia vou estar bem, porque vou estar pintando”, conta.
Daiany conta que a atividade também despertou sua criatividade de infância. “Não gosto de pintar de qualquer jeito. Pesquiso estampas, referências, estudo o círculo cromático. Parece bobo, mas me deixa muito empolgada e feliz”, contou. O hobby se expandiu para momentos de convivência — ela convida amigas para pintar com ela em parques e cafeterias. “É um momento de inspiração e troca. Até meu olhar para o mundo mudou. Vejo uma árvore florida e penso: quero reproduzir isso no meu Bobbie Goods”, completou.
Apesar dos muitos benefícios, especialistas alertam que a prática não é para todos. Pessoas com traços de perfeccionismo ou ansiedade exacerbada podem sentir frustração ao não alcançarem o “resultado ideal”. Por isso, o foco deve estar no processo e não na performance. Como alternativa, atividades como escrita criativa, leitura, bordado, Lego, origami e montagem de quebra-cabeças também oferecem os mesmos benefícios: desaceleração, concentração e prazer criativo.
Depois do sucesso do Jardim Secreto, de Johanna Basford, em 2015, os livros de colorir retornam em uma nova onda, agora impulsionada pelo apelo visual e emocional dos tempos atuais. Em meio à vida acelerada e às notificações incessantes, colorir se torna mais que passatempo: é um ato de cuidado com a saúde mental. E, como Daiany resume bem, “parece uma coisa simples, mas que tem um impacto imenso no meu bem-estar. No fim do dia, eu só quero escolher uma cor e pintar”.