Falta de representação de personagens negros em jogo gera descontentamento
Usuários chegaram a fazer uma petição reivindicando a correção por parte dos desenvolvedores da empresa HOYOVERSE
Postado em 18/06/2025

O lançamento da versão 5.6 do popular e controverso Genshin Impact (2020) chamou a atenção de muitos jogadores que haviam anteriormente abandonado o jogo. O principal motivo é o retorno da história principal à região de Mondstadt, considerada por muitos como o coração do jogo. Esta versão, intitulada “Paralogismo”, pode ser vista como um sopro de ar fresco depois do certo fiasco que foram as versões prévias relacionadas a Natlan, região lançada no ano passado e cercada por inúmeras polêmicas.
Apesar de não ter sido o único fator que contribuiu para a desistência de vários jogadores de longa data do Genshin, o grande catalisador foi o descuido e até mesmo insensibilidade por parte da HOYOVERSE – empresa responsável pelo jogo – na representação da região e de seus personagens. Natlan, tendo referências culturais da África e da América Latina pré-colonial, decepcionou inúmeros fãs quando foi revelado que a grande maioria do seu elenco de personagens jogáveis eram brancos e que tinham a pele mais clara do que deveria ser.
Seguido disso, no site change.org foi criada uma petição para acabar com o constante whitewashing presente nos jogos da HOYOVERSE que pedia uma representação cultural melhor dos personagens de Natlan, atualmente com mais de 125 mil assinaturas. “Pelo fato do lugar ser inspirado na África, a gente esperava o mínimo, mas nem isso eles [os desenvolvedores do jogo] fizeram”, comenta a estudante de design de animação Larissa Campello. “Nem foi só a questão de todo mundo ser branco, mas é como se tivessem pego esses elementos importantes e usado só como uma estética”.
Essa irresponsabilidade (e desleixo) na representação de pessoas negras no universo dos jogos gacha – tanto em aspectos culturais quanto em seus designs e aparências – é bem frequente. O que é mais comum de acontecer são casos de orientalismo, que é uma visão distorcida, estereotipada e muitas vezes sexualizada da cultura oriental, mas especificamente do Oriente Médio (A Nilou e a Dori de Genshin Impact, a Susannah de Honkai Impact 3rd e a Stargazer de Path to Nowhere são exemplos disso). E apesar das muitas críticas feitas pelo público de seus respectivos jogos, grande parte delas, senão todas, são ignoradas pelas empresas e seus desenvolvedores – visto que isso ainda se faz presente até hoje.
Com o decorrer do tempo, foi se percebendo de extrema importância a representação de pessoas não-brancas em papéis de protagonismo no audiovisual, considerando que muitas vezes essas pessoas ficam com funções secundárias, menores e até mesmo de antagonismo e alívio cômico. Em quase todas as vezes esses personagens não são dados a chance de se expandirem, ganharem profundidade e se tornarem mais do que a sua função principal no enredo de uma história. E o caso de Natlan em Genshin Impact só mostra mais ainda o quão nociva a representação de inúmeras culturas e seus costumes feita pela metade e inclusive mal-feita pode ser. “Na época que anunciaram, eu estava com grande expectativa, e principalmente que iria ter representatividade brasileira. E eu jogava fazia dois anos”, relata Geovana Nascimento, também estudante de design de animação. “Depois que chegou o trailer de Natlan com a Mavuika [uma das personagens], eu fiquei triste e até com raiva”.